Entrevista com Abel Pereira

«Quando me sentia triste só pensava que estava a jogar no melhor clube do Mundo, onde sempre sonhei jogar...»

O defesa central dos Juvenis A, Abel Pereira, é o meu novo entrevistado. Com bastantes semelhanças na forma de jogar com o seu ídolo, Ricardo Rocha, Abel Pereira demonstra características extremamente interessantes para vir a ser um central de grande qualidade. Fortíssimo no desarme, muito culto tacticamente, é uma peça fundamental dos Juvenis. Demonstrou um grande amor pelo Sport Lisboa e Benfica, e mostrou-se sempre muito humilde ao longo da entrevista, nunca esquecendo quem primeiro acreditou nele: O Pai.



Nome completo: Abel José Carvalho Pereira 
Idade: 17 (1990-04-15) 
Nacionalidade: Português 
Internacionalizações: 6
Posição: Defesa central
Jogador preferido: Cannavaro e Ricardo Rocha

Como começou a tua vida futebolística?
Tudo começou quando tinha 7 anos. O meu pai, que na altura treinava os Juniores do clube da minha terra, o Atlético Clube Alijoense, convidou-me para vir jogar para o clube e eu aceitei.

Quanto tempo estiveste no Alijoense?
Joguei lá até aos 10 anos e consegui o título de campeão distrital no último ano em que joguei com a camisola do Alijoense, o meu segundo ano de Escolas. A partir dessa altura comecei a ver que queria tentar seguir uma carreira no futebol, onde actuava como ponta-de-lança e marquei 72 golos na minha última época.

Como se deu a tua saída do Alijoense?
Na minha primeira época de Infantil o meu pai voltou a perguntar-me se queria tentar a minha sorte noutro clube, o Abambres Sport Club que pertence à Associação de Futebol de Vila Real. Eu disse que sim, e realizei uma época inteira mas já mais recuado no terreno, como extremo direito ou médio centro.

E foste para o Boavista no teu segundo ano de Infantil?
Sim. Eu falei com o meu pai, que sempre acompanhou de perto a minha vida futebolística e aconselhou-me a ir lá treinar, pois apesar de saber tão bem como eu que seria complicado conseguir um lugar, sempre me considerou um jovem com valor. Tentei a minha sorte e acabei por ficar.

A primeira época no Boavista correspondeu às tuas expectativas?
No início foi tudo bastante complicado. Sofri uma enorme mudança de vida, pois deixei uma vila para ir para uma grande cidade como é o Porto. Tive obrigatoriamente de deixar os meus amigos, fiquei sem a companhia dos meus pais, do meu irmão, dos meus avós… Foi muito difícil! Depois de ter começado a jogar no Boavista, alterei novamente a posição, desta vez para trinco, de onde passei para defesa central. Nas primeiras semanas falei com o meu pai e disse que queria ir embora pois entendia que a minha posição era a de avançado. Mas como sempre, foi o meu pai que me ajudou e disse que se estava a jogar numa nova posição, é porque seria melhor para mim e para o meu futuro. Depois correu tudo lindamente, pena foi não termos conseguido vencer o campeonato distrital de Infantis. Ganhou o Porto…



Na época seguinte, já Iniciado, eras regularmente convocado para a equipa do Nacional correcto?
Sim, fui convocado várias vezes.

Na época seguinte, já Iniciado de 2º ano, representaste a AFPorto no Torneio Lopes da Silva… Achas que foi a partir desse torneio que as pessoas começaram a ficar de olho nas tuas capacidades?
Sim, completamente, mas também se deveu à terceira fase que fiz pelos Iniciados do Boavista no Nacional. Foi sem dúvida uma das minhas melhores épocas.

Nessa altura tiveste algum convite de outro clube?
Depois do Torneio Lopes da Silva existiram rumores de uma possível mudança para o Porto ou para o Sporting, com maior incidência no Porto. O Boavista não me deixou sair, e eu também nunca liguei muito a isso pois sentia-me bem no clube onde estava e a minha obrigação era trabalhar.

