Entrevista a Luís Moreira (DD do futsal Benfica): Como sempre, sem "papas na lingua".

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www.futsalportugal.net
início da temporada, e, por isso, são fortes candidatos. Sempre tive confiança no plantel que iniciou a época e estas duas contratações visam, acima de tudo, dotar o grupo de trabalho com mais soluções para suprir eventuais lesões ou castigos, porque nunca tive dúvida de que éramos um forte candidato ao título, porque, desde a pré-época, noto que existe um grande espírito de grupo e união e isso é um dos principais factores para uma equipa poder atingir os seus objectivos. No entanto, os dois jogadores brasileiros, pelo estatuto com que chegam, são reforços de inegável categoria e com peso no orçamento. O Benfica não fica quase obrigado a ser Campeão Nacional? O discurso da secção de futsal do Benfica foi o mesmo desde o início da época e não vai mudar agora porque conseguimos contratar dois internacionais brasileiros. Quem está no Benfica sabe que lhe é exigido a luta pela conquista do título e os novos jogadores chegam com o objectivo de melhorar o grupo de trabalho, porque contratar por contratar não faz sentido nenhum. O Leandrinho e o Micky são jogadores que dispensam apresentações e se tiverem uma boa integração e conseguirem fazer a diferença, então o Benfica tem boas possibilidades de ser Campeão Nacional, porque, desde o início da época, somos a equipa com mais determinação e a praticar melhor futsal. "Os jogadores estão de parabéns porque, mesmo diminuídos em relação aos principais adversários, conseguiram atingir esta fase da reabertura do mercado em primeiro lugar" À saída de alguns dos principais jogadores da época passada – Arnaldo, Lukaian ou Chico – juntou-se, durante a primeira volta, as lesões de Pedro Costa e Ricardinho. Esperava chegar nesta fase da época na liderança do Campeonato Nacional? A época do Benfica está a decorrer dentro do planeado entre a Direcção e a equipa técnica. Houve alguns contratempos, com as lesões do Costinha e do Ricardinho, mas tivemos sempre a noção de que o plantel era capaz de representar condignamente o Benfica. Os jogadores estão de parabéns porque, mesmo diminuídos em relação aos principais adversários, conseguiram atingir esta fase da reabertura do mercado em primeiro lugar. O reforço do grupo de trabalho estava previsto, não por falta de qualidade, mas porque é curto e a época é longa e desgastante. De qualquer forma, os regressos do Ricardinho e do Pedro Costa são os grandes reforços do Benfica para a parte final da temporada. "Se continuarmos este trabalho, dentro de um curto espaço de tempo seremos um clube de referência no Mundo" A contratações destes dois jogadores pressupõe um esforço financeiro muito grande. O Benfica não deu um passo maior que a perna? Na política definida pela Direcção e a equipa técnica ficou estabelecido que só seriam contratados jogadores para acrescentar qualidade ao grupo de trabalho. Não fizemos nada sem estar devidamente pensado e salvaguardado e estas contratações são o reflexo de uma batalha ganha pela secção de futsal do Benfica dentro do próprio clube. Se não fosse a intervenção e o apoio do vice-presidente para as modalidades amadoras do Benfica, Fernando Tavares, nunca teríamos hipótese de reforçar a equipa, por isso, o futsal está a ganhar terreno no seio do clube, e, se continuarmos este trabalho, dentro de um curto espaço de tempo seremos um clube de referência no Mundo. A integração do futsal no Benfica é uma questão que estava prevista acontecer no início desta temporada mas parece não ter sido concretizada… A actual Direcção do Benfica herdou um passivo gigantesco e muitos problemas financeiros, que tornam mais difícil a gestão das modalidades amadoras. A entrada da secção no clube foi adiada porque sofremos um pouco por já ter meios próprios para andar e a Direcção do clube entendeu que tinha de dar a mão a algumas modalidades que, para se tornar