Manuel Vilarinho e a "sua terapia" para as modalidades

Fonte
A Bola
Manuel Vilarinho e as suas ideias Para o presidente do Benfica existem nesta questão duas realidades incontornáveis. A primeira: as modalidades só podem subsistir se forem sustentadas por patrocínios. A segunda: caberá sempre aos sócios do Benfica, reunidos em Assembleia Geral, tomar a decisão sofre o futuro das modalidades ditas amadoras no clube. «O Benfica vai ter de tomar decisões muito brevemente porque se está a aproximar a data das inscrições das equipas nas respectivas provas e não há mais tempo a perder», disse Manuel Vilarinho a A BOLA, ontem, numa curta mas esclarecedora entrevista. — Como caracterizaria a actual situação das amadoras? — A situação está perfeitamente definida. As modalidades amadoras só podem subsistir se tiverem patrocínios externos ao clube que as tornem auto-sustentáveis. De outra forma, o Benfica não tem hipóteses de manter essas actividades e, muito menos, não se pode exigir ao futebol e à SAD do futebol que sustentem as modalidades amadoras do clube. «Evoluções positivas» — Nunca houve uma evolução positiva ao longo destes dois anos e meio que já leva o seu mandato? — Felizmente, houve muitas evoluções positivas e os próprios sócios do Benfica reconhecem-no sem esforço. O Benfica racionalizou-se do ponto de vista da sua conta de exploração e promoveu uma redução drástica das suas despesas de estrutura. Mas, apesar de tudo isto, ainda não atingiu o ponto de equilíbrio e ainda tem um défice de exploração da ordem dos 100 mil euros por mês. É evidente que ainda podemos reduzir mais as despesas, mas não há muito mais a fazer. — Qual é o peso das modalidades nessas contas? — Depende das modalidades e, obviamente, depende dos patrocínios. Todos sabemos que estamos em plena época de recessão económica e as empresas que sustentam este tipo de actividades desportivas através de patrocínios e de publicidade estão a reduzir drasticamente as suas despesas com este tipo de mercado. Há uma redução violenta do apoio que existia e que, francamente, já não chegava para fazer face às despesas. — Há uma deliberação antiga da Assembleia Geral do clube que obriga a que 10 por cento da quotização seja para as modalidades amadoras... — Foi uma deliberação tomada dentro de um circunstancialismo que já não existe. Temos de olhar fria e lucidamente para a questão e para os números. Se 10 por cento da quotização forem afectos às modalidades, o Benfica deixa de pagar os impostos que ainda tem para pagar, deixa de poder honrar os seus relevantes compromissos bancários, deixa de poder pagar salários e nunca estaria em condições de subsistir a não ser recorrendo a um maior endividamento ou, pior ainda, vivendo à custa da SAD, coisa que não pode acontecer. Nenhuma suspensão até à assembleia — Qual é, então, o caminho? — Temos consciência de que existe uma deliberação da assembleia geral sobre o dotamento financeiro das modalidades e entendemos que a delicadeza desta matéria obriga a uma decisão que não pode passar só e exclusivamente pela direcção do clube. A questão da subsistência das modalidades é matéria a discutir pelos sócios. De outra maneira não poderia ser, mesmo em ano de eleições. — Vai haver uma Assembleia Geral para o efeito? — Previamente a essa assembleia, a direcção do clube vai promover esse debate e vai habilitar os sócios do Benfica com a informação necessária para que possam formar um juízo sobre o que se passa neste domínio e para que possam tomar a deliberação mais útil e proveitosa para o clube. — Até lá, qual vai ser a realidade das modalidades no Benfica? — Ninguém no Benfica está a pensar em suspender as amadoras antes da referida e decisiva Assembleia mesmo que isso implique, como vai implicar, o agravamento financeiro do clube. Resta-nos agir de forma a minimizar as consequências financeiras neste plano, o que conduz a outro aspecto da questão... — Que aspecto? — Na minha opinião, o Benfica não pode sustentar modalidades de alta competição para... perder. O nome, o prestígio e a marca Benfica não podem ser diminuídos com equipas que não nos permitam sair vencedores das respectivas competições. E não é essa a realidade com que hoje nos deparamos. Este é um vector importante no debate a que vão ser chamados todos os sócios do clube. A capacidade competitiva possível nas actuais circunstâncias tem de ser forçosamente enquadrada na discussão desta matéria. Enorme redução da massa salarial — É lícito concluir que o Benfica ainda não se libertou do pesadelo financeiro em que viveu nos últimos anos? — Em dois anos e meio desta Direcção, o Benfica pagou milhões de contos de responsabilidades em atraso que se não tivessem sido pagos teriam comprometido a possibilidade do clube subsistir. Falo do clube e não das modalidades. O Benfica continua a fazer um esforço enorme para se redimensionar. A massa salarial global do clube passou de 7 milhões de euros por ano para 2 milhões de euros por ano, e a tendência é para baixar. — Quando pensa que vai ocorrer essa Assembleia Geral? — Faz todo o sentido e lógica que esta discussão seja incluída na próxima Assembleia Geral do orçamento, garantindo eu, pessoalmente, aos benfiquistas, a promoção de um debate aberto sobre o tema e o fornecimento de informação fundamental, de modo a que os sócios possam decidir cientes da realidade e sem o barulho de fundo das demagogias fáceis. Nesse sentido, pedirei ao presidente da Assembleia Geral, dr. Paulo Olva Cunha, que agende este ponto fulcral na ordem de trabalhos da assembleia do orçamento. — O que espera dos sócios do Benfica nessa reunião magna? — Serenidade e bom senso. Espero, sobretudo, que esta discussão sirva para unir o clube e não para o desunir. Espero uma discussão apaixonada, mas uma discussão que se situe num plano que não provoque divisão. A obrigação desta direcção é fornecer todos os dados aos sócios e promover um grande debate interno. — Vai continuar a haver basquetebol até essa assembleia geral? — Até à Assembleia Geral, o Benfica fará o necessário para manter as modalidades sem prejuízo dos interesses do clube.