"Se fosse filho dele, Laurentino reagia de outra maneira"

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Entrevista com Nuno Assis, jogador do Benfica Fernando Santos disse esta semana que consigo e sem uma ou duas lesões o Benfica teria sido campeão e considerou-o um dos grandes reforços da próxima época. Estava à espera deste elogio do treinador? Não. Pelo menos, não estava à espera de um elogio tão rasgado. É um privilégio saber que o meu treinador conta comigo. Faz muito bem ao ego, sobretudo depois de um ano muito difícil. Merece os elogios? Até ser suspenso estava a fazer uma boa época. Acredito que iria fazer este ano a minha melhor época de sempre no Benfica. O Benfica teria sido campeão como diz Fernando Santos? Se tivesse jogado seria mais uma opção para o treinador. Todos sabemos que a determinada altura - sobretudo na parte final da época - não havia muitas opções. O treinador perdeu dois jogadores fundamentais por lesão e eu fui suspenso quando estava a fazer uma boa época. Qual foi o jogo que mais lhe custou ver de fora? Todos. Em todos eles me apeteceu saltar lá para dentro. E é uma sensação horrível não o poder fazer. Estes elogios de Fernando Santos aumentam a responsabilidade. Sente-se pressionado? Não. São a melhor recompensa que me poderiam dar pelo que passei. Agradeço e não vou desiludir. Garanto que darei o meu máximo e que podem contar comigo. Sinto-me como no primeiro dia em que entrei no Benfica. Não joga há seis meses. Parte em desvantagem em relação aos outros? Fisicamente sinto-me bem mas sei que vou ter de trabalhar mais do que os outros . Estou preparado para isso até porque não é novo para mim - já foi assim na última pré-época. Sei que vou ter que treinar muito com o preparador físico. Ao longo desses seis meses, como é que Fernando Santos o motivou? Ao longo da época o treinador falou comigo várias vezes. A primeira conversa foi logo na altura da suspensão. Foi uma conversa muito importante para mim. De que é que falaram? Foi-me dando exemplos de casos bem piores e mais dramáticos que conheceu ao longo da carreira, jogadores que passaram por dificuldades maiores que as minhas. Nessas conversas, falava sobretudo o treinador católico? Sim. Falava-se à volta destas ideias. De que há coisas mais importantes, como ter saúde, por exemplo. Qual foi o momento mais doloroso do processo? Quando soube do segundo castigo, já esta época. No primeiro, não estava a jogar porque Koeman não contava comigo ou seja, na altura sabia que não jogava de qualquer maneira. Da segunda vez foi diferente porque tinha feito 21 jogos, estava a jogar bem e não esperava ter que ficar de fora mais seis meses. O que fez nesse dia? Fui brincar com o meu filho. Da primeira vez fui direito à Net tentar saber tudo sobre o assunto. No segundo castigo percebi que já não havia nada a fazer e, como disse, fui para casa brincar com o meu filho. Laurentino Dias [secretário de Estado da Juventude e Desporto] e Luís Horta [director do CNAD] roubaram-lhe seis meses de carreira? Sim. Quiseram mostrar serviço. E conseguiram. Que ninguém que lhes seja próximo passe por aquilo que me fizeram passar. Porque se fosse com um filho deles, penso que teriam reagido de outra maneira. Se se cruzar com eles, o que lhe vai apetecer dizer? Só na altura saberei como vou reagir. Mas o melhor é não dizer nada porque eles já não podem dar o que me tiraram. E espero não me cruzar com eles. Quanto menos os vir, melhor. Sempre disse que estava inocente. Incomoda-o saber que há quem pense que se dopou? Nunca me tinha acontecido semelhante coisa. Sei que deve haver quem julgue que fiz algo errado. Sei o que fiz e o que não fiz e sei que há uma enorme maioria que acredita na minha inocência. E digo isto por causa do que ouço na rua e às pessoas que me abordam. Tem medo que lhe volte a acontecer? Tenho. Tenho medo e voltar a passar por uma situação em que possa ser acusado de uma coisa que não fiz. Não me esqueço da angustia e do stress que senti quando em Setembro ou Outubro do ano passado estive duas semanas à espera dos resultados de um controle antidoping exigido pela UEFA, o único que não foi a sorteio. Todos os dias pensava nisso. Foi um pesadelo. Não é um número dez tradicional. Concorda? Concordo. Nos primeiros tempos de Benfica fui um número 10 tradicional. Em Guimarães, por exemplo, joguei sempre mais à frente, ao lado do outro avançado. Esta época, com Fernando Santos joguei descaído para o lado esquerdo, numa posição em que nunca tinha jogado