competitivas, precisavam mais do seu apoio. "Neste clube temos que ter um único pensamento e responsabilidade: ganhar" Então, a posição da direcção do clube não teve nada a haver com a época negativa de 2003/2004 e a algumas incompatibilidades com o Luís Moreira. A época negativa do Benfica deixou todos um pouco desmoralizados, mas não se pode esquecer que vencemos uma Supertaça e chegámos à final da UEFA CUP que estou em crer mais nenhum clube português sem ser o Benfica vai voltar a conseguir. No entanto, basta ao Benfica perder um título para considerar que a época foi negativa, porque neste clube temos que ter um único pensamento e responsabilidade: ganhar. Não houve nenhuma incompatibilidade substancial entre a secção de futsal e a Direcção do Benfica e o adiamento da integração do futsal no clube foi apenas por motivos que se prendem com a canalização do dinheiro disponível para modalidades que precisavam mais do que o futsal. O reforço do plantel no mês de Janeiro vai ser uma política a ser seguida no futuro ou esta época é uma excepção? O Benfica tem um orçamento para gerir e tem que o fazer muito bem porque não temos o hábito de falhar com os compromissos. Os jogadores brasileiros de qualidade são caros e temos que defender sempre da melhor forma o Benfica, por isso estamos a estudar parcerias com equipas brasileiras para tentar um intercâmbio que permita a jogadores que nos interessam representar o Benfica na segunda fase da temporada portuguesa e jogar no Brasil durante a Liga Futsal, ao mesmo tempo que se divide o vencimento pelos dois clubes. O Adil Amarante foi a primeira escolha para substituir o Alípio Matos ou esperou por uma resposta do Zego? São coisas distintas. Acredito que o Zego ainda vai ingressar no Benfica para a formação porque é um sector que pretendemos incrementar de forma a retirar maiores dividendos e evitar que o futsal possa morrer. Os clubes estão a enveredar pelo caminho de contratar jogadores brasileiros de duvidosa qualidade e os nossos jovens não conseguem entrar no campeonato, por isso pretendo fazer do Benfica a locomotiva para inverter esta situação e espero poder contar com o contributo do Zego. "O Adil Amarante é um namoro antigo que, por razões orçamentais, ainda não tinha sido possível de concretizar..." E o Adil Amarante? O treinador do projecto do futsal do Benfica é o Alípio Matos que apenas não é o nosso técnico porque a sua vida profissional não lhe permite. É o único treinador português que ganhou todas as competições nacionais e chegou a uma final internacional, mas, apesar disso, não se importa de estar no banco com a equipa de juniores ou juvenis o que demonstra o elevado nível de cultura desportiva que possuiu e que não tem paralelo na maior parte dos treinadores portugueses, por isso não há em Portugal nenhum treinador como o Alípio Matos. O Adil Amarante é um namoro antigo que, por razões orçamentais, ainda não tinha sido possível de concretizar, mas agora que está cá tem demonstrado que é um profissional fantástico e conhecedor da modalidade e acredito que vai estar no Benfica durante muito tempo. O seu trajecto como director-geral do Benfica tem sido marcado por várias controvérsias com outros agentes da modalidade, no entanto, esta é a primeira entrevista que dá desde o início desta época. Cansou-se de ser polémico? Nunca fui polémico por vontade própria mas apenas por reagir a ataques de algumas pessoas que têm inveja e não querem o sucesso do Benfica. Nesta época, essas pessoas recuaram um bocado e resfriaram um pouco os seus ataques e devem ter percebido que estou no Benfica para ser campeão, mas, também, para ajudar a modalidade. Não posso conceber que as pessoas tenham uma postura na minha frente e outra quando falam para a comunicação social. Já perdi muitos jogos importantes e não faltei ao respeito a ninguém e, por exemplo, perdi 6-0 no Freixieiro e dei os parabéns aos seus dirigentes, enquanto isso houve jogos em que ganhámos, fiquei com a mão esticada