Visita guiada ao futuro Centro Estágio Seixal

Fonte
www.slbenfica.pt
Entrevista de Sónia Antunes in Jornal "O Benfica" O caminho foi longo, o sonho dura já há vários anos, mas finalmente agora o projecto tem pernas para andar. Falamos precisamente do novo Centro de Estágio «encarnado», uma verdadeira fábrica de sonhos, o novo «ninho das águias». As obras arrancaram na passada segunda-feira, 2 de Junho e cada vez mais o sonho se torna realidade. Os autores deste projecto são três arquitectos, nomeadamente, Pedro George, Isabel Pessoa e Carla Silva, e é com muito orgulho e uma pitada de carinho que falam do seu «rebento». Junte-se a nós e descubra agora todos os contornos que o envolvem, na conversa que travámos com um dos mentores da obra, mais precisamente Pedro George. Este não é o primeiro projecto que o arquitecto Pedro George executa para o nosso Clube, assim sendo, começámos a nossa conversa querendo saber como e quando é que iniciou funções para o Benfica... Eng. Pedro Jorge - «Este não é o primeiro projecto que faço para o Benfica. Eu sou sócio do Benfica desde os 6 anos de idade e apareço ligado ao Clube, isto em funções mais operacionais, desde 1991, na presidência de Jorge de Brito. Na altura eu estava a terminar o projecto do plano de pormenor do eixo urbano Luz/Benfica, que fica exactamente contíguo à Segunda Circular, em frente ao Estádio da Luz. Na altura, os dirigentes do Benfica entraram em contacto com a Câmara Municipal de Lisboa e posteriormente comigo, para que dessa forma existisse alguma unidade entre o que estava a acontecer, para os dois lados da Segunda Circular. Essas pessoas foram o arq. Croft de Moura, o eng. Gaspar Nero e o eng. Calçado de Carvalho, que estavam na altura às voltas com uma Comissão do Património». Eng. Pedro Jorge - «Contactaram-me na altura para que houvesse harmonia e equilíbrio à volta do Estádio, sendo que o Benfica não poderia ficar isolado no seu complexo, como uma entidade completamente autónoma. Eles estavam preocupados com a questão dos estacionamentos, de interacção com o restante meio e sua envolvência. Desse contacto nasceu a minha disponibilidade para fazer um plano geral para o complexo da Luz e começámos então a trabalhar juntos». Eng. Pedro Jorge - «Fizemos variadísssimos levantamentos, um deles até muito curioso: um plano do estacionamento em dias de jogo na Luz, com a colaboração da Força Aérea que através de fotografias tiradas, antes, durante e depois do jogo, nos permitiu perceber as fases de estacionamento, como é que elas se espalhavam na cidade e a mancha ocupada pelos veículos. Esse foi o primeiro trabalho, como profissional, que fiz para o Benfica. Fui convidado para a Comissão do Património e aceitei. Continuei na presidência de Manuel Damásio, onde fizemos vários outros trabalhos, como por exemplo, a Sala de Imprensa, o stande, a Sala dos Sócios, o Restaurante Ponto Vermelho, o plano para o novo Museu, a Urbanização Sul, etc. Fizemos também o único levantamento total e integral de todo o Estádio da Luz, o único que se fez até hoje, e é por isso muito importante. Depois veio o Dr. Manuel Azevedo, onde tive menos contacto, mas onde também trabalhei, caso da Urbanização Norte. E foi aqui que nasceu a ideia do Centro de Estágio...». Do sonho à realidade... Falemos agora um pouco mais profundamente acerca da sua ligação ao Centro de Estágio... Eng. Pedro Jorge - «Essa questão começa a ser colocada nos anos 90, no tempo do eng. Gaspar Nero. Falava-se já na altura do Benfica ter um Centro de Estágio, mas tudo muito difuso, muito superficialmente. Com Manuel Damásio na presidência, a questão manteve-se em aberto e ainda chegámos a ir ver terrenos, nomeadamente a Cascais e fizemos mesmo os primeiros esboços para o que poderia vir a ser o Centro de Estágio. Mas a ideia não vingou! Já com Vale e Azevedo, aí sim, começou-se a concretizar a ideia, de mãos dadas com a Euroárea, já no Seixal. Nesta altura havia o terreno, havia já o projecto no papel, mas as situações que se desenrolaram não permitiram que isso fosse para a frente!». Eng. Pedro Jorge - «O projecto fica então em banho-maria e é reactivado somente com a tomada de posse de Manuel Vilarinho. O esboço existente sofre então muitas alterações pois a filosofia é totalmente diferente, nomeadamente ao nível das instalações para a formação, pois Vale e Azevedo pô-la de lado, optando por construir primeiro um Centro de Estágio só para profissionais. Pelo