Sp. Braga-Benfica: tratado das paixões da alma

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www.maisfutebol.iol.pt
É dos fenómenos mais misteriosos do futebol português. A falange de apoio do Benfica no Minho, onde os encarnados são recebidos por um mar de gente a transbordar euforia. Os jogos entre o Sp. Braga e o Benfica são assim. Um misto de emoções e de sentimentos capazes de gerar comportamentos estranhos e de surpreender meio mundo. Desde adeptos que entram no estádio com a camisola do Benfica e o cachecol do Sp. Braga; até adeptos que se dizem do Sp. Braga, mas conseguem emergir as mais camufladas paixões da alma e puxam pelo Benfica até ao último minuto. Mas por que será assim? Em vésperas de mais um confronto entre os dois clubes, o Maisfutebol apresenta algumas teorias que podem explicar a tendência. Primeiro é preciso recuar até aos anos 60. «Foi uma altura de grande emigração», começa por explicar Jorge Sequeira, psicólogo do Sp. Braga, perfeitamente identificado com o fenómeno dos adeptos. E o Minho é uma zona de emigrantes: «Que levaram o fado e o futebol para estarem mais perto do seu país, numa altura em que o desporto português se resumia ao Benfica, que era uma espécie de símbolo nacional». Talvez por isso, tenha nascido esta paixão pelos encarnados, bem expressa nas zonas rurais circundantes à cidade. Vila Verde é um bom exemplo. Um ninho de emigrantes. Depois, o gosto pelo clube de Lisboa passou de geração em geração, ao ponto de ganhar as proporções actuais. Há outras teorias. António Costa, especializado em sociologia do desporto e docente na Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física (FCDEF), aponta questões de ordem religiosa e política que sempre fizeram de Braga uma cidade ligada ao fascismo e com grande expressão católica: «É apenas uma teoria possível. O Benfica era um dos símbolos do Estado Novo e o futebol tem uma tendência religiosa muito forte. O Estádio da Luz é visto pelos adeptos como a catedral, o Benfica é o glorioso e representa o sagrado». Isso pode ter influenciado as pessoas. Mas o Minho é uma região dividida por natureza. Na cidade de Braga, os adeptos identificam-se com o Benfica, mas o mesmo não se verifica em Guimarães. No berço da nação, os simpatizantes seguem fielmente o Vitória e conduzem a sua paixão quase em exclusivo para o clube da terra. «A população de Braga é mais móvel. Ou seja, há mais pessoas a irem viver para Braga do que para Guimarães. Por causa da universidade ou até por causa do emprego. É natural que levem as suas paixões clubísticas», adianta Ana Luísa Pereira, docente de sociologia do desporto do FCDEF, que também fala «no vermelho das camisolas» como forma de identificação dos adeptos dos dois clubes. Um vermelho que vai vestir Braga, este sábado, num dos jogos mais importantes da jornada.