As lágrimas continuam por secar

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www.abola.pt
Eram 22.15 horas quando Luís Filipe Vieira se reencontrou com os pais e irmã de Fehér. Foi à porta do cemitério de Gyor. Descobrir a campa de Fehér foi fácil: era a mais bonita. Com muitas luzes, flores, fotografias, camisolas. As lágrimas continuam a correr e até os mais fortes sucumbem. Com tristeza, com saudade, mas também com paz e com o sorriso de Fehér no rosto. Paula Pinho, da Assembleia Geral, depositou um ramo de flores. Filipe Vieira uma camisola do Benfica, número 29 e com uma mensagem dos jogadores. Onde dão conta da saudade e da vontade de ali estarem todos juntos para lhe contarem como conseguiram ganhar o campeonato. E Luís Filipe Vieira acabou por ficar mais alguns minutos, sozinho, a conversar com Fehér. A presença de Miki manteve-se bem viva no museu, a poucos quilómetros, num andar com três salas, ao pé do restaurante do pai. Um trabalho exemplar, com milhares de peças — e muitas ficaram de fora—desde camisolas, artigos de jornais, fotos... E até um vídeo que passa 24 horas por dia com imagens de golos, jogos, momentos inesquecíveis. Um museu que até já foi visitado por portugueses que por aqui passaram. Luís Filipe Vieira emocionou-se. Tal como Eusébio, Paula Pinho, João Salgado e Cunha Vaz, da comitiva encarnada. Lágrimas partilhadas com o pai Miklos Fehér, a mãe Aniko (como dói ver uma mãe chorar) e a irmã Orsolya. Mas, no final, fica a sensação de que Fehér continua a cumprir o milagre de nos unir e de trazer ao de cima o que de melhor cada um de nós tem. A noite terminou à mesa, em partilha, com sorrisos cúmplices. Prémio Humanidade para Benfica A visita aconteceu ontem à noite devido à presença do Benfica na Gala do Desporto Húngaro 2004 para receber o Prémio Humanidade. Uma homenagem sentida dos jornalistas magiares, que ficaram comovidos com a forma como o clube e os portugueses sentiram a morte de Fehér e mostraram a sua solidariedade. De resto, este foi o ponto mais alto da gala, o único em que verdadeiramente se sentiu silêncio na sala. Filipe Vieira e Eusébio foram ao palco para receberem o prémio e estes retribuíram com uma salva do Benfica. Filipe Vieira até tinha discurso preparado, mas não estava contemplado no protocolo. Ainda assim falou a lembrar a «perda de alguém muito querido». Prometeu que a equipa voltaria para festejar com Miki o título. No discurso, pensava dizer que o Benfica não deveria ser homenageado por algo que fez porque sim. Porque Fehér o merecia. «O prémio Humanidade também é teu. Miki. Foste tu um dos que nos ensinaram a merecê-lo», lia-se na mensagem do presidente. E tínhamos mais coisas para escrever sobre o que pensava Filipe Vieira dizer e sobre o que conseguiu falar. Mas nada nos marcou mais na noite de ontem do que as lágrimas num homem de tão forte personalidade. As lágrimas continuam por secar. Trazem-nos saudades de Fehér. Mas também nos limpam a alma. Hoje, se quisermos, todos podemos ser melhores.