porque não foram capazes de me cumprimentar. Mas já teve que ir a tribunal devido a fortes acusações a alegadas relações entre o árbitro Vítor Rodrigues e o Freixieiro… Os árbitros têm direito a errar como qualquer pessoa, mas quando vejo que há premeditações não fico calado. A juíza, apesar de reconhecer que me excedi, deu-me razão porque entendeu que aquilo que disse foi no calor de um jogo, mas que nunca quis prejudicar a vida pessoal do árbitro. No final do julgamento dirigi-me ao Vítor Rodrigues e pedi-lhe desculpa pela forma como expressei publicamente o meu sentimento. "O grande mal do futsal está a nível dos dirigentes que são péssimos" A arbitragem continua a ser alvo de grande contestação. É o principal problema do futsal? A arbitragem é dos menores problemas do futsal e é apenas reflexo daquilo que os dirigentes dos clubes querem para a modalidade. O grande mal do futsal está a nível dos dirigentes que são péssimos. Por exemplo, esta época a televisão tem transmitido vários jogos e parece que está tudo bem, mas isto é uma paz podre porque para o ano, se não tratarmos das coisas o mais cedo possível, podemos deixar de ter estas transmissões e tudo volta ao que era dantes e começam as queixas contra a Federação. Quem não liga ao futsal e não quer o seu desenvolvimento são os dirigentes dos clubes que estão mais preocupados em defender a sua «quintinha» em vez de trabalharem todos em prol da modalidade. Foi por isso que falhou a Associação Nacional de Clubes de Futsal? A partir do momento em que deixei a Associação Nacional de Clube aquilo ficou condenado ao fracasso porque os dirigentes estão acomodados e preferem falar nas costas uns dos outros, e quando as coisas correm mal criticam tudo e todos e quando correm bem escondem-se e fazem de conta que não é nada com eles. As reuniões que têm existido nos últimos anos foram quase todas promovidas pelo Benfica, mas começo a ficar cansado de remar sozinho, até porque essas reuniões acabam por não dar em nada porque os dirigentes não participam nelas com a intenção de resolver os problemas da modalidade, mas para que o seu clube possa ser beneficiado em relação aos outros. Os dirigentes do futsal são mesquinhos e gostam mais de falar nos bastidores do que na cara uns dos outros, por isso enquanto não houver uma clara distinção entre interesses do clube e interesses da modalidade é complicado andar com isto para a frente. "O futsal só deu um grande salto ao nível da visibilidade mediática a partir do momento em que o Benfica entrou na modalidade" Não acha natural que alguns clubes, habituados a ter um espaço na modalidade, olhem com desconfiança para o poder do Benfica e sintam algum receio de cair no esquecimento? O Benfica é um "monstro" mas está para o bem do futsal e não pode competir sem as outras equipas. Compreendo que seja complicado para alguns dirigentes constatar que o Benfica e o Sporting são mais fortes e têm mais meios financeiros e até reconheço que a luta é desigual, no entanto, o futsal só deu um grande salto ao nível da visibilidade mediática a partir do momento em que o Benfica entrou na modalidade, e isso deve ser capitalizado pelos restantes clubes para colher benefícios e não para tentar aniquilar. O Benfica é a mola real do desenvolvimento da modalidade e isso causa muitas invejas, mas de uma vez por todas os dirigentes têm que se sentar à mesa para resolver os problemas do futsal, porque da parte do Benfica e dos seus responsáveis existe total empenhamento para a continuação do crescimento da modalidade. Este ano pode ser decisivo para a implementação do futsal na comunicação social, mas têm que ser os dirigentes a trabalhar para que isso aconteça, no entanto, parece que anda tudo cego só porque a televisão tem mostrado uns jogos. Durante a apresentação do Leandrinho voltou a contestar a opção do Seleccionador em não convocar o guarda-redes Zé Carlos para os trabalhos da Selecção Nacional. Não teme que isso possa prejudicar o jogador? Não