Petit espera ser contactado para renovar...

Fonte
record.pt
O médio está preparado para renovar e terminar a carreira no Benfica, mas a independência financeira também pode determinar uma transferência para o estrangeiro RECORD – Sente que esta foi a sua melhor época, desde que chegou ao Benfica? PETIT – Pelo menos a mais regular foi de certeza. Fiz 28 jogos para o campeonato, mais Taça e Taça UEFA. É óbvio que fiquei muito desgastado, porque não é fácil jogar na minha posição. Felizmente esta época não tive nenhuma lesão complicada. Precisei de descansar muito, mas mantive sempre um bom nível. Acho que foi mesmo a minha melhor época desde que cheguei. Fico contente por ter podido ajudar o Benfica a ser campeão. RECORD – O que sente quando dizem que é o jogador mais influente do Benfica? PETIT – Sou experiente e o mais velho em campo, quando o Nuno Gomes não joga. Tento transmitir aos mais novos a minha experiência. Não querendo gabar-me, mas se eu ou o Manuel Fernandes não jogávamos, a equipa ressentia-se um pouco. Não sou influente, mas mais um para ajudar. Se reparar, o Rui Bento jogava ao meu lado no Boavista e saiu para o Sporting, depois foi o Tiago, que foi para o Chelsea, este ano o Manuel Fernandes. Quem joga ao meu lado tem saído e eu fico. Com o tempo torno-me mais responsável. RECORD – E para quando também a saída do Petit para um clube ainda maior? PETIT – Todos os anos tenho propostas. No ano passado disse que não saía enquanto o Benfica não fosse campeão. Já consegui. Mas depois também ouvi o presidente a dizer que eu era da casa. Quero continuar a dar alegria ao Benfica e sinto-me bem no clube. Só se fosse um negócio muito bom para todos. RECORD – Mas não lhe parece que, depois de quatro épocas ao mais alto nível, está na altura do agora ou nunca? Ou seja, ou dá agora o salto para um grande clube europeu ou ficará no Benfica... PETIT – Qualquer jogador sonha com voos mais altos no estrangeiro. Só que eu tenho recebido incentivos do presidente e de José Veiga e poderei acabar ali a minha carreira. Acho que, se não sair este ano do Benfica, fico lá até ao fim; isto é, se me quiserem no Benfica. Fiz uma boa época, há clubes interessados, mas teria de ser algo que garantisse a minha independência financeira. Até este momento, que eu saiba, ainda não apareceu uma proposta que me satisfaça ou que esteja ao nível da grandeza do Benfica. RECORD – É altura para fazer o contrato da sua vida? PETIT – Espero fazer agora o contrato da minha vida. Quem está no Benfica quer fazer esse contrato comigo. Tenho de pensar na minha família e na minha estabilidade. Isso é muito importante para mim. Se aparecer uma proposta boa para mim e para o Benfica, porque não? Se todos entendermos que é o melhor! Ganhei uma Taça e um campeonato e isso foi muito bom. Neste momento a minha vida passa por Lisboa, a não ser que a proposta seja muito tentadora. RECORD – Como está a proposta para a sua renovação? PETIT – Está tudo praticamente definido. Espero que o presidente me dê uma boa prenda de casamento. RECORD – Posso concluir que só falta que o Benfica lhe garanta a independência financeira? PETIT – Exactamente. Era a prenda de casamento que mais queria. Gostava de ir de férias descansado, com o meu futuro resolvido. Tenho dois anos de contrato e a proposta é de mais três. Isso significa que assinar um novo contrato era acabar a carreira no Benfica. Poderá ser o último contrato que assino ao mais alto nível. RECORD – E acha que será difícil um acordo financeiro? PETIT – Não. Acho que mereço aquilo que estou a pedir. Fui um jogador fundamental. Não só os que marcam golos e mais dão nas vistas o merecem. A equipa tem jogadores que desempenham papéis importantes no campo e também no balneário, como acho que tem sido o meu caso. Estou confiante que tudo vai acabar bem. RECORD – Que recordações guarda da noite em que foi campeão pelo Benfica? PETIT – É uma sensação que