Trapattoni vai dar a consistência que o futebol do Benfica precisa

Fonte
A Bola
Trapattoni «vs» Camacho Há claras diferenças entre eles nos planos técnico e táctico. E, em pouquíssimo tempo, já se vê o Benfica caminhar para a prioridade de Trapattoni: bem superior organização de jogo e consequente consistência NÃO são três vitórias do Benfica no arranque de preparação que marcam grande diferença para épocas anteriores. Mas diferenças já vieram ao de cima e, elas, sim, poderão ser muito importantes. Na antevéspera de primeira dose de pimenta—o novo Real Madrid de José Antonio Camacho pós-Carlos Queirós a testar (também sendo testado...) o novo Benfica de Giuseppe Trapattoni pós-José Antonio Camacho... —, mais apetece dizer que a evolução que desponta no Benfica muito terá a ver com claras diferenças entre Camacho e Trapattoni nos planos técnico e táctico. Ao cabo de apenas três jogostreinos, ainda por cima na base de Benfica tão transfigurado por omissão — para além da saída de Tiago, ainda não pôde contar com mais sete titulares da época passada: Moreira, Miguel, Luisão, Fyssas, Petit, Simão e Nuno Gomes—, é prematura, logo demasiado especulativa, esta análise? Não. Porque está bem à vista ter o futebol benfiquista encetado outro caminho técnicotáctico; todas as dúvidas têm só a ver com a sua concretização (leiase resultados...) e, simultaneamente, com o poder de encaixe de alguns dos citados ausentes na nova concepção de jogo. Claro que também de José Mourinho para Luigi del Neri e de FernandoSantos para JoséPeseiro haverá bem diferentes FC Porto e Sporting, mas foi o Benfica que avançou o tempo de o vermos em acção. E, para já, as diferenças benfiquistas à escala técnico-táctica (que não é tudo... mas não é pouco) parecem ser pró-Trapattoni. CAMACHO marcou muito, e bem!, o futebol do Benfica. Bateu-se a fundo por mudar padrões de organização, profissionalismo, alma e consistência na vontade de ganhar. Nesse sentido, foi, na Luz, o treinador certo na hora certa e inadiável... para travar brutal derrapagem rumo ao abismo. Dois enormes méritos: convenceu o novo líder Luís Filipe Vieira de que a (des)organização do futebol do Benfica era colectânea de crassos erros, anos a fio acelerados em progressão geométrica até à estarrecedora política de drasticamente, e sem tom nem som!, trocar de plantel em cada época; e galvanizou os adeptos com o seu fortíssimo carisma, ao ponto de palavra de Camacho ser a palavra a seguir, podendo mudar tudo no clube menos o treinador! No que escrevemos ao longo da era Camacho no Benfica, dois pontos de vista ficaram claríssimos. O primeiro: Camacho foi muitíssimo mais que treinador, foi o grande dirigente do futebol benfiquista nos últimos largos anos!; não descobriu a pólvora—claro que antecessores como Heynkes, Mourinho,Toni, Jesualdo Ferreira terão dito internamente o mesmo que ele disse... —, mas teve força, também mediática (e foi ouvido como decerto outros não foram...), para nesse plano impor decisiva diferença! E, para o Benfica que Camacho encontrou, a faceta dirigente do técnico foi, de longe, o mais importante. Superimportante! Outro plano da nossa análise a Camacho foi o trabalho técnico-táctico. E aí várias vezes o criticámos. Erros avulsos e um pano de fundo: muito pouco fez crescer a equipa que começara a construirem meia época anterior; deu-lhe mais força mental mas nunca implantou sólida organização de jogo e daí a regra de o Benfica, actuando com gana à Camacho mas aos repelões, ter desconcertantes gráficos de rendimento, amiúde dentro do mesmo desafio. TRAPATTONI tem a escola italiana na base do seu fabuloso palmarès. No melhor e no pior, isso significa super organização de jogo, intenso e eficaz trabalho táctico. Exactamente o que os primeiros jogos do Benfica já mostraram: em pouquíssimo tempo, equipa muito mais bloco, bem superior organização defensiva, meio-campo dando menos espaços e tentando fazer pressão mais alta (embora com Geovanni e Zahovic ao mesmo tempo, o que duvidamos resulte bem em muitos jogos a doer), outra capacidade de manter a posse da bola em trocas de passes. Óbvio: tudo isso está mais que ligado ao método de... treino. Na próxima semana, cinco europeus e Luisão vão encontrar nova metodologia e, alguns, outro nível de concorrência (Fyssas face a Manuel dos Santos, Petit face a Paulo Almeida, sem esquecer os bons primeiros testes de Amoreirinha e Bruno Aguiar). Talvez Trapattoni venha a estruturar outro esquema táctico (dois pontas-de-lança?); evidente já é a sua prioridade: dar ao Benfica bem superior organização de jogo e consequente bem maior consistência. Santos Neves