Velha raposa procura uma prenda especial

Fonte
abola.pt
Trapattoni, 66 anos, treina o Benfica, líder da SuperLiga e candidato à Taça de Portugal. Há pouco mais de duas décadas (1982/83), o clube da Luz, que viria a fazer a dobradinha, era liderado por um treinador sueco de 33 anos, Sven-Goran Eriksson. A Trap (que foi , aos 34 anos, em 1973/74, o treinador mais jovem da história do AC Milan), podem, agora, apontar a idade avançada como uma desvantagem; tal como, a Eriksson, recém chegado a Lisboa, indicavam a juventude como um pecado insuperável. Num e noutro caso, importam a capacidade de liderança, a qualidade do trabalho e os resultados obtidos. O resto é, pura e simplesmente, conversa fiada. Giovanni Trapattoni não tem tido vida fácil na Nova Catedral. Por várias razões, nomeadamente: a) o regime de "pé atrás" com que a massa adepta do Benfica vê as ilusões, numa lógica fundamentada em 11 anos de desenganos, que desaguaram numa espécie de "gato escaldado de água fria tem medo"; b) a carreira irregular da equipa, líder da SuperLiga, mas mesmo assim três pontos abaixo do que conseguiu sob o comando de Camacho; c) o futebol pouco atraente praticado pelos encarnados, virado para a eficácia em detrimento do espectáculo tão de agrado dos sócios de um clube que cresceu e se desenvolveu à sombra do génio de atacantes fulgurantes, de Rogério Pipi a Águas, de Eusébio a Chalana. Trap, a "velha raposa" do futebol italiano, campeão em Itália e na Alemanha, procura inscrever o título português no seu currículo, o melhor do Velho Continente. Hoje, esse sonho parece exequível. E, se Giovanni Trapattoni, de facto, tiver a prenda de aniversário que mais deseja, o seu mito aumentará. É que, em Itália, onde venceu sete Scudetti, os seis primeiros pela Juventus (76/77, 77/78, 80/81, 81/82, 83/84, 85/86) e o último pelo Inter (88/89), quando se fala na carreira de Trap é imediatamente referido o sucesso que teve no estrangeiro, ao ser campeão na Alemanha. Curiosamente, os técnicos transalpinos nunca foram muito felizes fora de portas. Trapattoni (e Capello, na época de Madrid) é a excepção, daí que o seu percurso em Portugal seja tão de perto seguido pelos média italianos. A carreira de Trap é longa e sem paralelo. E, de certa forma, a sua experiência benfiquista até pode ser vista como um tiro no escuro, de um técnico veterano que não perdeu o espírito de aventura. As comparações Giovanni Trapattoni, que como jogador actuou 284 vezes naSerieAe17na squadra azzurra, foi campeão de Itália, pela primeira vez, como treinador, em 1976/77. A equipa base da Vecchia Signora era a seguinte: Zoff; Cuccureddu, Gentile, Furino, Morini, Scirea, Causio, Tardelli, Boninsegna, Benetti e Bettega. Na segunda vaga de títulos, os nomes mudaram um pouco e o onze-base da Juve de Trap contemplava os seguintes nomes: Zoff; Cuccureddu, Cabrini, Furini, Gentile, Scirea, Causio, Tardelli, Bettega, Liam Brady e Fanna. Finalmente, o sexto Scudetto de Trapattoni em Turim foi conquistado com Tacconi; Favaro, Cabrini, Bonini, brio, Scirea, Mauro, Manfredonia, Serena, Platini e Michael Laudrup. Quando mudou para Milão e ao serviço do Inter voltou a sagrar-se campeão de Itália, Trapattoni contava com os seguintes jogadores: Zenga, Bergomi, Brehme, Matteoli, Ferri, Mandorlini, Bianchi, Berti, Ramon Diaz, Mattheaus e Serena. Em Munique, Trap dispunha, no ano em que ganhou a Bundesliga, de um onze formado por Kahn; Helmer, Nerlinger, Babbel, Kufour, Witeczek, Scholl, Rizzitelli, Zieger, Basler e Klinsmann. Perante os nomes apresentados, não será abusivo dizer que o risco que Trapattoni veio correr para Lisboa, onde trabalha com um plantel onde não existe qualidade em quantidade (ao nível de Turim, Milão ou Munique) é assinalável. Mas a verdade é que o panorama já esteve mais negro. E, se calhar, o horizonte até vai ser vermelho...