Carlos França esteve entre os poucos jogadores que permaneceram no nosso clube na tumultuosa transição entre a época de 1906/07 e 1907/08 (a primeira e a segunda da história do nosso futebol).
Durante essa primeira época 14 jogadores jogaram na primeira categoria, falando-se é claro do campeonato de Lisboa pois o campeonato de Portugal (antecessor da Taça de Portugal) só viria a iniciar-se em 1926/27. Desses, oito foram para o Sporting na época seguinte, dois foram para o estrangeiro (Manuel Mora e Fortunato Levy) e um saiu provavelmente para jogar noutro clube (Marcial da Costa). Assim, apenas Carlos França e Marcolino Bragança continuaram e jogaram de forma intensa na época seguinte. José Neto e David da Fonseca também continuariam a jogar embora de forma mais irregular. Ambos deveriam ainda ser óptimos jogadores apesar de já deverem ter alguma idade pois foram jogadores da famosa equipa da Casa Pia que em 1889 venceu os ingleses do Carcavelos. David da Fonseca, por exemplo, apenas jogou (do que sei) apenas mais duas vezes no nosso clube mas numa dessas marcou um dos dois golos com que derrotamos pela primeira vez o SCP em 25/10/1908.
Marcolino Bragança é um homem com um lugar de enorme destaque nesse tempo. Foi ele segundo se conta, o homem que se lembrou do óbvio: fazer transitar a equipa da segunda categoria para a primeira categoria. Com a concretização desta ideia simples catalizou-se uma reacção entusiástica que faria sobreviver o clube e rapidamente conquistar a hegemonia do futebol lisboeta até cerca de 1915. Jogaria seis jogos na época seguinte mas depois eclipsou-se, talvez por circunstâncias da vida. Apesar de fugaz, penso que Marcolino é um imortal embora claro não ao nível dos gigantes Felix Bermudes, Manuel Gourlade e claro Cosme Damião, o maior de todos.
Voltando a Carlos França, pelas listas disponíveis jogou poucos jogos pelo nosso clube? Sim de facto mas nesse tempo as épocas envolviam pouco mais de 8-10 jogos oficiais. Pelos dados que tenho, jogaria assim 6 jogos em 1907/08, 6 em 1908/09 (1 golo), 3 em 1909/10. Números pequenos mas ainda assim não escondendo que terá sido influente nesses tempos iniciais.
A partir das listas dos jogadores nas seis épocas seguintes até à época de 1912/13 é possível perceber outros jogadores que para além de Carlos França terão sido certamente verdadeiramente influentes na nossa equipa para além do seu grande capitão, Cosme Damião (fundador):
Henrique Costa (saiu por uma época para o SCP, depois regressou, foi nosso jogador dedicado e decisivo durante muitos anos e mais tarde foi fundador do Belenenses),
Eduardo Corga (fundador),
Henrique Teixeira (fundador),
Artur José Pereira (a primeira grande estrela do nosso futebol, sairia depois para o SCP, mais tarde fundador do Belenenses),
António Meireles (seria parente de Abílio Meireles que foi fundador?),
Felix Bermudes (que foi presidente do nosso clube e decisivo nas décadas seguintes),
João Persónio (antigo casapiano tanto foi avançado como mais tarde guarda-redes),
Leopoldo José Mocho (antigo casapiano, defesa de categoria, foi viver para Arronches e por isso começou a ter presença irregular na nossa primeira categoria),
Luis Vieira (que viria a jogar no Botafogo do Rio de Janeiro e mais tarde regressaria ao SLB),
António Costa (filho de Bernardino Costa que patrocinou aquele que dirante muito tempo se pensou ser o nosso primeiro troféu),
Carlos Homem de Figueiredo (defesa de grande categoria que veio a substituir muitas vezes Leopoldo Mocho),
Alberto Rio (extremo que sairia depois para o SCP onde nunca atingiu o mesmo nível),
Constantino da Encarnação,
Germano de Vasconcelos (viria a ser dirigente influente do nosso clube),
Virgílio Paula (avançado),
Álvaro Gaspar (morreu muito jovem e pelas crónicas terá sido um grande craque),
Augusto Paiva Simões (sairia depois para o SCP),
Francisco Belas (defesa),
José Domingos Fernandes (avançado, antigo casapiano, fez parte da digressºao da AFL ao Brasil),
Francisco Pereira (irmão de Artur, mais tarde fundador do Belenenses)
Romualdo Bogalho (mais tarde fundador do Belenenses),
Herculano Santos (avançado).
Ficam os nomes para pelo menos pontualmente serem lembrados por adeptos do clube que ajudaram a construir na época mais delicada. Como se dizia num célebre filme: "O princípio é uma altura muito delicada".
Honra à sua memória. Todos imortais.