Andrei Karyaka «Esta camisola vai ficar-me tão bem»

Fonte
abola.pt
A Ucrânia viu nascer Andrei Karyaka no dia 1 de Abril de 1978. Mais precisamente a cidade de Dniepro Pecrovsk, lar do clube com o mesmo nome que o Benfica derrotou na Taça dos Campeões Europeus e na caminhada para uma das suas últimas finais europeias. Criado por uma família humilde, mas a quem nada faltou, se a artigos de primeira necessidade nos referirmos, Karyaka foi um aluno razoável, mas pouco dado a ambições curriculares. Era o futebol a sua grande paixão em miúdo, manteve-se a sua grande paixão em adolescente e não deixaria de o ser quando se tornou homem. Assim, era na área da educação física que se destacava e, depois de atingido um nível educacional muito semelhante ao nosso 12.º ano de escolaridade, meteu mesmo mãos à obra para se tornar naquilo que é hoje-jogador profissional e de alta competição. Karyaka viveu na Ucrânia até aos 22 anos, passou por clubes como CSKA Kyev e Metalurg Zaporojie, mas seria na Rússia que encontraria a sorte grande. Uma delas, aliás, pois há mais duas: Ruslana, a sua bonita mulher, e Lisa, a filha de três anos. A outra sorte grande foi o Krylia Sovetov Samara, clube modesto no âmbito das federações russas, mas amplamente dominador no quadrante de Samara. E foi ali, cinco anos volvidos, que despertou a atenção de Benfica e Jorge Mendes, empresário fundamental na transferência do extremo-esquerdo para Portugal. Não é, pois, sem uma lágrima ao canto do olho que ele e a esposa se despedem da cidade do aço, das árvores e da cerveja. Mas foi também com um suspiro de ansiedade que falaram a A BOLA, horas antes da viagem para Moscovo, primeira escala na longa jornada até Lisboa. Ficou a consolação pela sensação de agarrar a primeira camisola: "Vai ficar-me tão bem!" Preparado psicologicamente - Já conta os minutos para chegar a Portugal? - Sim, estou muito ansioso por chegar a Lisboa e ao Benfica. - Algum receio? - Estou um pouco preocupado, porque vou para um país novo, com novos costumes, nova língua e novas leis. Não sei se a polícia portuguesa costuma multar os futebolistas... Mas, seriamente, penso que a língua é o mais difícil. - Vai, no entanto, ao encontro do Benfica. Um grande clube. É um desafio apaixonante? - Sem dúvida. Li, há alguns anos, que o Benfica é um dos seis maiores clubes do Mundo no que aos adeptos diz respeito. Sei que tem adeptos por todo o lado, seja em Portugal ou estrangeiro. - O facto de o presidente do Krylia [German Tkachenko] ter sido fundamental na escolha do clube coloca-lhe algumas reservas? - Bom, não se pode dizer que a escolha não tenha sido também minha. Afinal, desde há um ano, altura em que se falou pela primeira vez da minha possível transferência para o Benfica, que me preparei psicologicamente para partir. Por isso não considero que se trate de um problema. - À sua espera está um estádio amplamente elogiado e onde até já jogou. Então, ao serviço da Rússia, teve todo o público contra si. Desta feita, porém, terá toda a gente a ser favor. Sente-se pressionado? - Não, claro que não, será muitíssimo bom. Gosto muito do Estádio da Luz. Entusiasma. E vai ser giro actuar perante 60 mil adeptos. Trocou camisola com Miguel - Muitos dias se passaram desde que chegou a acordo com o Benfica. Já se familiarizou um pouco mais com a equipa? - Já tinha dito que conhecia bem a forma de jogar de Simão. Mas conheço também Miguel, com quem troquei a camisola no jogo do Euro-2004, e Nuno Gomes. Mas terei tempo de conhecer todos os outros. - Já falou com Ronald Koeman ou Luís Filipe Vieira? - Não, ainda não tive essa oportunidade, já que foi sempre o presidente a conduzir as negociações. - O treinador holandês que o espera é um nome muito respeitado na Europa e um pouco por todo o Mundo. É um estímulo? - Claro que sim. Gotava muito dele no tempo em que era jogador e penso mesmo que foi no seu tempo o detentor do mais forte pontapé. - Antes de si muitos russos [Yuran, Kulkov, Mostovoi, Ovchinnikov e Alenitchev] passaram pelo futebol português. Apesar de alguns problemas, todos eles deixaram uma imagem de prestígio e até conquistaram vários títulos. É um legado e uma responsabilidade que o incomodam? - Refere-se às noitadas ou à carreira dentro de campo? Estou, claro, a brincar, tanto mais que tenho uma família que não me deixa fazer asneiras. Dentro de campo, isso sim, vou tentar honrar a qualidade do jogador russo. Champions? Vamos a isso! - O presidente do Benfica disse, há pouco tempo, que o seu sonho passa por ganhar a Liga dos Campeões. O clube está a tentar dotar-se de jogadores de muita qualidade para o conseguir. Que pensa disso? - Os meus planos passam, neste momento, por concentrar-me unicamente no Benfica. Logo, se o sonho do presidente é ser campeão europeu e uma vez que aguardo com grande expectativa a minha estreia nessa grande competição, quero ajudar o Benfica a atingir esse objectivo, a ganhar a Liga dos Campeões. - Que recordações tem de Portugal que não as do Euro-2004? - Bom, lembro-me que, em estágios realizados no Algarve, joguei contra o Olhanense. - O Benfica pode ser um trampolim para uma presença mais forte na Selecção da Rússia. Concorda? - Claro que sim. Penso que terei uma maior confiança quando estiver na equipa nacional e será certamente muitíssimo importante para mim no que a esse capítulo diz respeito.