Talvez para chamar a atenção do clube do coração? (risos)
Obviamente, porque esse foi o meu grande sonho, jogar no grande Benfica!

Quando, e de que forma, surgiu o Benfica?
Tudo começou quando cheguei de um Torneio da Selecção Nacional de sub-16. O Sr. Bruno Maruta telefonou-me e perguntou-me se estava interessado em vir para o Benfica. Eu não podia ter outra resposta se não um sim prolongando! (risos).

Como se deu a tua mudança para o Seixal e para o Benfica?
Para mim mudar já não seria estranho, pois já estava longe quando jogava no Boavista. Custou um pouco porque deixei lá grandes amigos, e quando entrei no Centro de Estágio arrepiei-me por completo. Quando me sentia triste, só pensava que estava a jogar no melhor clube do Mundo, o clube onde sempre sonhei jogar e aí tudo começou a ser mais fácil, tendo a minha família ajudado imenso para que ultrapasse todas as dificuldades.

Quais as principais diferenças que encontraste quando chegaste ao Benfica, em relação ao que estavas habituado no Boavista?
O Benfica tem outra dimensão que o Boavista não tem. Jogar no Benfica e viver no Centro de Estágio é um sonho tornado realidade, ou seja, o Benfica é melhor em tudo. No entanto, não posso tirar mérito ao Boavista pois foi um clube que me ajudou imenso e agradeço muito por isso. Se não fossem eles a acreditar em mim, possivelmente hoje não estaria a concretizar este grande sonho que é jogar no maior clube do Mundo: O Benfica!



Como correu o início de época a nível individual?
No início foi muito complicado pois tive de ser logo operado ao pé. Ou seja, vim para o Benfica e comecei logo em tratamentos, perdendo a pré-época. Mas ao estar parado, e a regressar progressivamente aos treinos, ganhei ainda mais vontade de trabalhar a cada treino que passava, e a partir daí, tudo começou a correr às mil maravilhas. Tanto que no final do primeiro jogo que fiz pelo Benfica, num torneio em Espanha, o treinador deu-me o grande privilégio de ser um dos capitães da nossa equipa, dando provas que o meu esforço estava a ser reconhecido. A partir desse momento, a vontade de trabalhar é cada vez maior para atingir os meus grandes objectivos que passam por um dia jogar com o número 33 no Estádio da Luz.

Quais os teus grandes objectivos no futebol?
O meu grande objectivo é um dia jogar no grande, no fantástico, no fabuloso Estádio da Luz (risos). A partir desse momento, o meu grande objectivo está a ser concretizado! Porque se tiver essa oportunidade, irei agarrá-la, como se costuma dizer, com unhas e dentes.

O teu amor pelo Benfica é tão grande que te permite jogar sempre de águia ao peito, mesmo com convites de outros grandes clubes europeus?
O meu amor pelo Benfica é grande demais, mas claro que se um dia houverem melhores propostas, e se for melhor para mim e para o Benfica, talvez possa sair. Mas no caso de ser jogadores de futebol e essa situação se verificar, quero acabar no meu grande glorioso porque jamais irei trair este clube que tanto amo. Eu jogo com grande amor a esta camisola, e terão sempre de mim muito trabalho e dedicação.

Como avalias a época actualmente realizada pela vossa equipa?
Digamos que tem sido uma época muito positiva. Tanto a nossa equipa como a equipa técnica têm imenso valor e acredito que este ano conseguiremos vencer todos os desafios propostos e, dar uma grande alegria à massa adepta do grande glorioso. Ser campeão no primeiro ano em que vim para o Benfica seria mais do que fantástico.

Qual o treinador que mais te marcou na tua vida desportiva?
O treinador que mais me marcou foi o mister Aires, que percebia muito de futebol. Ajudou-me imenso no primeiro ano em que joguei futebol e é uma pessoa com que ainda hoje falo, sendo também um grande benfiquista. Mas claro, sem tirar mérito a outros grandes treinadores que tive, como o Mister Moinhos e o Mister João no Boavista. Quero também salientar o nosso grande mister actual, João Couto, que veio ajudar muito a nossa equipa.