ainda hoje não consigo descrever. Depois de 11 anos sem ser campeão, o clube conseguiu um grande feito. Vencemos a SuperLiga com todo o mérito. Era algo que jogadores e adeptos esperavam há muitos anos. É indescritível a forma como se senti. Ainda por cima, foi na última jornada, como o presidente previra. E logo no Bessa, onde tinha sido também campeão. Jogámos praticamente em casa. Foi o dia mais bonito da minha carreira desportiva. Fui campeão no Boavista, mas no Benfica é diferente, pelo número de adeptos. Aquele dia ficará para sempre guardado na minha memória. Festejámos no Porto, que é ainda por cima a cidade do nosso rival. Sentimos que as pessoas ficaram orgulhosas de nós. E depois em Lisboa, as ruas todas cheias e o estádio lotado. É algo de inesquecível. RECORD – Como é que foi possível ser campeão logo este ano? PETIT – Nos outros anos, em Dezembro ou Janeiro, estava tudo resolvido. Este ano houve sempre três ou quatro equipas próximas. O Benfica foi a que teve menos altos e baixos. Ainda assim, houve uma fase com seis ou sete lesionados, que complicou um pouco. Depois soubemos voltar a unir-nos e acreditámos até ao fim. Sabíamos desde o início que este poderia ser o nosso ano. A estrutura manteve-se, e da equipa-base só saiu o Tiago. Há dois anos, quando o FC Porto foi campeão, fomos a melhor equipa da segunda volta. Foi o nosso balneário que ganhou o título, com todos sempre unidos. Os que jogaram menos foram muito importantes, para que os outros nunca adormecessem no lugar. É assim que se faz um balneário forte. RECORD – Foi a união do grupo que deu o título ao Benfica? PETIT – Sabíamos que só conseguiríamos o título com enorme união e com espírito de família. Passávamos mais tempo juntos do que com as nossas próprias famílias. Muitos já estamos no clube há três anos, sempre com a mesma atitude de entreajuda. RECORD – O Benfica poderia ter resolvido mais cedo a questão do título? PETIT – Claro. Houve três jogos em que podíamos ter-nos distanciado, mas perdemos dois – com o Rio Ave e o Penafiel – e empatámos um, com a União de Leiria. Podíamos ter dado a sapatada final. Sempre acreditámos que seria no Bessa. E foi. RECORD – Mas tem consciência que foi por pouco? PETIT – Foi, mas conseguimos. O FC Porto teve dois anos muito bons, mas neste houve jogadores que saíram e eles sentiram um pouco. Nós conseguimos manter a estrutura. Este tinha de ser o ano do Benfica. Referia-se que o Sporting era a equipa que jogava o melhor futebol. Mas, hoje em dia, não é quem joga bonito que merece ganhar. Nós fomos vencedores justos. É verdade que o Sporting jogava bem, mas só nós sabemos aquilo que sofremos. Custa bastante ouvir algumas pessoas dizerem que não fomos campeões com justiça. RECORD – O jogo com o Sporting foi decisivo para a questão do título? PETIT – Foi. Aquele jogo na Luz foi uma verdadeira final. Se eles ganhassem, podiam ser campeões. Felizmente vencemos e conseguimos afastar o Sporting da corrida. Mas tenho de reconhecer que o Sporting merecia ter ganho a Taça UEFA, porque fez um percurso bonito e jogou a final em casa. No campeonato, estiveram na luta até às duas últimas jornadas. Acabaram por não ganhar nada e deve ter sido um pouco frustrante. RECORD – Que papel teve Trapattoni neste título? PETIT – É óbvio que nos trouxe outra maturidade e experiência. Era quase um pai para nós e fazia a equipa jogar bem. Ele costumava afirmar que é mais importante jogar mal e vencer do que jogar bem e não ganhar. O importante são os pontos. Os adeptos por vezes assobiavam, porque queriam ver bom futebol. Só que isso nem sempre foi possível. Este treinador trouxe-nos aquela estrelinha. Mostrou ser capaz de chegar a um clube e conseguir ser campeão. Os treinos eram dados com muita alegria e, mesmo com a idade dele, participava muito no trabalho, o que era um incentivo enorme para nós. Autor: MIGUEL PEDRO VIEIRA Data: Sabado, 11 de Junho de 2005 03:44:00