Miguel - Um jogador de nível Mundial

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www.record.pt
Um jogador de nível mundial Desde Roberto Carlos que o futebol não gerava, a partir de zonas recuadas, fenómeno criativo tão eloquente. Nem via um defesa exercer peso tão esmagador no rendimento de uma equipa 1. Lá atrás, a um canto do palco, onde os holofotes não chegam e as atenções se dispersam, há notícias de estranha agitação; naquela zona impenetrável à magia e pouco fértil em emoções, os olhares registam a existência de um potencial foco de rebelião; do lugar destinado a figurantes sem interferência na história, acaba mesmo por irromper a estrela que, não raras vezes, se torna protagonista da peça. Para alimentar o mistério da ousadia, traz a máscara da vulgaridade; porque se propõe interferir no destino de uns e outros, explode em exuberância surpreendente. É, afinal, um visionário que parte incógnito e chega com nome próprio: simplesmente Miguel, o menino que venceu o desprezo, a ingratidão e a desconfiança, até se tornar um dos jogadores mais desejados da Europa. 2. Assente num repertório ofensivo caracterizado por drible, instinto, agilidade e execução perfeita, nasceu um dos melhores laterais de sempre do futebol português. Porque soube adaptar, quase automaticamente, muitas das qualidades natas à função que lhe foi imposta, começou por dar eficácia aos despiques individuais abordados na perspectiva de defesa; porque soube aproveitar o tempo e teve disponibilidade para aprender, melhorou aos poucos a interpretação do novo papel. Hoje, Miguel já adquiriu sentido de orientação e mostra articulação com a manobra defensiva, nomeadamente no apoio aos centrais; avalia melhor a distância das marcações; protege com rigor o espaço nas suas costas; revela as primeiras rotinas de decisão automática nas situações mais inesperadas e, por isso, mais complexas. 3. Miguel harmoniza o turbo que leva nas pernas com a resistência que lhe permite aguentar um jogo inteiro, sem quebra de rendimento, a correr de trás para a frente e da frente para trás, sempre a alta velocidade. Pelo virtuosismo que evidencia nos lances de um para um no espaço ofensivo; pela facilidade com que anula a oposição directa, conquista a linha de fundo e executa o cruzamento; pelo modo como flecte para dentro, tabela e vai buscar a bola nas costas do adversário, dir-se-á que tem argumentos em excesso para um simples lateral. Por ser diamante ao qual só falta lapidar arestas mínimas para ser uma autêntica preciosidade, está a um pequeno passo de se tornar referência mundial na posição que ocupa. 4. Com as devidas proporções, desde Roberto Carlos que o futebol não gerava, a partir de zonas recuadas, fenómeno criativo tão marcante; muito menos via um defesa exercer peso tão esmagador no rendimento de uma equipa ao mais alto nível - e se o Benfica tem vivido longe da ribalta europeia, a Selecção continua em estado de graça. Miguel nunca poderá competir, por temperamento, currículo, consistência e qualidade, com os dois únicos laterais (o outro é Paolo Maldini) que entram na história do futebol como figuras eternas. Mas basta-lhe atingir a expressão de Cafú, Zanetti, Zambrotta ou Mancini (e pode superá-los a todos) para cumprir os desígnios do que a Natureza lhe ofereceu. Terá, então, o justo prémio para o que trabalhou e sofreu até obter a consideração e o reconhecimento universais.