Sentes que merecias uma chamada à selecção sub-17?
Não é uma coisa que me afecte muito. Sinto que tenho valor, agora, se eles não me chamam é porque sentem que não precisam de mim. Mas vejo exemplos de outros jogadores que nunca foram a nenhuma selecção na juventude e que agora são grandes profissionais de futebol, como o meu grande ídolo, o Ricardo Rocha. Só tenho é de trabalhar sempre mais no glorioso e ignorar tudo isso.



És um jogador que tem algumas semelhanças com o Ricardo Rocha na forma de jogar. Quais são as tuas principais características?
Acho que dou tudo dentro de campo, tal como ele (risos). Não sei dizer mais, mas uma coisa posso prometer, é que a cada dia que passar, mais irei trabalhar para um dia ser como ele. Vejo nele um grande exemplo de trabalho, esforço e dedicação e irei trabalhar para ser, se possível, igual a ele!

Quais as principais vantagens que o Centro de Estágio e Formação oferece aos jogadores?
Para termos uma boa formação temos de abdicar de muitas coisas, como não convivermos com os nossos familiares, mas como tudo na vida, temos de fazer sacrifícios e esse é um deles. Acho que o Centro de Estágio tem belíssimas condições para sermos grandes homens e grandes profissionais.

Quais as tuas ambições para os primeiros anos como Sénior? Esperas vingar imediatamente no Benfica?
Irei trabalhar para que isso aconteça o mais rapidamente possível. Se isso não vier a acontecer, há que continuar a trabalhar com a ambição de um dia estar a representar o grande glorioso. Mas é lógico que irei trabalhar sempre para lá estar no primeiro ano de Sénior.

A tua família sempre acompanhou a tua carreira desportiva? Quem mais te acompanhou e quais os conselhos que te deu?
Toda a minha família me ajudou, mas devo muito aos meus pais que sempre me acompanharam desde o primeiro minuto. Se um dia vier a ser profissional, irei dedicar tudo aos meus pais porque sem eles eu neste momento não estaria onde estou. Se fossem outros pais não me deixariam sair de casa aos 12 anos para ir jogar para o Boavista e de isto nunca me irei esquecer, eu amo-os muito! Mas claro, toda a minha família me ajudou porque graças a Deus tenho uma família fantástica! Os dois únicos conselhos que o meu pai me deu foram: Nunca perder a humildade e trabalhar sempre no máximo. Até hoje sempre fiz isso e é por isso que hoje estou a jogar no melhor clube do Mundo, concretizando um sonho que tinha desde pequeno.

Qual a situação mais engraçada a que assististe na tua vida desportiva?
Foi na Selecção Nacional quando uma menina com apenas 6 ou 7 anos me pediu a camisola de jogo a chorar. Eu como não podia dar, ofereci a de treino e emocionei-me com aquela reacção.

Costumas visitar o Serbenfiquista, ou já tinhas conhecimento do mesmo? Como encaras o acompanhamento que é feito aos jogadores?
Sim, depois dos jogos, costumo vir sempre ler a crónica. Gosto muito do site porque anima-nos e dá-nos força para trabalhar sempre mais porque às vezes acabam por nos dar moral e para nós jogadores isso é muito importante porque precisamos disso para trabalharmos sempre no limite.

Para finalizar, queres deixar alguma mensagem aos adeptos encarnados?
Sim, quero. Que nesta última fase nos apoiem porque assim será mais fácil para conseguirmos ser campeões. Venham ao Seixal! Gostaria só de deixar uma mensagem para os meus tios. Quero agradecer-lhes (Manuel Carvalho e Alexandra Carvalho), que me acolheram no 1º e 2º ano que fui para o Boavista porque sem o acolhimento deles não poderia ir para lá jogar devido a ser demasiado novo para estar instalado no lar de jogadores do Boavista. Para eles, um muito obrigado!

Muito Obrigado Abel pelo tempo disponibilizado. As maiores felicidades para o teu futuro!

Entrevista de André Sabino.