Rui Silva: «O Benfica é um Mundo»

Quando se fala em jovens talentos, tem, por obrigação, de se referir um nome: Rui Silva. Ainda muito jovem, quando se deslocou ao Municipal Rafael Pedreira (Estádio do Cerveira – Viana do Castelo) estava longe de imaginar a grande ascensão que acabaria por ter, anos mais tarde. De criança inocente a uma responsabilização de adulto, aos 12 anos, enfrentou um Mundo completamente diferente que o era obrigado a acolher. Uma cidade com cerca de meio milhão de habitantes era agora a sua nova casa, saindo da sua pequena vila que contava com pouco mais de quatro mil pessoas.

Não é por isso de estranhar que um desafio constante estava a pairar sobre a vida deste pequeno jovem. Talentoso, destemido, batalhador, Rui Silva foi ultrapassando barreira a barreira até chegar o seu primeiro título, quando na época de Infantil A derrotou o Sporting e se sagrou Campeão Distrital. Já figura de proa na equipa principal de Iniciados, um ano depois, acabaria por juntar, no final dessa época, mais um importante troféu individual ao já coleccionado no ano anterior (Melhor Jogador do Torneio da Pontinha) saindo do Jamor com o título colectivo, mas também destacado como o Melhor Jogador do Torneio Inter-Associações sub-14, prova que reúne os melhores jogadores de cada distrito do país.

Depois de dois anos de trabalho extremamente proveitosos com o Mister António Bastos Lopes, Rui Silva tem este ano pela frente um novo desafio, talvez o mais exigente – a nível desportivo - da sua ainda curta carreira: Ser Campeão Nacional de Iniciados. Os primeiros meses de trabalho com o Mister Bruno Lage têm sido excelentes, pelo que a perspectiva é de continuar sempre a melhorar, condição para que trabalha diariamente, sempre procurando um nível maior do que no dia anterior.

Há quem diga que é a maior promessa da formação do clube, preferindo, Rui, ser conhecido como um jovem humilde, trabalhador e com muito desejo de aprender. Muito forte no drible, faz do seu poder de finta o seu principal cartão de visita, aliando-o a uma boa velocidade e a um excelente poder de colocação de remate.

Sem mais demoras, Rui Silva!



Nome Completo: Rui Pedro Oliveira da Silva
Idade: 14 (11-01-1993)
Nacionalidade: Português
Peso: 57 kg
Altura: 170cm
Posição: Médio Ofensivo e Extremo

1- Como começaste a jogar futebol?
Comecei a jogar um pouco mais a sério naqueles torneios de escola, habituais na minha idade. Na altura, na minha vila, os meus colegas queriam sempre que eu ficasse na equipa deles e, um dia, no final de um desses jogos, cheguei a casa onde estava o meu tio a falar com os meus pais que iria levar o meu primo a treinar ao clube da nossa terra, o Clube Desportivo de Cerveira. Quando ouvi aquilo, disse logo: “Pai, eu também quero!” No final do primeiro treino, as pessoas de lá pediram-me para ir mais regularmente pois seria inscrito em Dezembro.

2- Como correram os primeiros tempos? Já te destacavas na equipa?
Correram bem. As pessoas achavam que sim. Como era um clube com poucas condições financeiras, nós tínhamos de ir à bancada, com um saco, pedir ajuda monetária para o clube. E desde o primeiro jogo as pessoas começaram a abordar-me nessas “incursões” pela bancada e a dizer que jogava muito bem (risos).

3- Reza a lenda que o teu treinador te pedia para ir receber a bola do pontapé de baliza, fintar a equipa toda adversária e marcar golo... É verdade?
(Risos) Bem, era quase isso. Consegui marcar 64 golos nessa época, quando entrei a meio da temporada, e às vezes utilizava mesmo essa estratégia!



«Já não queria saber de mais nada, só ir para o Benfica»

4- Quando se começou a falar do interesse do Benfica?
Penso que foi quando era Infantil de 1º ano. Perguntaram-me se queria ir treinar a Lisboa durante dois dias e desde logo disse que sim, queria ir para o Benfica. Na minha terra, o Benfica para mim era um Mundo e vir para a capital era demais! E desde aí comecei a pensar que um dia poderia realizar o meu sonho, ser jogador profissional do Benfica.

