Vale e Azevedo e a manhã na Boa Hora...

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Foi nesta terça-feira por volta das 10h20 que foi retomado o julgamento de João Vale e Azevedo. O Sl-Benfica.com não pode estar presente na sala de audiências e assim sendo recorre mais uma vez a um orgão de comunicação social, sempre com o objectivo de fazer chegar a todos os benfiquistas a informação. Assim sendo, reproduzimos de seguida um texto da jornalista Magda Magalhães, do site desportivo «MaisFutebol», que retrata muito bem como foi a manhã na Boa Hora.

«Eu só vim para ver o julgamento.» Entre as aflições de jornalistas que temeram ficar fora da sala de audiências, histórias de produtores de Hollywood que adoram a Sharon Stone e a informação (útil) de que um iate não deve ter jacuzzi, presenciou-se de tudo um pouco no Tribunal da Boa Hora, onde decorreu a segunda audiência do julgamento de João Vale e Azevedo.
Sete da manhã. Será que alguém se lembrou de vir para o tribunal mais cedo? Um despacho dava conta de que apenas 12 jornalistas podiam entrar na sala e convinha estar lá bem cedo. Ainda não amanhecera e já o julgamento do ex-presidente do Benfica mobilizara alguns profissionais da comunicação, o que merecia os comentários dos transeuntes. Até mesmo de um agente da autoridade que, provavelmente pelo cansaço, teve de fazer contas com os dedos para calcular quantas vagas restavam, já que estavam presentes... três jornalistas.
Nove da manhã começa a instalar-se a confusão. Desde as 8.30 horas as vagas para os jornalistas estavam preenchidas e não paravam de chegar representantes dos órgãos de comunicação. Os repórteres de imagem ficaram à porta, já que não era permitido filmar ou fotografar.
Nove horas e vinte cinco minutos. Chega o carro celular. Os fotógrafos e cameramen acotovelam-se por uma imagem de Vale e Azevedo, mas sem muita sorte. Do outro lado da rua, a Loja Strauss – discoteca – colocou a tocar o Hino do Benfica.
Em princípio, a parte melhor estava para vir. Quem nunca assistiu a uma audiência e acha que as coisas se passam como na série televisiva «Causa Justa», desengane-se. Uma sala diminuta acolheu um colectivo de quatro juízes, dois advogados de defesa e outros tantos de acusação. Com jeitinho lá entraram 23 jornalistas. Mas é tudo bem mais aborrecido e lento que na famosa série.

Os iates e a Sharon Stone

Duas horas a ouvir Vale e Azevedo... O ex-presidente apresentou os seus argumentos e ainda aligeirou o ambiente pormenorizando algumas situações. Sempre ficámos a saber o nome de todos os iates que alugou. Nomeadamente aquele que era de Robert Altman, um produtor que «trabalhou muitas vezes» com a estrela de «Instinto Fatal», Sharon Stone.
E para quem pretenda comprar um iate nos próximos tempos, Vale e Azevedo também deixou alguns conselhos úteis. Ficámos a saber que a experiência do ex-dirigente o leva a aconselhar uma embarcação que não tenha jacuzzi, mas sim chuveiro. É que com a ondulação a água depois transborda da banheira. Para além disso, convém ter sempre mais que uma casa-de-banho... para as visitas. E se comprar novo, mais uma dica: nunca deve ser o primeiro a utilizar o barco. Entre os entendidos (e abastecidos) sabe-se que o dono não deve estrear o iate porque este costuma ter problemas na primeira vez.

Rushfeldt, a história de um norueguês corrido da Luz

Passando ao futebol. Quem não se lembra da famosa imagem de Rushfeldt, um avançado do Rosenborg contratado pelo Benfica, com um ar desolado sentado em cima da mala à espera de um táxi para o levar ao aeroporto, depois de abandonar o estágio que a equipa realizava na Áustria? Pois é, Vale e Azevedo revelou que tudo foi feito para que o desgraçado do norueguês se sentisse tão mal que abandonasse a concentração e dessa forma o Benfica pudesse alegar incumprimento do Rosenborg, recuperando a verba já paga. «Arranjámos um esquema para obrigar o jogador a ir-se embora», confessou o ex-dirigente.
Rushfeldt não ficou. Não porque não houvesse dinheiro, mas porque o «jogador não tinha estrutura psicológica» para representar o clube. Afinal, contou Vale, na apresentação perante três mil adeptos o jogador ficou «tão stressado que fez chichi pelas pernas abaixo». Neste ponto o ex-presidente podia talvez ter-nos poupado ao detalhe, mas compreende-se que a vontade de conversar o entusiasme. Voltando ao norueguês, os encarnados precisavam de homens de barba rija e não de alguém que chorou que nem uma madalena antes da conferência de apresentação. Outra vez Vale.
Quem foi apenas para assistir ao julgamento, pode dar-se por satisfeito. João Vale e Azevedo alegou inocência, como se esperava, mas teve tempo para acção pedagógica. Ainda é cedo para saber se os juízes vão dar como provada toda a matéria da acusação, mas uma coisa está clara: o advogado que passou pela cadeira maior da Luz é especialista em iates.

Texto: www.MaisFutebol.iol.pt