PARA TODOS OS GLORIOSOS

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Fonte
slbenfica.pt
01/06/2005 21:00 Um artigo com alguns mihões de destinatários... Para vocês... heróis «Em 40 anos de carreira nunca vi nada assim». As palavras, o espanto e a emoção são de Giovanni Trapattoni, o treinador europeu com mais troféus conquistados na história do futebol. Uma frase destas marca... Basta reflectir sobre a imensidão da mesma, mas também sobre a pessoa que disse cada uma daquelas palavras. Mas afinal de contas qual era a situação que Trap (como é carinhosamente conhecido no mundo do futebol) nunca teria visto em quatro décadas de uma fabulosa carreira? Sim, isso mesmo, é a festa do Benfica campeão, a festa que nasceu em alto mar, com 11 anos de profundidade, que se tornou numa forte onda (vermelha) de euforia ao longo dos últimos jogos da SuperLiga e que chegou a uma praia chamada Bessa... onde se transformou em espuma(nte) com sabor a glória. Os heróis da nação benfiquista, já todos sabem de cor quem são: plantel, direcção, equipa técnica, corpo clínico, assessoria de imprensa, funcionários do clube e da SAD, enfim, uma imensidão de pessoas que fizeram acordar o gigante adormecido. No entanto, ao longo da presente temporada, e especialmente nos últimos três meses, residiu em vários milhões de benfiquistas o dom da produção da imensidão, ou seja, a magia da criação de um estado de alma que arrepiou até o mais frio e calculista dos adeptos. Obrigado... Assim sendo, o site oficial do Benfica tem o prazer de dedicar estas palavras a todos quantos puxaram pelo clube do coração, a todos quantos agarraram nos seus cachecóis e lhes deram vida, quais águias de garras ferradas ao punho humano agitando as asas do voo dos sonhos. É de forma singela que o site oficial do Benfica sublinha que este clube nunca esquecerá o esforço financeiro realizado em troca de cada bilhete, as horas perdidas de sono em festa ou em sofrimento, as vozes roucas que se elevaram por entre os quatro anéis da Luz e ecoaram por vários estádios nacionais, enfim... a tremenda demonstração de amor ao clube. Quando por vezes se fala em fases que os clubes atravessam, fica a questão: existirá mística maior que esta? Voltando atrás no tempo Por entre a história do 31º título nacional e a final da Taça de Portugal (perdida para o V. Setúbal), ficam muitas “estórias” que aqui recordamos. “Estórias” essas que são a melhor forma de lembrar as muitas formas de ser benfiquista. Assim, quem se pode esquecer da manifestação de amor protagonizada há ano e meio aquando do falecimento de Miki Fehér? Certamente que o eterno 29 terá sorrido (com aquela expressão com que nos deixou), onde quer que estivesse, ao sentir a romaria realizada à Luz naquele triste momento. Mas Miki terá sentido uma emoção maior (vamos confiar que sim) ao ouvir, vindo cá debaixo, o grito a uma só voz: ‘Miki, Miki’. Este grito aconteceu em pleno Estádio do Bessa... a poucos segundos de o Benfica se tornar campeão nacional. Tratou-se de um momento incrível que provou que os benfiquistas não se esquecem dos seus heróis, nos bons e maus momentos. A própria equipa do Benfica, que ainda hoje “partilha” o balneário com o ex-colega, jorrou lágrimas ao sentir tal homenagem, num misturar de emoções, já que igualmente se sagrava, ali, campeã nacional. Loucura total Outras, muitas outras “estórias” demonstram a grandeza do Benfica e dos seus adeptos. O mar humano que saiu às ruas no Porto e Matosinhos, que ignorou uma claque com más intenções, que seguiu o autocarro do Estádio do Bessa ao Aeroporto (onde se tornou impossível direccionar a equipa pela entrada principal, tal a afluência dos adeptos, obrigando o plantel a rumar pela... entrada das mercadorias com vista a aceder à pista), que mais a Sul encheu Lisboa por completo (da Baixa à Expo, de Belém ao Aeroporto) e que deu intensidade à Luz naquela noite de loucos, são argumentos suficientes para deixar muitos de boca aberta. Era domingo à noite (logo véspera de dia de trabalho), mas desde Bragança a Coimbra, de Leiria à Figueira, de Aveiro a Viseu, de Ponta Delgada ao Funchal, de Beja a Faro, poucos conseguiram dormir naquela noite. Atravessando fronteiras... a festa continuou em França (o trânsito parou mesmo em certas zonas de Paris), Inglaterra, Estados Unidos (as ruas de New Bedford foram invadidas por muitas centenas), Canadá, Angola (a avenida marginal nunca viu nada assim), Bélgica, África do Sul, Moçambique, Suíça (com a loucura a sair à rua em Zurique e Genebra),Cabo Verde... enfim. “Estórias” Desde a escalada da estátua de Sebastião José de Carvalho e Melo, no Marquês, à compra de carros com oferta de bilhetes à mistura, a viagens loucas de bicicleta só para se obter um bilhete para um grande jogo... existiu um pouco de tudo nas últimas semanas da SuperLiga. Os adeptos do Benfica provaram, em locais como a Praça do Município (onde, a um dia de semana à tarde se juntaram aos milhares e gritaram o nome de cada um dos heróis antes de correrem loucos atrás do autocarro) ou os arredores do Jamor (onde se fez a festa da Taça, apesar da derrota) serem realmente únicos. Tão únicos como aquele adepto que levou uma t-shirt para o Benfica-Sporting com a seguinte inscrição: «Eu sinto o Benfica 31 536 000 segundos por ano». Como diria António Guterres, é uma questão de fazer as contas. Mas não nos esquecemos de um outro adepto, conhecido cómico muito acarinhado por todos, que pediu sempre vitórias de «quinzeeeee a zero». Esse mesmo... Se lhe subtrairmos quatro, ficamos com os 11 metros do bolo feito pelos benfiquistas da vila algarvia de Bela Curral com vista a comemorarem o título. É por causa de gente como esta que, por exemplo, o jornal ‘A Bola’ noticiou ter batido todos os seus recordes de vendas no dia seguinte à conquista do título: 305 mil jornais vendidos é obra! De entre esses 305 mil estarão, certamente pessoas como o famoso juiz do laço que vaticinou ser «esta conquista o remédio do país», ou a apresentadora que terminou uma conversa com Marcelo Rebelo de Sousa de cachecol ao pescoço, ou as muitas peixeiras do mercado de Alvalade que abrilhantaram o seu local de trabalho com bandeiras vermelhas, ou porque não aquele rapaz que veio da Austrália e andou a vaguear do Porto a Lisboa no espaço de uma semana, não sem antes ter obtido uma t-shirt toda ela autografada pelos seus heróis. Terminadas as emoções, começa a ansiedade para o futuro... Assim vive a alma benfiquista. Ricardo Soares