A análise de «Trap»

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Fonte
http://www.slbenfica.pt
Giovanni Trapattoni revelou a sua mestria na arte de bem comunicar. Um profundo conhecedor do futebol moderno com uma personalidade forte, muito marcada pelo seu trajecto profissional de sucesso. Como jogador venceu tudo, como treinador tem dado mostras da sua inesgotável ambição em querer ganhar, também no Benfica. «Este é um clube que já foi rei na Europa do futebol, passou por momentos difíceis, mas agora trabalhamos com o objectivo de o colocar de novo num patamar superior» diz-nos com convicção. Nesta entrevista, Trapattoni analisa os reforços, fala do plantel, define o modelo de jogo, fala-nos das suas aspirações e objectivos e relata-nos como está a conseguir superar as dificuldades encontradas. Quando é que surgiu o convite do Benfica? O convite foi para mim uma surpresa. Fiquei entusiasmado! Fui contactado antes do Campeonato da Europa e disse aos responsáveis do Benfica que naquela altura queria estar totalmente concentrado na selecção da Itália. Depois do Europeu, fui novamente contactado e disse logo que estava pronto. Em apenas dois minutos cheguei a acordo com o José Veiga. Falámos em minha casa e não houve qualquer problema relativamente às questões do contrato. Esta era uma grande oportunidade para trabalhar numa equipa famosa. Estágio da pré-época Ficou satisfeito com o trabalho desenvolvido na pré-época? Sim. Trabalhámos bem! Conheci o carácter e a mentalidade dos jogadores. Já conhecia os que representaram a selecção portuguesa no Europeu uma vez que vi os jogos do Benfica contra a Lázio e o Inter na última temporada. Os jovens jogadores não os conhecia. Eu, o Fausto Rossi (preparador-físico) e o Adriano Bardin (treinador de guarda-redes) encontrámos um grupo muito motivado e cheio de vontade de melhorar as suas capacidades. Isso deu-nos um motivo de grande satisfação. Até agora estou bastante satisfeito com o trabalho. Rendimento da equipa Que balanço faz da prestação da equipa até ao momento? Dentro da minha filosofia, estou muito satisfeito com a mentalidade e o “pressing” da equipa. Faltou-nos um pouco de experiência nos jogos da Supertaça com o FC Porto e da pré-eliminatória da Liga dos Campeões com o Anderlecht. Não merecíamos perder esses dois jogos. Frente ao FC Porto, jogámos melhor e na eliminatória com o Anderlecht teríamos conseguido a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões se tivéssemos feito o jogo da 2.ª mão em casa. Os golos que sofremos e as oportunidades que desperdiçámos foram por uma certa ingenuidade. É uma pena não termos neste momento todos os jogadores disponíveis. O Nuno Gomes e o Geovanni estão lesionados e são dois jogadores muito importantes. Esta equipa tem carácter e qualidade. Depois das derrotas frente ao FC Porto e Anderlecht, tivemos um jogo muito difícil com o Beira-Mar, em termos psicológicos, e a resposta da equipa foi excelente. Nos últimos três jogos oficiais, o Benfica sofreu seis golos, quatro dos quais resultaram de livres, cantos ou "penalties". Já na época passada, a equipa consentiu muitos golos a partir de lances de bola parada... Sim, é um dos problemas que temos. Quando defrontámos equipas com jogadores muito altos, sentimos dificuldades porque não temos uma equipa com elevada estatura. Somos uma equipa média em termos de altura. Quais são os aspectos da equipa que mais lhe têm satisfeito? A aplicação e a vontade de aprender. Agora temos de melhorar a nossa tranquilidade na grande área. Nos jogos com o FC Porto e Anderlecht tivemos muitas oportunidades. Quando se joga rapidamente é preciso pensar mais. É preciso mais confiança. Sinto uma grande ansiedade. O Benfica não vence um campeonato há dez anos e isso é um grande peso nos ombros dos jogadores, sobretudo dos jovens. Um jogador experiente está sempre mais tranquilo. Se não criássemos oportunidades, eu teria de dizer que falta algo à equipa, mas não é esse o caso. A vitória frente ao Beira-Mar vai dar a necessária confiança que estava a faltar à equipa, sobretudo no capítulo da finalização? Creio que sim. Depois de duas derrotas, o jogo com o Beira-Mar era muito difícil, mas a equipa reagiu muito bem e jogou com confiança. Isso foi muito importante. O moral da equipa subiu. Modelo de jogo Que relacionamento defende entre o treinador e o jogador? Gosto muito de falar com os jogadores e explicar-lhes as minhas opções. Tenho coração, simpatia mas também tenho responsabilidades. Quando procedo as alterações, explico aos jogadores por que razão estou a fazer isso. Sou frontal quando falo com os jogadores e isso é muito importante. Qual é o esquema táctico ideal para a equipa do Benfica em função das características dos jogadores? Podemos ter dois esquemas tácticos. Falta-nos o Nuno Gomes para fazermos muito bem o 4-4-2. Agora estamos a jogar em 4-3-1-1 porque o Simão, o Carlitos ou João Pereira podem fazer de ponta-de-lança. Tem procedido a muitas alterações de jogo para jogo mas há três jogadores que, para já, são «importantes», o Miguel, o Petit e o Simão... A equipa é um pouco jovem mas tem os seus pilares. Todas as equipas têm os seus pilares. Tem de haver um equilíbrio na estrutura. Por exemplo, na selecção italiana que eu orientei o Maldini e o Nesta eram os pilares. Se estivermos a ganhar eu posso fazer descansar o Petit. Ele não pode jogar sempre os 90 minutos. Posso substituí-lo se o resultado me permitir fazer isso. É possível o Benfica apresentar uma dupla atacante constituída por Karadas e Nuno Gomes? Sim. Creio que é mais difícil uma dupla Karadas/Sokota porque os dois jogadores têm características similares. É mais provável uma dupla Nuno Gomes/Sokota ou Karadas/Nuno Gomes. A recente operação do Mantorras foi um grande contratempo... Eu estive a trabalhar com o Mantorras durante o estágio para ele melhorar a sua capacidade técnica. Ele tem muita mobilidade, velocidade e uma grande capacidade para improvisar. É pena, mas acredito que ele vai recuperar totalmente uma vez que é jovem e tem uma grande força de vontade. Espero por ele e o Benfica deseja que recupere o mais rapidamente possível. Gosta mais de Geovanni na direita ou no meio? Uma equipa que apresenta Zahovic, e uma dupla Nuno Gomes/Karadas ou Nuno Gomes/Sokota é preferível ter o Geovanni na direita. Noutro sistema de jogo o Geovanni poderá ser muito útil no meio, há várias possibilidades e isso é bom para o treinador.