sistema ataca!!!

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correio da manha
Bandeirinhas viradas a Norte Dos nove árbitros assistentes internacionais, oito são filiados no Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol do Porto. Um dado que pode espantar muita gente, mas não os dirigentes da arbitragem. Só o antigo árbitro Veiga Trigo parte a loiça toda. A FIFA anunciou recentemente a lista de árbitros portugueses com categoria de internacionais. Entre os nove assistentes nomeados, oito pertencem à Associação de Futebol do Porto e um (Sérgio Lacroix) à da Madeira. Associações com peso e tradição como Lisboa, Setúbal, Braga e Leiria ficaram a zero. A predominância do Porto neste particular não é de agora, mas desta feita o desequilíbrio de forças é esmagador. É verdade que o Porto tem mais árbitros assistentes na primeira categoria (15 de um total de 57), mas Lisboa, com 13, e Setúbal, com oito, estão também bem representados e nem por isso conseguem chegar à elite. Os dirigentes da arbitragem, desde o presidente da Comissão de Arbitragem (CA) da Liga, Luís Guilherme, aos presidentes de diversos conselhos de arbitragem, garantem que os regulamentos estão a ser cumpridos e que os juízes do Porto sobem a internacionais porque obtêm melhores classificações. E acrescentam que a associação portuense está agora a colher frutos de uma aposta deliberada na formação de assistentes, iniciada em 1992, quando a FIFA impôs a criação de um quadro de árbitros auxiliares. Entre todas as vozes escutadas pelo CM, apenas o antigo árbitro Veiga Trigo questiona abertamente a predominância de assistentes do Porto no grupo dos internacionais. Em surdina, outros elementos ligados à arbitragem também questionam as classificações e o papel dos observadores, mas optam por não dar a cara. É que as pontuações atribuídas pelos observadores aos árbitros são determinantes para as classificações dos mesmos. Numa altura em que o papel dos ‘bandeirinhas’ no jogo ganhou relevo e com a arbitragem portuguesa a contas com a Justiça, no âmbito do processo ‘Apito Dourado’, alguns põem em causa as classificações. Mas Luís Guilherme garante que não há qualquer irregularidade. “Existem mecanismos de controlo sobre os observadores, que também são classificados de acordo com os relatórios dos assessores. E há regras claras. Se um árbitro internacional ficar dois anos abaixo do 20.º lugar perde o direito a ser internacional”, disse, sublinhando: “O Porto começou mais cedo a formar assistentes e está agora colher frutos”. E vai mais longe: “Não existe nenhuma forma tão transparente de avaliaçao dos árbitros como a da Liga. A própria FIFA e a UEFA não têm um método tão transparente”. Júlio Viegas, presidente do Conselho de Arbitragem da Associação de Leiria, encara como normal o domínio portuense. “Não vemos nada de estranho nisto. É normal, porque o Porto tem mais árbitros na 1.ª categoria. Claro que gostaríamos de ter mais árbitros de Leiria internacionais, mas o importante é que tenham qualidade, independentemente da associação a que pertencem”. Carlos Carvalho, há 7 anos presidente do Conselho de Arbitragem do Porto, recorda: “Quando foi criado o quadro de assistentes, alguns dos nossos árbitros que não tinham possibilidade de chegar mais longe optaram por ser assistentes. Foi uma aposta que compensou”. Interessa ainda explicar que todos os anos a FPF, com base na proposta do plenário da arbitragem, composto pela CA da Liga e pelo Conselho de Arbitragem da FPF, indica à FIFA a lista de internacionais. Cabe depois à FIFA homologar a lista dos árbitros internacionais. A OPINIÃO DE... "COM LIGA NORTE GANHOU PESO" (Jorge Coroado, ex-árbitro) “Quando a Liga passou a gerir a arbitragem, em 1995, notou-se uma movimentação do quadro de assistentes na direcção Norte. Embora a zona do Grande Porto tenha uma grande incidência no futebol nacional não se compreende esta distribuição. Isto sem tirar mérito a três ou quatro assistentes do Porto que já deram provas da sua competência”. "ACEITAMOS OS CRITÉRIOS" (Gilberto Madaíl, Presidente da FPF) “Até prova em contrário, aceitamos que os critérios da Comissão de Arbitragem da Liga e do Conselho de Arbitragem da FPF para indicação dos internacionais são os mais correctos. Era sim importante que se compreendesse que a arbitragem tem de ter dependência hierárquica da Direcção e do presidente da FPF”. "É SINGULAR MAS TEM EXPLICAÇÃO (Carlos Matos, Antigo assistente) “É um fenómeno singular, mas que tem uma explicação. Após o Mundial de 90, a FIFA decidiu criar um quadro de assistentes e nessa altura a Associação do Porto empenhou-se. Depois, da quantidade vem a qualidade. Questionar as classificações não faz sentido: os observadores que avaliam não são apenas do Porto, mas sim de todo o País”. "É ESTRANHO, MUITO ESTRANHO... SÓ NO PORTO SE TRABALHA BEM?" José Alberto Veiga Trigo, de 53 anos, alentejano de Beja, foi árbitro de prestígio, internacional durante dez anos. Abandonou em 1995 e desde então analisa de forma crua o mundo da arbitragem. E não esconde a sua estu- pefacção pela predominância de assistentes do Porto no lote de internacionais. Correio da Manhã – Como analisa o actual estado da arbitragem? Veiga Trigo – A arbitragem portuguesa não progrediu nada. Todas as semanas há polémicas e o mais triste é que os dirigentes da arbitragem querem fazer crer que as coisas estão a melhorar, quando é evidente aos olhos das pessoas que não é isso que acontece. – Não houve evolução em relação ao seu tempo? – Acho que não. Com as condições que os árbitros hoje têm a nível de remunerações, equipamento e acompanhamento tinham obrigação de fazer bem melhor. Eles hoje em dia têm tudo... – Como comenta o facto de entre os nove árbitros assistentes internacionais, oito estarem filiados no Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol do Porto? – É estranho, muito estranho. Não se compreende. Será que só a Associação de Futebol do Porto é que trabalha bem e os outros trabalham todos mal? É por causa destes problemas e destas situações estranhas que a arbitragem perde credibilidade. – Os dirigentes das outras associações contactados pelo ‘CM’ não contestam esta situação e garantem que os regulamentos estão a ser cumpridos. – É verdade que se os assistentes do Porto chegam a internacionais é porque têm as melhores classificações. Eu penso é que os observadores dos árbitros, que são elementos determinantes para o estabelecimento das classificações, têm de ser responsabilizados. – O Alentejo já esteve melhor representado na elite da arbitragem... – Só temos um árbitro internacional, o Paulo Baptista, de Portalegre. E recentemente o Luís Tavares, também de Portalegre, perdeu o estatuto de internacional só por não ter validado aquele golo do Benfica contra o Porto. – Os dirigentes da arbitragem garantem que uma coisa não teve nada a ver com a outra. – Mas eu não tenho dúvidas de que foi por causa desse jogo que ele perdeu as insígnias da FIFA. E sei também que um português com um cargo dentro da FIFA fez as suas manobras no seio da UEFA e da FIFA para afastar o Luís Tavares. – Que medidas defende para melhorar o estado da arbitragem? – A solução para isto tudo era haver um Conselho de Arbitragem único como acontece em todos os Países. Em Portugal continuamos com esta separação, em que a arbitragem profissional está na Liga e a restante na Federação. A FIFA e a UEFA são contra esta situação, que é única no Mundo, mas não há maneira de isto mudar. – Continua ligado à arbitragem? – Sim, sou assessor do Conselho de Arbitragem da FPF. A minha função é analisar o trabalho dos árbitros mais jovens: vou aos jogos, no fim falo com os árbitros e dou-lhes a minha opinião sobre o trabalho deles, sobre os aspectos a corrigir e depois elaboro um relatório. – Tem aspirações a ocupar cargos de maior relevo na arbitragem? – Não. A 'QUEDA' DE LUÍS TAVARES ww O caso levantou celeuma. Luís Tavares, árbitro assistente de Portalegre que não validou o golo de Petit no último Benfica-FC Porto (0-1), soube algumas semanas mais tarde que tinha perdido o estatuto de internacional. Luís Guilherme, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga, garante que não houve qualquer relação entre os dois factos: “A FIFA retirou um lugar de árbitro assistente a Portugal, passámos de 10 para 9. O Luís Tavares era o último da lista, porque tinha sido também o último a subir a internacional, e foi por isso que perdeu as insígnias. Não houve nenhuma relação entre isso e a sua actuação no Benfica-FC Porto”. Nos meandros da arbitragem corre a versão, bem expressa nas palavras acima proferidas por Veiga Trigo, de que houve movimentações no sentido de retirar a Tavares o estatuto de internacional. Confrontado com esta hipótese, Luís Guilherme afirmou: “Não tenho conhecimento dessa situação... mas nao me admiro”.