Karadas - O Bom Rebelde

Submitted by Portinha on
Fonte
www.abola.pt
NUM ápice tudo muda: as dúvidas em torno das suas capacidades deram lugar a cânticos personalizados das claques do clube. Ao marcar dois golos e dar outro a marcar em Aveiro, Azar Karadas ganhou a admiração dos adeptos. Pelo menos, já deixou de ser um ilustre desconhecido. A BOLA dá-lhe agora a conhecer quem é este jovem de 23 anos, filho de uma paixão proibida, com um carácter explosivo dentro de campo mas sereno fora das quatro linhas. É o bom rebelde da Luz. Minuto 42: após muita luta entre os centrais, no seu jeito muito peculiar, finalmente a sorte vem na sua direcção. Ou melhor, a bola. «Esperei que ela viesse e esta bateu-me no joelho. Acho eu...», assim narrou, na primeira pessoa, o primeiro golo obtido pelo novo clube que representa. A frase, simples, representa a sua forma de estar fora do relvado: humilde, tímido mesmo quando ainda não se encontra totalmente integrado no seu meio ambiente, como é o caso. Mas Azar Karadas é o típico exemplo da maturação de um jogador. Na Noruega for a m conhecidos alguns problemas que viveu à margem do futebol. Em Novembro de 2000, celebrando numa discoteca a vitória com um colega ao serviço da formação que representava, o Brann, foi detido. Uma noite na prisão para refrescar as ideias. Tinha então 19 anos. Pai Eggen Segue-se a transferência para o Rosenborg. O melhor que lhe podia ter acontecido. No comando técnico estava um senhor chamado Nils Arne Eggen, cabelos brancos, muita sabedoria e percursor de uma disciplina construída à base do respeito pelo outro e em que a palavra vedetismo não entra no vocabulário colectivo. O caldeirão arrefece, Karadas torna-se mais moderado. A excepção deu-se num jogo de treino em La Manga, Espanha, onde o clube norueguês realiza todos os anos estágios de pré-temporada. Num jogo frente a uma formação russa, o avançado envolve-se numa verdadeira luta de ringue com um defesa. «Ele batia como uma menina», disse, no fim do jogo... a priori amigável. Está bem onde está o sol O espírito rebelde não é próprio de um nórdico. Mas a verdade é que Karadas não é o exemplo do cidadão norte-europeu. A sua educação é norueguesa mas o sangue que lhe corre nas veias é mediterrânico. Filho de um amor proibido à luz da história — mãe grega e pai turco, duas nacionalidades que não se conjugam — Karadas sempre demonstrou vontade em sair da Noruega. «Quero jogar num país onde haja sol», disse a dada altura. Na tranquilidade da família O jogador que marcou dois golos ao Beira-Mar e que cometeu a proeza de bisar no jogo de estreia no campeonato — nos últimos dez anos apenas Paulo Nunes o tinha conseguido — é agora um homem diferente. Está mais calmo, mais maduro e mantendo o profissionalismo de sempre. A adaptação a Portugal tem sido a melhor e o nascimento da filha, a qual baptizou de Tea, foi determinante para repensar prioridades. Não é casado mas está junto com a namorada de longa data. Ambas já se encontram em Portugal. E foi na tranquilidade da família que viveu o day-after de Aveiro. Terá recebido um beijo por cada golo?