Jorge Brito

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Fonte
www.slbenfica.pt
Pela primeira vez em muitos anos vejo com esperança o futuro do Benfica. Desportivamente, seria da maior conveniência assegurar a nossa presença na próxima edição da Liga dos Campeões, depois de duas temporadas sem jogar na Europa, o que constituiu uma tristeza enorme para todos os benfiquistas e, muito especialmente, para os mais velhos que, como eu, se habituaram a uma presença assídua e prestigiante do nosso emblema nas competições da UEFA. O Benfica tem hoje um núcleo de jogadores portugueses com enorme categoria e com um potencial de crescimento muito interessante e promissor. Entre todos, permito-me destacar o jovem médio Tiago, um futebolista que dá gosto ver jogar, pela sua entrega, pela sua classe e pela forma como transforma as situações difíceis em situações fáceis. Como benfiquista, espero que Tiago fique longos anos no clube e se transforme num símbolo para as gerações mais novas. Aliás, julgo que o Benfica, lentamente, está a querer recuperar o programa estratégico e os valores morais que fizeram do nosso clube um doa maiores do mundo. O Benfica é, essencialmente, um clube de futebol e a razão da sua existência é a vitória. Para ganhar, o Benfica tem de manter nas suas fileiras os jogadores em torno dos quais se possa construir uma grande equipa de futebol. Sem isto, teremos crises, convulsões e desuniões. O Benfica não pode mais voltar a ser um entreposto de jogadores, num vai-vem constante, perdendo a equipa qualquer identidade e perdendo os adeptos a empatia com a sua equipa. Por tudo isto, considero que a entrevista que José António Camacho concedeu à RTP foi um momento pedagógico de benfiquismo, embora o treinador espanhol, avesso a demagogias, tenha reafirmado que não nasceu no Benfica nem há-de morrer no Benfica. Curiosamente, há alguns anos, fui convidado pelo presidente do Real Madrid, Ramon Mendoza, para assistir à festa de despedida de José António Camacho, um jogador cuja carreira segui com interesse e admiração. Jogava forte e feio, sem nunca perder o fair-play. Como treinador, vejo que manteve estas características e desejo que continue entre nós por muito tempo, pois entendo que Camacho tem tido uma palavra importante a dizer na recuperação da imagem desportiva do Benfica e na recuperação de um certo número de valores que se perderam com o tempo, com consequências nefastas para o nosso palmarés. Camacho está a tentar repôr uma cultura que já existiu no Benfica e, independentemente dos resultados imediatos, julgo que o seu trabalho tem sido muito meritório. Seria injusto da minha parte, não referir um factor óbvio e notório: o Benfica está hoje mais estável e mais unido. E julgo que esta melhoria decisiva tem muito a ver com a acção do presidente da SAD, Luís Filipe Vieira, que, sei-o muito bem, tem vindo a resolver problema atrás de problema, sendo que os problemas do Benfica não são nada fáceis de resolver. Pode não ser um grande diplomata, mas tem revelado um empenho, uma dinâmica e um sentido de organização que só não posso dizer que me surpreendem, porque, na verdade, não conheço Luís Filipe Vieira para fazer tais juízos de valor. Os benfiquistas vivem hoje outra aventura: a da construção do estádio novo. Devo confessar que fui sempre contra o estádio novo porque são muito fortes as minhas ligações afectivas ao Estádio da Luz, inaugurado em 1954, por Joaquim Ferreira Bogalho. Mas se vamos ter um estádio novo, então, esse estádio passa a ser nosso e devemos responder ao apelo dos nossos dirigentes participando nesta obra. Espero, portanto, estar de boa saúde no dia da inauguração da Nova Catedral, assistindo a mais um momento inesquecível da vida do Benfica.