Um dia, vou treinar o Benfica

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Fonte
www.abola.pt
Ao longo de quase duas horas de conversa, as dúvidas ficaram totalmente dissipadas: Valdo continua a guardar o Benfica no seu coração e é com carinho, emoção e muita saudade que, hoje, fala da sua antiga equipa e dos amigos eternos que deixou para os lados da Luz. Dois dias depois de, coma camisola do Botafogo, ter-se despedido da carreira de futebolista, a águia voltou, como nunca, ao pensamento do número 10. Ao ponto de ter surpreendido a reportagem de A BOLA com uma camisa vermelha e branca propositadamente vestida para a sessão fotográfica: — Vivi momentos inesquecíveis na Luz. Foram anos gloriosos que ficaram para sempre no meu coração. Obviamente, tive épocas maravilhosas noutros clubes, mas o Benfica significou sempre algo diferente na minha vida. Quase como um filho que deixei para trás e no qual penso muitas vezes. Há muito que acalento um sonho e sei que um dia vou treinar o Benfica. — O que recorda desses tempos? — Cheguei à Luz com 24 anos, cheio de aspirações e de sonhos. Quando deixei Porto Alegre, o Manuel Barbosa [empresário que intermediou a transferência] falava- me da grandiosidade que me esperava em Lisboa, mas nunca imaginei que fosse assim. Depois, vi que ele tinha razão. Foi no Benfica que me fiz jogador e que criei a minha independência. E foram tantas emoções. — Mas passaram tantos anos... Será que, pelo meio, não se perderam algumas memórias? — Nem pensar! Seria quase ingrato deixar fugir as recordações que guardo do Benfica com tanto carinho. Pelos vários clubes por onde tenho passado, falo sempre com orgulho da minha passagem pela Luz. — Por que aspectos passa esse orgulho? — O Benfica do meu tempo era conquistador, vitorioso. No meu primeiro ano, em 1988/89, fomos logo campeões. Tínhamos uma bela equipa e chegámos à final da Taça dos Campeões Europeus, com o Milan [derrota dos encarnados por 0-1]. Em 90/91, voltei a ser campeão. Foi, então, que saí para o PSG. Mas estava no meu destino que voltaria. Aconteceu em 1995. E voltei a ser muito feliz, mesmo sendo questionado a torto e a direito. Diziam que estava lento, que estava velho, mas acho que dei uma boa resposta, ao ponto de vencer o prémio de A BOLA para o melhor jogador do campeonato. — Diziam que estava velho? — Em todo o Mundo, o futebol está sempre rodeado verdade, mas, como já disse, acho que dei a melhor resposta, tentando dar sempre o melhor de mim. «Benfica de hoje merecia mais» — Continua a acompanhar o Benfica? — Sempre que posso. Sei que tem alternado bons e maus momentos. O Benfica de hoje merecia mais, pela imensa torcida que tem e pelo historial magnífico. — Gostaria de ter encerrado a sua carreira na Luz? — Teria sido divino, mas, neste caso, o destino não me conduziu nesse sentido. — A sua mulher diz muitas vezes que era esse o seu desejo... — Por ela, eu iria agora para Lisboa para terminar a minha carreira no Belenenses, seu clube do coração e de toda a família. Fica para outra oportunidade [risos]. — Então, porque terminou no Brasil? — Mesmo quando estava em alta na Europa, fez sempre parte dos meus planos voltar a jogar no futebol brasileiro. A ideia era jogar no Brasileirão uma ou duas épocas e, depois, voltar a Portugal. Acabei por ficar seis anos. Não me arrependo, porque vivi muitas experiências e situações variadas que me serão úteis no futuro. — Que balanço faz da sua carreira? — Acho que a minha conduta representa o maior legado para um profissional. Sempre cumpri os meus deveres e honrei todas as camisolas que vesti. E, no Benfica, obviamente não foi diferente, pois é uma grande honra para qualquer jogador vestir aquela camisola sagrada.