"Habemus Campione"

Fonte
slbenfica.pt
Quando Pedro Henriques apitou para o final da partida no Bessa, a reacção de todo o staff benfiquista, de todos os milhares que “nadaram” na onda vermelha e de milhões de adeptos espalhados por todo o mundo, foi algo de indescritível que se expressou de forma perfeita através de reacções de entusiasmo, de alegria e, porque não dizê-lo, de loucura. A massa humana que este Benfica arrasta é realmente assustadora, no bom sentido. E isso ficou visível nesta noite e madrugada de domingo para segunda-feira. Um título universal O título celebrou-se em todas as cidades, vilas e aldeias, de norte a sul do país, mas a festa “ganhou pernas” para ultrapassar fronteiras e ganhar vida na Suíça, Canadá, Estados Unidos, Luxemburgo, Angola, África do Sul, Brasil, Cabo Verde, Alemanha, França, enfim... Quanto ao Porto, cidade onde se decidiu o título, foi ontem uma nação... benfiquista. O encarnado pintou as ruas da invicta e só uma estátua se “salvou” do encanto benfiquista. De facto, foi estranho ver alguns adeptos de azul e branco vestidos ocuparem o monumento da Avenida dos Aliados e a festejarem... o segundo lugar. Felizmente, os adeptos do Benfica não têm por hábito apoderar-se de estátuas, nem dar largas à alegria quando não são campeões. No entanto, respeite-se a atitude de cada um. A longa viagem dos campeões Todo o staff do Benfica rumou, então, do Bessa até ao Aeroporto Sá Carneiro no topo de um enorme veículo de caixa aberta. O trajecto foi demorado, muito demorado mesmo, devido aos milhares e milhares de benfiquistas do Norte que fizeram questão de felicitar o novo campeão. Os jogadores, loucos de alegria, saltavam e cantavam com o povo. Muitos deles viviam a sua primeira noite enquanto campeões e isso notava-se nos seus olhos. Entretanto, em Lisboa, desde cedo que o Marquês de Pombal e os Restauradores foram dois pontos de romaria, mas assim que se soube que a equipa iria viajar para a Luz, mais de 50 mil pessoas para lá rumaram e criaram um ambiente fenomenal (mas diga-se que, ao longo das horas, muitos milhares desistiram e foram mais cedo para casa, enquanto que outros chegavam mais tarde, o que significa que este número foi, no total, mais elevado e só não aumentou ainda mais porque os segundo e terceiro anéis não foram abertos ao público em geral). Um espectáculo arrepiante O slbenfica.pt esteve no relvado da Catedral até às cinco da manhã e pode assegurar ao leitor que a festa que se fez nas bancadas da Luz foi realmente arrepiante. Todos saltavam e cantavam, à excepção de um bebé que dormia num banco, enrolado num cachecol, o que deixou o seu pai duplamente satisfeito. Enquanto que os animadores de serviço (onde se destacava Daniel Oliveira) impunham o ritmo e puxavam por milhares e milhares de gargantas, vários quilómetros quadrados circundantes da Luz enchiam-se de adeptos. O trânsito parou, a cerveja jorrou, os cachecóis ganharam vida, as bandeiras uniram-se ao vento... Enfim, era a magia no ar. Nos ecrãs gigantes da Luz, viam-se imagens da equipa a desfilar no Porto, a despedir-se da Invicta no Aeroporto Sá Carneiro perante muitos milhares de adeptos. Passavam já das duas da manhã quando o avião que transportava a equipa aterrou no Aeroporto da Portela, onde nova massa humana recebeu os heróis. O relógio avançava para as quatro da manhã e cerca de 50 mil pessoas permaneciam nas bancadas, nunca se cansando de fazer a festa, fabricando coreografias de grande esplendor visual, cantando temas como “Glorioso SLB, Glorioso SLB”, “Ninguém pára o Benfica” ou “Campeões, campeões. Nós somos campeões”. O grito do “Rei” Mas o momento mais alto vivido na Luz antes da chegada dos campeões, foi a presença de Eusébio no centro do relvado. A forma como o público ouviu as palavras do “Rei” e como o saudou, de seguida, foi realmente arrepiante. De tal forma que Eusébio não se conteve e gritou no centro do terreno: «Nunca ninguém gritou com tanta força a palavra campeão!» Momentos depois, Eusébio dizia-nos que «esta conquista vai ficar na história», não se esquecendo daquele que considerou ser sempre seu «amigo». «O Benfica é campeão graças ao meu amigo Trapattoni, porque ele sempre foi campeão por onde passou. É um grande treinador e eu sempre acreditei nele. Por outro lado, os jogadores e a direcção são outros dos grandes obreiros destes momentos. Obrigado a eles e a esta moldura humana incrível», desabafou. Música, águias, heróis e... a invasão Entretanto, muitas eram as bandas que desfilavam no palco colocado estrategicamente no centro do relvado. Da Weasel, Anjos, Ruth Marlene, João Portugal, Dina e, claro, UHF, que fizeram soar o “Sou, sou... Sou, sou... Benfica” perante a loucura vivida nas bancadas, eram alguns dos mais aplaudidos. No total, foram mais de 30 as bandas que desfilaram ao longo da noite... até que se ouviu a frase mais esperada: «Os nossos heróis chegaram à Luz». O ambiente tornou-se ensurdecedor... De seguida o silêncio. Uma criança grita: «Vitória, vem!», mas devido ao fumo gerado pelos foguetes a águia não faz o seu habitual voo picado. À segunda tentativa... o delírio. A Vitória aterra mesmo na relva e o seu tratador chora de emoção. Entretanto, Paixão deu a conhecer a Glória, a outra águia de estimação dos benfiquistas, aos adeptos do primeiro anel, bem como aos muitos VIPs rendidos ao seu porte. E assim se passaram mais alguns minutos de grande anseio. Até que se ouviu a chamada ao palco da equipa médica, do staff, dos jogadores (um a um) e dos elementos da direcção. Simão e Mantorras foram os mais aplaudidos, mas também Trapattoni ouviu uma tremenda ovação. Todos eles gritaram, pularam, deliraram no palco de todas as emoções, enquanto que as claques disparavam foguetes vermelhos e uma faixa de enormes dimensões se elevava na bancada dizendo: «Habemus Campione», ou «Temos Campeão». Jorrou champanhe, choveram aplausos... O ambiente estava ao rubro, mais do que nunca. De tal forma que as barreiras de segurança foram mesmo quebradas e muitos milhares invadiram o relvado, obrigando os jogadores a correrem para os balneários. E foi já nesse canto sagrado do plantel que ouvimos Luisão dizer que «gostaria de ficar neste maravilhoso clube», bem como Nuno Assis confessar querer «conquistar a dobradinha», enquanto que Nuno Gomes lembrava que «nem por sonhos» quer perder a final da Taça. Moreira lembrava «a semana mais feliz» da sua vida por duas razões: «O nascimento da minha filha e o facto de ser campeão pelo Benfica, depois de ter sido anteriormente enquanto júnior». Enfim, foi a loucura na Luz... mas um pouco por todo o mundo também.