Entrevista: D.S.O. - Dirigentes têm de ser credíveis

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Correio Sport 2007-12-08 Entrevista: Domingos Soares de Oliveira Dirigentes têm de ser credíveis Paulo Calado 'Benfica dispõe de 40 milhões por ano', afirma Domingos Soares de Oliveira Domingos Soares de Oliveira, administrador da Benfica SAD, desmente José Veiga no caso Miccoli, diz que o contrato com a Olivedesportos não vai ser renovado. Não esconde que é adepto do Sporting mas quer que o clube da Luz seja campeão. - Correio Sport – Como analisa as últimas declarações de José Veiga? - Domingos Soares Oliveira – Não alimento polémicas com assuntos do Benfica. - José Veiga devia estar calado? - É uma decisão dele. Os profissionais do Benfica devem estar calados. - É verdade que José Veiga quis vender Simão por 15 milhões de euros? - Não posso confirmar isso. - Os processos em que José Veiga esteve envolvido, casos João Pinto e Banco Dexia, prejudicaram a imagem do Benfica? - O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, definiu que a restauração da credibilidade no clube era fundamental. Perder a credibilidade é muito rápido, recuperá-la custa muito e muito tempo. Todos os responsáveis que trabalham com o Benfica devem ter como preocupação a sua própria credibilidade. Os dirigentes do Benfica têm de ser credíveis. - É verdade que o Benfica recusou comprar Miccoli por três milhões de euros, como diz José Veiga? - A resposta é que o Benfica não recusou comprar o jogador Miccoli por três milhões de euros. - José Veiga acusa-o de preferir o golfe ao futebol. - Ninguém tem nada a ver com os meus gostos privados. - Trocava um jogo do Benfica por um jogo de golfe? - Gosto muito de futebol e, em particular, de assistir aos jogos do Benfica. - Scolari só não está no Benfica por causa de José Veiga? - Não vou responder. - Cardozo tem uma cláusula de rescisão de 50 milhões de euros? - Não comento contratos. - O Benfica comprou 80 por cento do passe de Cardozo por 9,15 milhões de euros. Está a equacionar adquirir os restantes 20 por cento do passe? - Essa situação ainda não está em cima da mesa mas poderá vir a estar. - Em Agosto afirmou que nunca esteve em guerra com José Veiga. - Mantenho o que disse. - Veiga diz que colaborou com o Benfica de forma camuflada quando deixou de ser director-geral. - Não comento. - José Veiga fala de um “ambiente ardilosamente preparado” que levou à saída de Fernando Santos. - O processo de saída do engenheiro Fernando Santos foi tratado com toda a lisura. Foi conduzido pelo presidente com total apoio do conselho de administração da Benfica SAD, que esteve sempre informado sobre o que foi conversado com o engenheiro Fernando Santos. - É sportinguista? - Sou benfiquista, trabalho no Benfica, defendo o Benfica e quero que o Benfica vença. Luto todos os dias pelo sucesso do Benfica mas nunca desmenti as minhas raízes. Tenho a clara noção de que o sucesso do clube não é o financeiro mas o desportivo. O financeiro é um meio para que a equipa seja campeã. - Alguma vez teve problemas por ser adepto do Sporting? - Esse tipo de bocas que de vez em quando são soltas deixaram de me incomodar há muito tempo. Até hoje as pessoas com quem trabalho e para quem trabalho nunca me fizeram qualquer referência menos positiva em relação a essa matéria. - O episódio Andrade e Sousa (ex-responsável do departamento jurídico, que disse que o Benfica era dominado por pessoas que não são do clube) não o afectou? - Não quero falar do dr. Andrade e Sousa. Eu respondo perante a Direcção do Benfica. - Qual é o clube mais bem gerido em Portugal? - Só pode ser o Benfica, embora aprecie os esforços dos outros clubes, em particular dos nossos dois principais rivais. Acho que os clubes estão a caminhar no sentido de se orientarem, de se preocuparem mais com os sócios. Todavia, do ponto de vista prático, o Benfica foi o primeiro a equilibrar as suas contas, a criar vantagens para os sócios e a atingir bons resultados financeiros. - Custam-lhe, de facto, as derrotas do Sporting? - Alegram-me, sobretudo, as vitórias do Benfica. - Alguma vez sentiu que Filipe Vieira podia deixar o Benfica por causa do incidente com as claques no decorrer de uma assembleia geral? - Não. O presidente, mais do que ninguém, tem trabalhado de muito perto com os sócios e com as claques. Neste momento, o assunto das claques está nas mãos do presidente do clube, que, aliás, sempre esteve muito perto