mas já estava a adaptar-me. Onde joga melhor? Gosto mais de jogar como avançado mas desde que saí do Vitória de Guimarães que não jogo nessa posição. Fernando Santos já lhe disse o lugar que lhe destina? Não. A única coisa que quero é jogar. Espero poder fazê-lo e jogarei onde for preciso. Sei que não tenho o meu lugar assegurado mas estou cheio de vontade e o Benfica pode contar comigo. Se for preciso, vai ser difícil substituir Miccoli? Não há ninguém insubstituível mas ele, pelas suas características, fará falta. Gostava de jogar ao lado dele? Gostava. Acho que nos entenderíamos. Treinei com ele todo este tempo e é um dos melhores finalizadores que já conheci em Portugal e no estrangeiro. O que se passou com Nuno Gomes? Teve algumas lesões, alturas muito boas e outras em que as coisas não lhe saíram bem. Quando um avançado não marca é muito complicado para ele, para os adeptos, para todos. Gosto muito do Nuno Gomes e apesar deste ano não ter feito muitos golos adoro jogar com ele. Segura muito bem a bola, tabela bem e trabalha muito dentro de campo. Rui Costa fez bem em prolongar a carreira por mais um ano? O Rui passou meio campeonato sem jogar. Veio para o Benfica, para o clube dele, para fazer uma boa época. Não estava habituado a lesões e, de repente, fica sem jogar. É duro. Compreende-se que queira jogar mais um ano até porque tem condições para isso. Como é que ele passou por essa lesão? Muito triste e muito mal. Não estava habituado a lesões e queria muito jogar no Benfica e fazer uma grande época. Com a chegada dele mudou alguma coisa no balneário? Rui Costa tem um grande carisma, por ser como é e por todos os títulos que já ganhou. No balneário não há líderes assumidos mas há alguns jogadores com um estatuto diferente. Rui Costa é um deles. Em que momento sentiu maior tristeza no grupo? Quando se perdem jogos ninguém fica contente. Mas passámos por dois momentos especiais. O jogo com o FC Porto foi talvez a altura em que sentimos mais essa tristeza. Apesar de termos empatado, o jogo foi na Luz e acreditávamos que era possível ganhar. A eliminação da Taça UEFA foi outro dos momentos mais tristes. Luisão é outro dos líderes do grupo? Quer pelas qualidades, quer pelos anos de clube, é um dos líderes. Como é Simão ou Rui Costa, Petit ou Nuno Gomes. Estamos a falar de líderes no bom sentido do termo. Luisão e Rui Costa foram dois dos lesionados, numa época em que o departamento médico do Benfica mereceu muitas criticas. Como é que os jogadores lidaram com as dúvidas sobre a competência do departamento? Nunca deixámos de confiar no departamento. Lesões há em todos os clubes e recaídas também. Em Guimarães, numa pré-época tivemos 15 lesões musculares. Isso pode acontecer em todos os clubes por maiores e menores que sejam. Qual é melhor - a equipa que foi campeã com Trapattoni ou a que ficou em terceiro lugar, com Fernando Santos? São diferentes. Treinadores com métodos diferentes e ideias diferentes, jogadores diferentes. Fernando Santos garantiu que o Benfica vai ser campeão na próxima época. De quantos reforços precisa o Benfica? Quem sabe isso é o treinador. Concorda com Fernando Santos? Acredito que o Benfica vai fazer a melhor época dos últimos dez anos. Vamos ser campeões e acredito que vamos chegar muito longe na Liga dos Campeões. A participação na Champions não está garantida... Nem me passa pela cabeça não ultrapassar a eliminatória. O Benfica vai estar na Champions. José Veiga faz falta ao grupo? A direcção sabe sempre o que é melhor para o Benfica. O que é que Rui Águas pode acrescentar ao Benfica? Se vai para o Benfica é porque é concerteza uma mais-valia. Chegou ao Benfica em 2004/2005 e entrou com o pé direito. Ainda se lembra desse jogo com o Moreirense? Nunca esquecerei porque melhor começo era impossível. Estreei-me num encontro contra o Moreirense mas que foi jogado em Guimarães, e fiz um golo. Esse jogo foi muito importante porque me deu um grande ânimo e tranquilidade para ajudar a equipa a ser campeã. Entrou e marcou. É supersticioso? Não. Mas por acaso, antes do jogo, perguntaram-me como eu achava que ia correr o jogo e eu disse que talvez marcasse porque conhecia muito bem as balizas do Vitória, onde joguei. Com Koeman ponderou sair... Sim, estive com um pé no Estugarda. Trapattoni tinha falado comigo e queria que eu fosse novamente trabalhar com ele. O presidente não queria que saísse mas eu estava muito desanimado. A dois dias de fecharem as inscrições de Inverno, aconteceu a questão do doping.|