sou o único, a julgar pelas várias conversas que tenho tido, a entender que o Zé Carlos tem lugar, pelo menos, nos cinco pré-convocados. É inaceitável e é gozar com as pessoas que o guarda-redes vice-campeão da Europa, campeão nacional, vencedor da Taça de Portugal e da Supertaça não tenha lugar numa lista de 25 nomes indicados pela Federação à UEFA, por isso julgo que existe alguma coisa que me escapa na ausência do Zé Carlos. O Seleccionador Nacional defende que se trata de uma mera opção técnica… Se é uma opção técnica então o Seleccionador Nacional não tem capacidades para treinar a nossa Selecção. "É hora de começarmos a pedir responsabilidade ao Seleccionador Nacional pelos resultados que a equipa alcança nas competições em que entra" Como assim? Independentemente da questão do Zé Carlos é hora de começarmos a pedir responsabilidade ao Seleccionador Nacional pelos resultados que a equipa alcança nas competições em que entra. Não podemos continuar a ganhar sempre às equipas mais fracas e perder com aquelas que estão ao nosso nível e depois assobiar para o lado. A Selecção Nacional fracassou no Europeu e no Mundial – o voto de louvor dado pela FPF é vergonhoso e gozador – e, por outro lado, cada vez mais há jogadores luso-brasileiros na Selecção Nacional enquanto esperanças como o Bibi, o Côco e outros não têm lugar. Então, se a Selecção Nacional não atingir as meias-finais no Europeu, o Orlando Duarte deve demitir-se? O Orlando Duarte teve um grande mérito no crescimento da Selecção Nacional e do futsal português, mas não podemos continuar a viver do passado e é preciso que apresente resultados no presente e prepare o futuro. Se as opções do Orlando Duarte não derem resultado ele deve assumir e não pode continuar a arranjar desculpas com a sorte ou as arbitragens, senão vamos continuar sem ganhar a nenhum dos tradicionais candidatos ao título. O Benfica mostrou o ano passado que é possível ganhar a equipa italianas, espanholas e belgas, mas para isso é preciso acreditar no nosso valor e jogar sem medo. A Selecção Nacional é um veículo importante de promoção da modalidade mas, neste momento, a equipa funciona como um grupo de amigos e desta forma vamos continuar a ganhar aos «marretas» e a perder com os outros. Portugal tem capacidade para criar uma liga profissional a exemplo do que acontece em Espanha ou no Brasil? O futsal só tem a ganhar com a criação de uma liga própria dentro da estrutura da Federação. Acredito, ao contrário de muitas pessoas, que em Portugal através do patrocínio de empresas ao campeonato, é possível criar uma liga só com clubes profissionais. No entanto, uma liga profissional exige clubes com estruturas directivas mais fortes e sólidas e pessoas empenhadas, competentes e que não estejam unicamente preocupados com o seu umbigo. Por outro lado, os jogadores, porque são os artistas, têm que ser mais respeitados e não podem andar com salários em atraso. Os clubes têm que se unir e conversar porque da parte da Federação existe disponibilidade para dar total autonomia à modalidade, por isso chega de bater no ceguinho e dizer que é a Federação que impede o desenvolvimento da modalidade. Se os clubes mostrarem que estão unidos, a Federação não vai colocar entraves e, por exemplo, ainda agora com a questão das televisões têm sido atropelados vários regulamentos a bem da modalidade e a Federação tem sido um bom parceiro dos clubes. "O Benfica fez pelo futsal aquilo que mais ninguém conseguiu que é dar visibilidade nos meios de comunicação social e trazer adeptos para os pavilhões" O ano passado chegou a ameaçar com a retirada do Benfica da modalidade. Essa ameaça está colocada de lado? O Benfica fez pelo futsal aquilo que mais ninguém conseguiu que é dar visibilidade nos meios de comunicação social e trazer adeptos para os pavilhões. Naquela altura senti-me desiludido com algumas formas de actuar dos nossos adversários, que tentaram tudo para nos prejudicar através de jogos de bastidores.