dos líderes das claques. Por isso, o incidente deixou-o surpreendido. Nada fazia antever que pudesse acontecer. Mas está tudo sanado. - Quantos sócios tem o Benfica? - Estamos muito perto dos 172 mil. - Vai haver uma nova campanha de angariação de sócios? - O projecto do ‘kit’ de sócio tem sido aperfeiçoado de ano para ano. Nesta época, com Cardozo no sénior e Petit no júnior, incluímos um livro de vauchers que tem cerca de 3500 euros em descontos vários. Consideramos que o potencial de crescimento dos ‘kits’ ainda não está esgotado. Mas não escondo que será obrigatório que o Benfica, dentro de um ou dois anos, volte a inovar numa campanha de angariação de sócios. - Um estudo recente aponta para que o Benfica tenha mais de 14 milhões de adeptos. O que é que o clube está a fazer para tirar partido desse número? - Vamos ter de avançar com um desenvolvimento particular de país a país. Já tivemos iniciativas em Moçambique, Estados Unidos e Canadá e temos a clara noção de que, pela dimensão do mercado, o próximo país terá de ser Angola, vários países europeus, mais Cabo Verde. Mas estes projectos só podem desenvolver-se com a força que o Benfica necessita se tiverem toda a parte das transmissões televisivas associadas, em particular quando o Canal Benfica estiver no ar. Para cada um dos países, é necessário uma estratégia própria, com um conjunto de vantagens para os seus sócios. E ainda a disponibilidade por parte da equipa maior do que tem sido até agora, mais o canal de televisão. - Quando é que o Canal Benfica está pronto? - Pensamos ter o canal no ar no arranque da próxima época. Temos duas alternativas: que faça parte do pacote básico do assinante da TV Cabo, Cabovisão ou outro; ou tipo Sport TV, em que o simpatizante do Benfica tem de fazer uma assinatura adicional para o ver. Mas ainda não tomámos qualquer decisão. Temos cinco propostas e a maioria aponta para que o Canal Benfica seja aberto. Um canal em que o sócio não tem de pagar mais além do que já paga para ter acesso ao cabo. Queremos que as emissões cheguem o mais longe possível. - A perspectiva económica continua a prevalecer? - Já não precisamos dessa receita nacional. Agora é mais importante que o próprio clube tenha um canal que lhe permita divulgar aquilo que é o benfiquismo. Enfim, o canal passou agora a ser parte da estratégia de comunicação e não apenas um mero mecanismo de encaixe financeiro. - Os jogos ficam de fora? - Tem de ser. Dos 12 clubes espalhados pela Europa que têm canais não há nenhum que tenha posto os jogos no próprio canal a não ser, num ou noutro caso, em sistema de pay-per-view. Mas vamos ter os treinos, modalidades, entrevistas. - Na maioria dos 20 grandes clubes mais ricos da Europa, as receitas dos contratos televisivos cobrem mais de 50 por cento dos orçamentos. No Benfica, essa percentagem ronda os dez por cento, cerca de 7,5 milhões de euros/ano. - As receitas publicitárias em Portugal são muito mais baixas do que as dos cinco grandes países da Europa do ponto de vista futebolístico. É verdade, mas eu contraponho em relação a isso o seguinte: quanto ganha quem detém e vende os direitos televisivos, seja através das assinaturas da Sport TV ou receitas de publicidade? O Benfica pode ir buscar um valor muito superior ao que recebe hoje. - Pode chegar a quanto? - Se a média dos grandes clubes europeus anda nos 50 por cento, no caso do Benfica significaria 50 a 60 milhões de euros. Entre esses números e os 7,5 milhões existe um espaço de manobra significativo que tem de ser trabalhado. - Como são as relações com a Olivedesportos, empresa que detém os direitos televisivos? - Excelentes. Mas o presidente do Benfica já declarou que não pretende renovar o contrato com a Olivedesportos, que termina em 2013. Eu também entendo que terá de existir sensibilidade dos nossos parceiros, no sentido de que o Benfica continue a ter uma progressão significativa do ponto de vista desportivo. Só que para isso é preciso dinheiro para investir naquilo que são os seus activos principais, os jogadores. Para isso tem de melhorar a sua capacidade financeira, nomeadamente os contratos. Vários patrocinadores já compreenderam esta situação e aceitaram rever os contratos que assinaram com o clube. - Quanto valem os patrocínios e a publicidade para a época de 2006/07? - Cerca de 15,5 milhões de euros. Mais 16 por cento do que na temporada passada, em que o número chegou aos 13,4 milhões. - Até 2013, o Benfica