5- Por essa altura, apenas o Benfica mostrou interesse em ti?
O Sporting e o Porto também me abordaram, mas eu já não queria saber de mais nada, só queria ir para o Benfica.

6- Hoje continuas com a certeza que essa foi a melhor decisão?
Sim, acho que o Benfica tem tudo para ser melhor em termos de formação do que o seu principal rival, se é que já não o é.

«O dia que fui para Lisboa foi um dos melhores da minha vida»

7- Como foi o dia de fazer as malas e viajar para Lisboa?
Foi um dos melhores dias da minha vida. Tudo estava a correr bem. Ir para o Benfica é o que uma criança de 12 anos mais quer. O pior foi a despedida em Lisboa. Eu era uma criança e os meus pais foram obrigados a deixar-me fora de casa, custou-lhes muito. Também a mim mas fui muito bem recebido e apesar de ter muitas saudades, estava a concretizar um sonho.

8- Essas saudades são hoje em dia uma das maiores dificuldades dos jovens?
Sim, concordo. Muitos jogadores desistem do seu sonho por saudades de casa, da família, dos amigos. Mas, todos temos de pensar que um dia poderemos estar a realizar o nosso sonho e dar um grande orgulho à nossa terra.



9- Na tua primeira época de Benfica, tiveste logo como treinador uma figura histórica do clube - António Bastos Lopes. O que aprendeste com ele?
Aprendi muito. A primeira coisa foi logo que o Benfica é o Benfica, jogam onze e não há lugar para um jogador jogar sozinho. Para mim o Mister Bastos Lopes vai ficar para sempre como um dos melhores treinadores que tive o prazer de trabalhar, e também um amigo. Ajudou-me nos piores momentos da minha vida, quando estava sozinho aos 12 anos longe de todos os meus familiares e do local onde cresci.

10- No final do ano foste campeão. Como reagiste ao primeiro título de “águia” ao peito?
Foi a melhor sensação que já tive na minha vida, é memorável. Ainda por cima trabalhei muito nesse ano, tive dificuldades e ultrapassei muitos obstáculos. Foi sem dúvida o título que mais senti em toda a minha vida. Agradeço à minha equipa que foi espectacular e esteve sempre presente quando eu precisei. Fomos um grupo muito unido.

«Nunca vou esquecer António Bastos Lopes»

11- Chegaste depois ao escalão de Iniciados. Sendo de primeiro ano, já actuavas no escalão principal. Foi positivo para ti?
Sim, foi muito positivo pois no escalão principal havia muita competição e era muito bom para evoluir. Outra das coisas boas foi ter novamente o Mister Bastos Lopes como treinador, apesar de ele me dizer que um atleta tem de ter vários treinadores, para daí recolher outros hábitos, formas diferentes de pensar, maneira de ser, etc.



12- A nível colectivo não conseguiram atingir os objectivos. Esperavas uma fase final tão má?
Realmente não pensava que tivéssemos uma fase final assim, sobretudo depois do que já tínhamos feito. Pensava sinceramente que íamos ser campeões, mas não o conseguimos. Tivemos jogos com algum azar, a bola não queria entrar e acabámos por perder ou empatar. Mas foi uma fase, que me quero lembrar sempre, para corrigir o que teve mal e tentar melhorar o mais possível. E como já sei o que é jogar no Nacional, vou tentar com este fantástico grupo de trabalho precaver algumas situações para que não se repita o mesmo do ano passado.

«Se ouvir o Mister Bruno Lage, sei que vou aprender»

13- Mudaste de treinador esta época. O que já aprendeste com o Mister Bruno Lage? Qual o balanço que fazes destes primeiros meses de trabalho?
Estou muito contente por ter o Mister Bruno Lage como treinador. É um homem com muitos objectivos, muito bom em termos tácticos. Tem muita experiência de futebol e os métodos de trabalho são excelentes. Gosto de o ouvir falar porque sei que vou estar a aprender e penso que temos de lhe agradecer por tudo o que fizemos até ao momento.

14- Esperavas uma entrada de campeonato tão forte, logo com uma vitória esclarecedora em Alcochete?
Sinceramente não. A nossa equipa tinha muitas baixas, expulsões, lesionados, jogadores não inscritos. Mas com este treinador aprendi que nada é impossível e o resultado está à vista.

