Lição em San Siro

Submitted by Pedro Neto on

A conclusão que, facilmente, podemos retirar deste jogo é que Benfica, e Milan, são duas equipas de Mundos totalmente diferentes. E ainda mais visível tal se demonstrou pelo facto de três jogadores fundamentais estarem ausentes das opções de Camacho: Petit, Luisão e David Luiz. É um Mundo que, do lado dos Encarnados, só Rui Costa conhece. E Rui Costa é muito bom, mas não é milagreiro! O Maestro é apenas um jogador, entre 11 atletas. Indiscutível é o facto do potencial deste Benfica 2007/08 ser bem inferior ao Benfica de Simão, Miccoli, Karagounis e... Manuel Fernandes. Imagine-se o que significaria uma equipa com estes craques todos disponíveis! Impossível devido a questões orçamentais, dirão os mais cépticos. Mas será que era assim tão complicado concretizar?

3ª troca de centrais consecutiva

Camacho optou por fazer uma alteração de vulto, opção que é discutível, ao mandar entrar o jovem Miguel Vítor para o lugar de Katsouranis, tendo este coberto o lugar do lesionado Petit. A opção mais óbvia teria sido a manutenção da dupla de centrais que enfrentou a Naval, fazendo entrar um outro jogador para a posição #6. O espanhol não quis arriscar a inexperiência de Romeu Ribeiro ou a adaptação de Maxi Pereira e, pelo 3º jogo consecutivo, modificou o centro da defesa. O que é certo é que a inexperiência dos dois jovens, Edcarlos e Miguel Vítor, acabou por ter carácter decisivo no decorrer do jogo e, sem Petit, o meio campo nunca teve a acutilância necessária para deter as investidas do Milan. Assim se vê a extrema utilidade do actual #6 do Benfica!

Uma lição de bem jogar Futebol

Não há a necessidade de discutir a eventualidade do resultado ter sido inadequado à realidade do jogo, pois é mais que óbvio que assim aconteceu. Curiosamente, o Benfica entrou bastante bem no jogo e conseguiu equilibrar os acontecimentos nos primeiros 5 minutos, até tendo conseguido ganhar um canto. Mas numa falta escusada de Katsouranis, à entrada da área e descaído para a esquerda, Pirlo inaugura ao marcador através de um remate fantástico (9 m). Quim está, aparentemente, mal colocado e chega tarde à marcação do livre. Aí o cariz do jogo mudou completamente. O Benfica sentiu imenso o golo e sucederam-se as oportunidades para os italianos. Inzaghi, por duas vezes, e Ambrosini só são impedidos por grandes defesas de Quim (14 m e 16 m; 21 m). A resposta do Benfica acontece logo de seguida, com Rui Costa a galgar 30 metros e a estoirar à figura de Dida (22 m). No lance seguinte, Cardozo, depois de um excelente cruzamento de Di Maria, cabeceia ao poste num falhanço inacreditável (23 m).

A resposta é madrasta para o Benfica pois, no lance imediatamente a seguir, o Milan sentenceia o jogo e faz o 2-0 num contra-ataque fabuloso, construído por Pirlo e finalizado, de primeira, pelo genial Inzaghi (24 m). A partir daí só deu Milan até ao intervalo, e o 3-0 esteve perto. Os ataques do Benfica resumiam-se aos lançamentos de Rui Costa para Cardozo, mas o paraguaio ou fazia falta ou era apanhado em fora-de-jogo. No único lance onde isso não aconteceu, o paraguaio, isolado frente a Dida, atira forte de pé direito mas à figura do brasileiro (33 m). A partir do 2-0 o jogo esteve sempre controlado pelo Milan e a 2ª parte revelou-se um passeio para os Campeões Europeus. O 3-0 esteve sempre mais próximo que o 2-1 e até acabou por ser fortuita a forma como este foi conseguido, já no final do tempo de descontos. Inzaghi (60 m, 66 m, 67 m, 77 m,) e Kaká (54 m, 83 m) – o melhor do Mundo da actualidade –, foram os mais perdulários, pois numa boa noite da equipa da casa o Benfica teria saído de saco cheio. A noite foi negra como o breu, e o resultado até acabou por ser bem lisonjeiro. A ida a San Siro valeu pelo momento proporcionado a Rui Costa!

40 mil a apludir o Maestro

Em dois jogos pudemos assistir a duas situações verdadeiramente fantásticas, envolvendo Rui Manuel César Costa. Foi bonita a tal união com o público da Luz, no jogo com a Naval, mas vale a pena evidenciar que quase 40 mil pessoas, em pleno San Siro, aplaudiram Rui Costa, aquando da sua substituição. Não é todos os dias que vemos uma ovação, feita no estrangeiro, a um jogador português. Pois, Rui Costa não é um jogador qualquer. É um jogador que é massivamente idolatrado nos 3 clubes onde jogou na sua carreira sénior: Benfica, Fiorentina e Milan. Nem todos os profissionais podem gabar-se de fazer História em todos os sítios por onde passaram, e muito menos de lá continuarem a ser acarinhados! Uma palavra também para Camacho, que teve a sensibilidade de lhe proporcionar este momento fantástico.

Ficha do Jogo:

1ª Jornada da Fase de Grupos da Champions League

Stadio Giuseppe Meazza, em Milão

Árbitro: Mike Riley (Inglaterra)

AC MILAN: Dida; Massimo Oddo (Bonera, 80 m), Alessandro Nesta, Kaladze e Jankulowski; Gattuso, Andrea Pirlo e Ambrosini; Seedorf (Emerson, 74 m) e Kaká; Filippo Inzaghi (Gilardino, 83 m).

SL BENFICA: Quim; Luís Filipe; Edcarlos, Miguel Vítor (Gilles, 72 m) e Léo; Di Maria, Maxi Pereira, Katsouranis, Rui Costa (Nuno Assis, 87 m) e Cristian Rodriguez; Óscar Cardozo (Nuno Gomes, 62 m).

Disciplina: Amarelos a Cardozo (60 m) e Inzaghi (66 m).

Golos: 1-0, Pirlo (8 m); 2-0, Inzaghi (23 m); 2-1, Nuno Gomes (90+2).

Melhor em Campo: Rui Costa (do lado do Benfica)