espera continuar a receber 7,5 milhões/ano da Olivedesportos? - Não. Nesta época o montante manteve-se mas na próxima vamos tentar elevar esse valor. - Quando é que prevê que o Benfica tenha dinheiro para comprar um jogador por 40 ou 50 milhões de euros? - O Benfica tem feito investimentos significativos em jogadores e infra-estruras nos últimos anos, casos do centro de estágio do Seixal, que custou 16 milhões de euros, do estádio, 160 milhões. E no plantel deste ano investimos cerca de 20 milhões. Temos uma situação financeira estável, que vai libertar cerca de 40 milhões de euros. Isto significa que o Benfica, entre as receitas que tem e os custos directos – fora amortizações, impostos, juros e endividamento bancário –, dispõe de 40 milhões. Foi o que sucedeu no ano passado. Por isso, se alguém entendesse, já amanhã, fazer um investimento de largas dezenas de milhões de euros acredito que o clube era capaz de encontrar mecanismos próprios de ir buscar esse valor. - Quanto é o passivo do Benfica? - No ano passado, o passivo consolidado era de 315 milhões de euros. Em Junho deste ano era de 310 milhões. No entanto, aquilo que mais importa dizer aos benfiquistas é que o passivo bancário manteve-se estável de um ano para o outro. O Benfica não está a contrair mais dívida. Está, sim, a transformar parte da sua dívida de curto prazo em endividamento de médio prazo. - E em relação aos bancos? - O total é de 120 milhões de euros. - Quando é que o Benfica poderá ter o passivo a zero? - No mundo dos negócios há uma coisa que se designa por ‘disciplina da dívida’. Se o quiser, o Benfica tem a possibilidade de reduzir rapidamente o seu endividamento bancário a zero, através de operações relacionados com o estádio. Mas entendemos que esse não é o caminho certo, apesar de já termos sido abordados por parceiros financeiros para o fazer. Preferimos rigor nos investimentos que fazemos. - José Antonio Camacho vai poder ter reforços em Janeiro? - A administração da SAD tentará corresponder a essa expectativa. - Quanto dinheiro pode o clube gastar na reabertura do mercado? - Não posso falar de verbas. - A eliminação da Liga dos Campeões vai provocar alguns problemas financeiros? - Se passarmos a próxima eliminatória da Taça UEFA o nosso orçamento ficará cumprido. - Quanto já valeu a presença do Benfica na Liga dos Campeões? - Entre 12 e 13 milhões de euros, já com os dois próximos jogos da Taça UEFA incluídos. - O título está, de facto, entregue ao FC Porto? - Não, a diferença pontual é recuperável. Depois de um arranque mais tímido, o Benfica recuperou e só teve depois um jogo que não correu bem, diante do FC Porto. E tem feito boas exibições. Prova disso é que a média de assistências no Estádio da Luz ronda os 45 mil espectadores, que é superior às dos últimos anos. - Como define uma época perdida para o Benfica? - É quando não se conquista troféus, assumindo desde logo que os objectivos económico-financeiros são cumpridos, como tem acontecido. - Se o Benfica não ganhar títulos, a situação de José Antonio Camacho poderá ser revista? - Normalmente, a intenção é que os contratos sejam levados até ao fim. Neste momento existe uma grande satisfação do conselho de administração da Benfica SAD em relação ao trabalho do treinador. - Gostaria de ver Rui Costa como presidente do Benfica? - Essa é uma situação que diz respeito ao actual presidente e aos sócios do clube. - Há tempos falou da possibilidade de o Benfica realizar concertos na Praça Centenário e que isso era uma boa fonte de receitas... - ... em 2005 fomos abordados por uma entidade que falou da possibilidade de termos um palco fixo nesse local. Mas depois faltaram as autorizações e esse projecto está esquecido. - E, por outro lado, espectáculos no Estádio da Luz? - Tivemos as Novas Sete Maravilhas do Mundo, em Julho, e comprovámos que a infra-estrutura do recinto não está preparada para esse tipo de eventos. A relva, por exemplo, teve de ser mudada. Nem sei se alguma vez vai estar. Teríamos de fazer investimentos, e não creio que isso vá acontecer nos próximos tempos. "CONTRATOS MELHORADOS" - Os contratos dos jogadores vão ser revistos, devido à aplicação da carga fiscal máxima? - Essa realidade não é nova. Quando negociamos contratos, os valores são discutidos do ponto de vista bruto. Se a carga fiscal aumenta, é o jogador quem suporta esse aumento. Contudo, já houve melhorias de contrato mas que nada tiveram a ver com a questão