Paulo Almeida entrevistado

Fonte
A Bola
Os dirigentes do Benfica estarão certos do valor do médio brasileiro dentro de campo e, também por isso, não hesitaram na sua contratação. Mas como já tiveram algumas conversas com ele, terão também reparado no carácter bem vincado do jovem de 23 anos que deixou o interior da Bahia sozinho para vir treinar-se à experiência no Santos. Quem fala durante alguns minutos com Paulo Almeida percebe que está perante uma pessoa que faz da persistência uma garantia para o sucesso. No Benfica promete lutar até ao fim e assim que A BOLA lhe vestiu a camisola encarnada ele disparou. «Vou dar tudo por esta camisola.» A aventura no reino da águia começa hoje, quando desembarcar no aeroporto da Portela... Aos 23 anos, Paulo Almeida está prestes a começar a sua primeira aventura fora do Brasil. Para o médio que o Benfica contratou ao Santos, esta é uma oportunidade única para subir mais um degrau na sua carreira. Depois de ter assumido grande destaque na jovem equipa do Santos que conseguiu chegar ao título brasileiro, depois de 18 anos de jejum do clube de Pelé, Paulo Almeida acredita que agora é a vez de dar nas vistas na Europa e, até como já está habituado a acabar com jejuns, ajudar o Benfica a quebrar o enguiço e sagrar-se campeão português com a camisola encarnada. Do Benfica e do futebol português está agora a informar-se com maior detalhe e antes que A BOLA lhe fizesse esta entrevista em pleno centro de treinos do Santos, onde trabalhou para não perder a forma física, foi Paulo Almeida quem nos bombardeou literalmente com perguntas sobre Portugal, o futebol português e, sobretudo, o Benfica, um clube do qual a única certeza que tem neste momento é que é grande. «Já me disseram que é o maior de Portugal », vai contando o médio brasileiro que não resistiu à oferta que A BOLA lhe entregou. «Uma camisola do Benfica? Vou ficar já com ela», disparou num português carregado de sotaque. «É bem engraçadinha, né?», perguntou ainda ao encarregado das instalações do Santos que seguia com curiosidade e já alguma nostalgia o interesse da nossa reportagem em Paulo Almeida. «Agora vou dar tudo por esta camisola», disse com convicção. Um lutador nato Com uma carreira feita no Santos, Paulo Almeida diz que não tem receios da mudança para Lisboa e para o Benfica. Justifica que é um jogador ambicioso e que dentro de campo é «jogador de briga », explicando que sem ser duro ou maldoso gosta de disputar cada lance como se fosse o último e mais decisivo da sua carreira. Também por isso está com esperanças de que a sua adaptação ao futebol português seja bem tranquila. «Sou um lutador e mesmo que as coisas demorem a correr bem no Benfica eu vou ser persistente e tenho a certeza de que vou vencer», refere o novo craque do Benfica, que vem para Portugal, numa primeira fase, sozinho. A família vai aguardar no Brasil e torcer para «que tudo dê certo». «Não tenho medo de nada. Também saí de casa no interior da Bahia para vir jogar à experiência no Santos e não me dei mal. E nem tudo foi fácil. Portanto, se já consegui vencer essa mudança uma vez, quando nem maior de idade era, porque não vou conseguir agora?», pergunta por entre um sorriso que mostra, antes de tudo, a enorme confiança com que se prepara para viajar até Lisboa. Chegar, ver e vencer é o sonho para qualquer forasteiro mas Paulo Almeida acredita que isso só será possível no Benfica se conseguir uma adaptação rápida ao estilo de jogo do clube e do futebol português. Na Luz afirma que quer ganhar o título de campeão nacional e quebrar o jejum dos encarnados no campeonato. Não foi por dinheiro que aceitou deixar o Santos e arriscar uma aventura em Portugal. Para Paulo Almeida a transferência para o clube encarnado representa uma oportunidade que poderia nunca mais aparecer... — Fez toda a sua carreira no Santos, era uma das figuras da equipa que se sagrou campeã, que motivos o levaram a aceitar o convite do Benfica? Foi o dinheiro? — Não fundamentalmente isso. Sei que vou com boas condições para o Benfica mas também porque queria experimentar jogar ao mais alto nível na Europa. Todos os jogadores brasileiros sonham um dia poder jogar na Europa e eu desde pequeno que também queria isso. Quando surgiu a oportunidade de ir para o Benfica fiquei receptivo porque teria a chance de estar num grande clube da Europa e disputar os títulos mais importantes. Isso conta muito na carreira de um jogador e no meu caso é uma oportunidade que não podia deixar passar... — Conhece já alguma coisa do Benfica? — Sei que o Benfica não ganha há 10 anos o campeonato e pouco mais. Já falei como Leandro Machado, que jogou no Sporting e esteve depois no Santa Clara, e ele disse-me que o Benfica é sempre uma grande equipa, é um clube com uma enorme torcida, uma estrutura muito boa. Estou com grandes expectativas para conhecer a verdadeira realidade quando chegar lá... — E jogadores do Benfica, tem algum amigo lá? — Conheço apenas os brasileiros Argel, Luisão e Geovanni. Os outros não conheço, mas vai também o Alcides que esteve comigo aqui no Santos e penso que não será difícil o relacionamento entre todos... — Aqui no Brasil seguia o campeonato português? — Não seguia muito o campeonato português mas agora estou a informar-me sobre tudo. Sei que nos últimos anos o FC Porto tem dominado... — ... E que o Benfica não ganha há 10 anos. O que significa isso para um jogador que chega a um clube nestas circunstâncias? — Significa que está na hora de ganhar. Está na hora de o Benfica ser campeão. Sendo um clube grande tem de ganhar. É muito parecido com o que se passou aqui no Santos. Em 2002 o Santos estava há 18 anos sem ganhar o título brasileiro e depois formámos uma equipa com jovens jogadores e conseguimos ser campeões brasileiros. — Nestas circunstâncias significa que a pressão é bem maior... — Num clube que já não ganha o campeonato há tantos anos tem muita responsabilidade mas também pode ter uma enorme alegria se vencer, ficando na história estando na equipa que pode tirar o clube desse jejum de títulos. Espero ter lá a mesma sorte que tive aqui no Santos ... Estou preparado para tudo — No Santos o Paulo Almeida tinha um lugar praticamente garantido. Já pensou como vai ser no Benfica? — A concorrência para conseguir um lugar na equipa inicial até deve ser bem maior e eu como vou chegar tenho de mostrar argumentos para convencer o treinador. Nesse aspecto eu estou preparado para tudo e sei que não será fácil chegar a um país estrangeiro, a um tipo de futebol diferente e ter logo tudo ali à minha disposição. Vou ter de lutar por isso... — Imagina o futebol português muito diferente do futebol brasileiro a que o Paulo Almeida estava habituado? — Vou sentir muitas diferenças porque o futebol brasileiro é bem distinto do futebol europeu. Em Portugal, pelo que já me contaram, existe muita pressão, muito poder físico e quem chega tem de se adaptar o mais rápido possível... — As suas características enquadram-se nesse estilo de jogo europeu? — Penso que sim. Eu sou um jogador que gosta de disputar todos os lances, de lutar em campo e jogar para a equipa. Depois eu acredito muito nas minhas capacidades.