contrário, Manuel Vilarinho, aposta na formação, ou seja, a sua filosofia engloba as duas vertentes. E foi assim que tudo começou...». Olhando agora para o projecto final, era isto que se pretendia, era isto que tinha idealizado? Eng. Pedro Jorge - «Quando faz um artigo e passados dois dias o relê, acha sempre que poderia ter escrito aquela ou outra coisa de forma diferente ou até melhor! Não é verdade? Julgo que isso acontece com todos os profissionais! É evidente que olhando agora para o projecto final poderíamos mudar algum pormenor aqui ou ali, mas as grandes linhas, as grandes decisões acerca da sua configuração são precisamente as que eram pretendidas e portanto, não mudaria nada. Este projecto está muito bem...». De onde surgiram as linhas principais do projecto? De onde nasceu a inspiração? Eng. Pedro Jorge - «Existiram várias ideias... fui a Milão, fui a Inglaterra (Manchester), Barcelona, visitar os centros de estágio dos grandes clubes. Isso deu origem ao nosso primeiro projecto. Depois há coisas que nos vieram das visitas que fizemos, outras que vêm de nós mesmos e depois temos ainda as especificidades do local onde o projecto se vai erguer. Posteriormente, os meus dois colegas foram visitar vários centros de estágio em França, e daí trouxeram novos afinamentos que foram introduzidos no esboço inicial. Tudo isto, ou seja, uma grande miscelânea de ideias deu origem ao projecto final com que agora nos deparamos!». Em linhas muito gerais, como o caracterizaria? Eng. Pedro Jorge - «As linhas gerais são óptimas. Temos um terreno com uma paisagem magnífica, uma localização espectacular! A 20 metros temos o rio Tejo que circunda toda a área, uma fauna e uma flora lindíssimas e uma suave encosta virada a Sul, que é aquilo que um arquitecto mais deseja! Temos uma suave ondulação que nos permite dispor os edifícios e os campos de forma a obter uma paisagem em consonância total com o meio envolvente. Isto é, onde se tenta uma adaptação total ao terreno! Criámos blocos quase autónomos e fomos colocando-os no terreno à medida que este o permitia! Temos assim duas situações... a primeira, numa zona mais baixa temos a zona de trabalho imediatamente ligada aos campos, onde está situado o Centro Médico, o Ginásio, tudo o que é necessário para o trabalho diário dos atletas. Por cima dessa zona, numa superfície mais elevada temos uma distribuição de cinco blocos, nomeadamente, a zona do refeitório, a zona administrativa, a zona das residências, a zona lúdica e a zona da Imprensa. Apesar do espaço estar perfeitamente distribuído, existe uma grande interactividade entre todos os locais». Ambiente de eleição numa filosofia inteligente E quanto ao meio ambiente? Para além de o respeitar, este foi também utilizado como aliado... Eng. Pedro Jorge - «Certíssimo! Não nos esqueçamos que estamos a trabalhar numa zona protegida, da reserva ecológica nacional! Foi preciso ter uma autorização do Governo e assumimos vários compromissos! Há uma constante interacção entre o meio ambiente e a construção, tendo em conta que respeitamos a sua flora, vamos aliás plantar ainda mais árvores, e a fauna ali existente. Penso que estamos num ambiente de eleição! Outro factor que temos em conta é que não queremos que o Centro de Estágio seja uma fonte de poluição e devido a isso vamos construir uma estação de tratamento de águas residuais. A relva dos campos cresce e há que utilizar adubos, pelo que estas águas da rega serão reconduzidas para a ETAR e só depois de devidamente tratadas serão encaminhadas para o rio. O meio ambiente verdejante e ondulante, a paisagem no seu todo, é indubitavelmente um dos trunfos do complexo!». E quanto aos acessos ao Centro de Estágio... ainda não são os melhores, mas julgo que também esse factor está a ser trabalhado? Eng. Pedro Jorge - «Sem dúvida! Os acessos ainda não são os ideais! Para pedestres são medianamente bons, temos a estação fluvial, o comboio, e teremos daqui a alguns anos o Metro de superfície. Os transportes públicos são relativamente bons. Para quem vem de veículo automóvel é que as coisas são um pouco mais complicadas, mas com o tempo julgo que também este factor será resolvido e para muito melhor, nomeadamente quando o Plano Rodoviário do Seixal estiver concluído. Aí sim, as acessibilidades serão verdadeiramente óptimas!». Para além do Centro de Estágio está igualmente prevista a construção de um loteamento.... Eng. Pedro Jorge - «Sim, é um loteamento da Euroárea