fiscal. - A OPA de Joe Berardo falhou. Na altura, disse que o valor proposto, 3,50 euros, era insuficiente. Quanto vale uma acção da Benfica SAD? - Pelas regras da CMVM, não posso responder a essa questão de forma directa. No entanto, digo o seguinte: quem detém acções tem uma grande dificuldade em transaccioná-las, devido a uma ligação quase emotiva. Lembro que no último dia as acções estavam a um valor mais baixo do que o valor que o comendador tinha oferecido e mesmo assim as pessoas não venderam. O HOMEM DO CANAL (Opnião do jornalista João Querido Manha) Os benfiquistas já nem reagem quando as notícias da manhã lhes trazem revelações do tipo “responsável do futebol, afinal, é sócio do FC Porto” ou “administrador da SAD é adepto do Sporting”. A direcção de Luís Filipe Vieira passa à história do clube pela conclusão de não haver, num universo de seis milhões de adeptos, gestores competentes nem administradores insuspeitos, já para não falar de técnicos com matriz. E no final deste ciclo atípico, é inevitável que os ajustes de contas se travem entre pessoas que não sentem o clube e apenas se servem ou serviram da sua grandeza para desenvolverem projectos de afirmação pessoal. Seja no mundo do futebol, seja no da gestão. Quem tem as mãos mais perto da caixa terá sempre vantagem numa luta pelo poder. Não é à toa que José Veiga trouxe à colação a decisão financeira de não contratar Miccoli definitivamente para ilustrar os malefícios das decisões tecnocráticas sobre os instintos desportivos. Domingos Soares de Oliveira é agora o alvo a abater, o sportinguista que caiu nas boas graças do volúvel presidente benfiquista e que gere actualmente os recursos futebolísticos, com uma frieza irreconhecível e incaucionável a partir do 3.º Anel . Com uma vida bem sucedida na gestão de novas empresas da área informática e sem um passado desportivo que o recomendasse, para lá da boa prática regular de golfe, Soares de Oliveira trocou um cargo importante num consórcio ibérico pelo mundo do futebol, chegando ao Benfica como profissional altamente especializado. As boas práticas de gestão podem ter beneficiado a organização do Benfica ao longo dos primeiros anos, através de uma reorganização do universo empresarial do clube e do sucesso de alguns empreendimentos comerciais e de marketing. Domingos Oliveira reclama, em particular, méritos pelo crescimento do número de sócios e pela ideia do famoso kit, mesmo se não consegue de forma alguma pôr de pé o projecto emblemático que vem anunciando em cada entrevista, desde 2003, o já mítico e se calhar utópico Canal Benfica, que nunca mais consegue descolar, por incapacidade manifesta de afrontar o seu homónimo Joaquim da Olivedesportos, o maior detentor da marca Benfica. Fará em Fevereiro dois anos que o administrador encarnado anunciou com pompa e circunstância numa das suas cada vez menos raras aparições na imprensa que daí a 15 dias seria anunciado o “parceiro estratégico” do Benfica no tal canal. Até hoje. Aliás, o grande denominador comum das dificuldades do Benfica ao longo dos últimos anos tem residido precisamente na má definição das parcerias estratégicas do clube, talvez o mais errático do País, completamente à mercê de uma vaga de oportunistas profissionais sem referência encarnada. A simples alusão de José Veiga a uma possível candidatura à presidência benfiquista permite pensar que até Soares de Oliveira pode, a médio prazo, querer passar de administrador profissional a dirigente eleito, porque entretanto se fez sócio e vai acumulando prerrogativas, à semelhança das que o próprio Luís Filipe Vieira terá das suas antigas ligações formais a Sporting e FC Porto. Não existe qualquer razão objectiva para o licenciado em Informática e Gestão de Empresas de 47 anos não conseguir ser um bom gestor do universo empresarial do Benfica, mas para lá dos recursos que a própria equipa de futebol tem conseguido gerar, em particular nas provas europeias, muitos dos projectos inovadores não têm passado do papel. Lançar um canal de televisão, que foi sempre apresentado como um projecto simples e pacífico, já se afigura hoje tão ou mais complicado do que contratar Scolari para treinador do Benfica. Octávio Lopes SUBSCREVER ALERTAS SMS CORREIO DA MANHÃ Os Títulos do Dia no seu telemóvel! Envie CMTD para o nº 4644. As Notícias de Última Hora no seu telemóvel! Envie CMUH para o nº 4644. Custo por mensagem: €0,30 | Mais serviços em: www.correiodamanha.pt/alertas