«Ninguém imagina o que eu passei»

Fonte
www.abola.pt
Mantorras só precisou de ouvir a primeira pergunta do jornalista para que surgissem desabafos comoventes em catadupa. A atravessar um complexo período de recuperação à operação à cartilagem do joelho direito, o angolano acredita que o pior já passou e confessa que o mais difícil tem sido suportar a ausência prolongada dos relvados. «Tenho muita fome de bola e custa-me ver os jogos do Benfica pela televisão, sabendo que não posso estar lá dentro». Numa retrospectiva aos acontecimentos, Mantorras aponta o jogo com o Marítimo, na última jornada do campeonato transacto e um mês depois da primeira operação, como o início do suplício: «A minha utilização nesse jogo resultou da conjugação de diversos factores, por isso não quero culpar ninguém. Eu tinha um derrame no joelho, mas arrisquei porque havia uma pequena hipótese de o Benfica ir à Taça UEFA, se ganhasse no Funchal e o F. C. Porto perdesse com o Paços de Ferreira. Acabámos por perder 3-2 e, a nível individual prejudiquei-me muito. Mas fi-lo porque queria ajudar o Benfica». O que se passou a seguir foi o reflexo do mundo em que vivemos. Invejas e mesquinhices levadas ao extremo e que transformaram a vida de Mantorras num verdadeiro inferno: «Recebia cartas e chamadas anónimas a dizer-me que nunca mais iria jogar, que teria de encontrar outro emprego. Nunca mais esquecerei uma dessas chamadas. Era de alguém que me dizia ‘estás acabado, agora quero ver o que será feito de ti’. Ainda hoje seria capaz de identificar essa pessoa só pela voz, porque não me sai da cabeça.» Mais compreensivo se mostra em relação aos assobios que recebeu em alguns jogos: «As pessoas não imaginam o que passei. Toda a gente pensava que o Mantorras tinha desaprendido de jogar a bola, mas era impossível fazer melhor. Jogava por uma questão de profissionalismo, mas a dada altura tive mesmo de parar e fui operado. O pior já passou, só pretendo voltar a jogar nas melhores condições». E acredita que assim será!