que se localizará precisamente a Norte/Poente do Centro de Estágio. Será uma extensão do centro, do núcleo do Seixal. Entre os dois empreendimentos estará uma vedação que não ferirá a paisagem envolvente, bem pelo contrário. Serão construídos cerca de 1600 fogos, isto em 22 hectares de terreno, tendo ainda lugar a construção de uma escola, muitas zonas verdes de lazer, um vasto complexo desportivo, uma média superfície, um hotel, comércio local... Vai ficar tudo muito composto! E será um magnífico motor de desenvolvimento para o Seixal, trar-lhe-á uma nova vida!» Ambiente espartano com a máxima funcionalidade E quanto aos custos do projecto? Eng. Pedro Jorge - «Posso dizer-lhe que já foram feitos vários cortes no projecto para que este seja o mais funcional possível, mas longe de ser apelidado de luxuoso. Não entramos em megalomanias! Por exemplo, era para existir uma piscina, mas achou-se desnecessário, os próprios balneários foram já reduzidos, mas continuam com o máximo de funcionalidade. Em suma, a atmosfera será espartana, confortável e muito funcional! Por outro lado, o projecto está desenhado de forma a que tudo seja construído gradualmente, de forma faseada, consoante a disponibilidade financeira do Clube! Não há aqui qualquer atitude irreflectida e impensada, tudo está estudado de forma muito cautelosa para que o projecto atinja o seu término e toda a sua globalidade!». Uma última mensagem aos benfiquistas... Eng. Pedro Jorge - «Espero que nos unamos todos para que esta oportunidade não seja desperdiçada e que o Centro de Estágio seja verdadeiramente uma realidade! Aqui não falo como arquitecto do projecto, mas sim como benfiquista! O Centro de Estágio e Formação é fundamental! Não vai ser fácil, é preciso que nos unamos, nos mobilizemos e nos apoiemos todos!» Comparativamente aos nossos rivais... Como descreveria o Centro de Estágio do Sporting? Eng. Pedro Jorge - «O Sporting optou por um modelo de Centro de Estágio radicalmente diferente do nosso. É um local isolado, plano, muito quente, sem massas de água perto, com a formação e os profissionais a trabalharem em conjunto e lá fechados, com saídas muito controladas. É um modelo rígido e autoritário. Em termos de instalações são correctíssimas, adaptadas ao terreno e muito funcionais. Eu pessoalmente não gosto da arquitectura... mas é um gosto pessoal!». E relativamente ao Centro de Estágio do FC Porto? Eng. Pedro Jorge - «Este é um caso que conheço bastante melhor, pois tivemos oportunidade de o visitar! É um local extremamente difícil, uma espécie de encosta, onde foram talhados os campos. É um projecto simples, escorreito e extremamente inteligente, com uma arquitectura austera, mas muito bonita, muito enquadrada no meio envolvente. É um excelente projecto! Um facto curioso e também muito inteligente e sensato é que apenas os profissionais ali residem, pois a formação encontra-se espalhada pela cidade. Isto foi objecto de teses e de muitos estudos e pareceu a melhor solução, pois assim as raízes com a comunidade são mantidas!». Centro de Estágio do Seixal ao pormenor Área reservada à Imprensa O nosso Clube desperta diariamente um enorme interesse na comunicação social. Assim, atendendo ao facto que diariamente serão muitos os jornalistas a deslocar-se ao Centro de Estágio para acompanhar a vida do Clube, foi criada uma Sala de Imprensa. Assim, atendendo à especificidade do complexo que é vocacionado para a preparação física e psicológica dos jogadores, a zona reservada à comunicação social aparece ligeiramente afastada, para que o trabalho executado pelos diferentes media não interfira no funcional normal do complexo. Vedar os acessos físicos e visuais foram preocupações incontornáveis na elaboração do projecto e a circulação automóvel também será diferenciada, existindo parques de estacionamento exclusivos para jornalistas e para carros de directos. Neste local existirá um auditório com capacidade para 75 pessoas, para projecção de filmes, conferências de imprensa, seminários, etc.; um espaço de convívio com serviço de bar e uma pequena copa de apoio, assim como uma sala de entrevistas e várias áreas de trabalho distintas. Área reservada ao lazer Este edifício foi orientado segundo o eixo nascente-poente, o que lhe permite gozar, a sul, de uma exposição solar favorável e de um sistema de vistas muito diversificado. Precisamente em frente, pode ver-se um dos campos do complexo, no caso aquele que menores dimensões