15- Como se constrói um colectivo tão forte como o vosso?
Com muito trabalho, esforço e dedicação. Acho que o Mister nos incutiu logo a mentalidade que estamos aqui para trabalhar e dar sempre o máximo. Em cada treino temos de ser melhores que nos próprios e melhores do que no treino anterior. Para o Mister, um treino é mais importante do que um jogo. E com esse aglomerado de informações e métodos que nos transmitiu, fez com que fossemos e continuamos a ser, uma equipa cada vez mais forte a cada dia que passa.



16- Muitos adeptos consideram-te uma das maiores promessas da formação do clube. Como reages a isso?
É uma novidade para mim, desconhecia. Mas não é por isso que vou deixar de exigir sempre cada vez mais a cada dia que passa. Conheço muitos exemplos de grandes jogadores enquanto jovens e que agora estão em divisões secundárias. É bom saber que gostam do meu trabalho e isso dá-me força para aprender e a cada dia que passa mostrar melhor futebol!

17- Quais os objectivos pessoais, para além do título, que traçaste para esta época?
Os meus objectivos pessoais, como já disse ao longo da entrevista, passam por evoluir muito, para ser cada vez melhor pois eu não me contento e quero sempre melhorar. Quero ser melhor e quem sabe, um dia ser até melhor do que pensam que vou ser. Quero dar muitas alegrias à minha terra e provar que em Vila Praia de Âncora há talentos e têm de ser aproveitados. E um dia mais tarde poder ajudar os meus pais que tanto fazem para estar comigo e para que nada me falte.

«Prefiro ser comentado como uma pessoa humilde e com vontade de aprender»

18- Foste eleito o melhor jogador do Torneio da Pontinha (onde jogaram Sporting,Porto,Chelsea, entre outros) e do Torneio Inter-Associações sub-14. Consideraste já uma referência a nível nacional?
Prefiro ser comentado como uma pessoa humilde e que quer aprender para um dizer poder dizer com todas as letras: Sou jogador profissional do Sport Lisboa e Benfica!

19- Esperas também ter a oportunidade de dar o salto para outro grande clube?
O Benfica já é um grande clube. A qualquer lado que vá é respeitado pelo que já fez e continua a fazer. Mas sim, todos sonhamos e gostaria de jogar nos Seniores Manchester United, mas o Benfica já é um sonho. A liga Inglesa é onde se pratica melhor futebol. Joga-se rápido, grande capacidade técnica dos jogadores, entre outras coisas. Esse é um dos meus outros sonhos, até porque poderia também jogar com o meu ídolo, Cristiano Ronaldo.

«O Benfica é muito grande!»

20- Desde que estás no Benfica já tiveste alguma situação em que ficou provado que o Benfica é realmente um grande clube?
Nunca tive a possibilidade de ir para fora do país mas quando era Infantil, no Torneio do Estrela da Amadora, o Estádio estava cheio e quando estávamos alinhados começa a tocar o hino do Benfica. Eu arrepiei-me! Pensei para mim mesmo: O Benfica é muito grande! Foi uma sensação única.



21- Costumas visitar o Serbenfiquista, ou já tinhas conhecimento do mesmo? Como encaras o acompanhamento que é feito aos jogadores?
Sim, costumo visitar, o site está muito bom, podemos saber como andam as equipas, pormenores sobre os atletas, etc. Gosto muito do site!

22- Queres deixar alguma mensagem aos adeptos, colegas ou familiares?
Gostava também de agradecer ao Mister Alexandre, adjunto do Mister Bruno Lage, tudo o que fez e faz por mim. Tenho muito a agradecer, pois é um treinador e homem 5 estrelas. É ele que ajuda sempre um atleta quando ele está em baixo ou quando tem algum problema. Ficará para sempre na minha mente. Aos adeptos, peço-lhes que continuem a ir ver os nossos jogos porque a cada dia que passa estamos mais fortes e se tudo correr bem vamos-lhes dar muitas alegrias, a eles e ao Benfica. À minha família, só quero dizer que os adoro e que estarão sempre no meu coração!

Entrevista realizada por André Sabino, Serbenfiquista.com.