terá (45x50 m) Na área reservada ao lazer, onde serão passadas grande parte das horas vagas, os jogadores encontrarão um espaço inteiramente dedicado a jogos, encontrarão ainda uma zona de estar, várias salas de estudo, cada uma delas equipada com computadores pessoais. Estes equipamentos vão permitir não só a constante actualização dos futebolistas profissionais, como também a educação dos mais jovens hóspedes do Centro de Estágio, que conciliarão a actividade desportiva e a vertente escolar. É também através deste bloco que os jogadores têm acesso à zona de imprensa e entre os dois edifícios estender-se-á uma passagem estreita e longilínea, que permitirá a manutenção da necessária distância entre as zonas. Área destinada aos quartos Ao fundo, na imagem, situa-se o bloco dos quartos. Estes apresentam-se virados a nascente, usufruindo assim de muito sol pela manhã e ainda uma vista espectacular para o rio Tejo, e terão um extenso corredor a poente, por onde se fará toda a circulação deste edifício. O corredor, que conduzirá aos elevadores, possibilitará a comunicação entre os ocupantes e a passagem directa entre o interior deste corpo e o átrio de recepção e distribuição, áreas que se encontram no bloco que rasga toda a zona de quartos. Aqui haverá ainda uma sala de convívio e outra de estar, onde as visitas poderão encontrar os jogadores. O edifício dos quartos será o mais alto e estará dividido em dois grandes núcleos. O profissional, que ocupa os últimos pisos, e o da formação, que abrange os pisos inferiores. Terá quartos "single" e dois tipos de quartos duplos - um para profissionais e técnicos e outros para jovens em formação (com camas de beliche e quartos de estudo). Ao todo, o bloco terá capacidade para 190 camas e não foi esquecido um espaço exclusivo para o presidente. Área do refeitório A zona destinada ao refeitório - na figura é o corpo mais próximo da rotunda existente no exterior do complexo - caracteriza-se por um total encerramento a noroeste e sudoeste, resultado da necessidade de garantir absoluta privacidade aos jogadores e equipas técnicas. Neste edifício, mais baixo que os restantes, vão criar-se duas áreas de refeições. Uma com serviço de mesa, destinada à equipa principal, outra em regime de "self-service", poderá ser utilizada pelos mais jovens. Existirá ainda uma copa de apoio, que poderá servir os pequenos-almoços e permitir que a cozinha principal permaneça encerrada. Esta última possuirá todos os apoios técnicos necessários (câmaras, frigoríficos, economatos, etc.) e acesso de serviço independente através de uma rampa exterior com ligação directa à via de serviço. O refeitório terá capacidade para servir 200 refeições em simultâneo. Área administrativa É o segundo mais alto dos edifícios e está bem no centro desta imagem, fechando o espaço central, que será aquele onde o trabalho decorrerá, na sua vertente oeste. Virado para a entrada principal do complexo, onde se encontra a Portaria, que controlará todas as entradas e vigiará as zonas mais sensíveis, é o primeiro obstáculo visual ao interior do Centro de Estágio. Possui uma entrada poente, destinada ao público em geral, e outra a nascente, para o pessoal administrativo e técnico. Dentro deste edifício poderão encontrar-se vários gabinetes de trabalho, tanto aqueles que serão utilizados pelo futebol profissional como os que só funcionarão na área da formação. Existirá ainda uma secretaria e uma recepção. O piso zero estará reservado ao pessoal que trabalha com as camadas jovens, o piso 1 estará ao serviço do futebol profissional. É aqui que os administradores da SAD «encarnada» e restantes dirigentes poderão reunir-se e trabalhar dentro da maior tranquilidade e descrição. Os campos Serão precisamente cinco os campos a construir, quatro deles relvados. Devido ao espaço ondulante do terreno, estes campos irão estender-se em níveis diferentes, consoante o local onde sejam feitos. Haverá mesmo uma sensação tridimensional, isto porque os campos serão erigidos em níveis de altitude diferentes. O campo n.º 4 será o mais elevado, precisamente 15 metros acima da linha da água, enquanto os restantes se elevarão a 12, 9, 7 e 5 metros. Dois deles terão iluminação própria. Para além disso, o campo principal terá bancadas com capacidade total para 1500 pessoas, bilheteiras, casas de banho, sendo que todos estes componentes serão independentes, existindo até uma entrada exclusiva para os utentes deste relvado.