Humberto Coelho

Humberto Coelho

Nome completo
Humberto Manuel de Jesus Coelho
Posição
defesa
Número
3
Peso
83
Altura
1.85 m
Data de nascimento
20 Abril 1950 (74 anos)
País
Portugal
Naturalidade
Porto (Portugal)
Periodo na equipa principal

1968-1975

1977-1983

Quem joga ao lado de Humberto Coelho? Esta bem poderá ter sido uma das questões mais vezes colocadas pelos adeptos do Benfica nas tertúlias da bola. Titular absoluto deste os 18 anos de idade, no eixo da defensiva, ao longo de tantas épocas, contracenou, sucessivamente, com Raul, Zeca, Humberto Fernandes, Coluna, Messias, Rui Rodrigues, Barros, António Bastos Lopes, Eurico, Laranjeira, Alhinho, Alberto Bastos Lopes e Frederico. E outros mais na Selecção Nacional. Humberto constituiu-se uma espécie de imperador. Com direitos adquiridos, pois de forma tão preexcelente cumpria os seus deveres. Humberto era a chave da fortaleza quase sempre inexpugnável. Tipo guarda-mor do templo vermelho. O chefe da tribo. O que gritava revolta ou à serenidade apelava.

Nasceu em Cedofeita, no Porto, provavelmente com genes de líder. O pai era operário metalúrgico, daquela classe que tem como divisa “nada nem ninguém nos vergará”. Um lema que terá inculcado, desde a tenra idade, no filho Humberto, apesar da apetência deste por outras artes.

Só que o jovem tripeiro viveu uma infância pouco pacifica com a causa da bola. Era numa espécie de clandestinidade que exercitava o seu dom favorito. Os pais, o irmão mais velho até, amiúde o repreendiam, que futebol não era futuro, antes os livros, não fosse Humberto passar privações que a família bem conhecia. Da Escola de São João passou à Industrial, com aproveitamento satisfatório, mas sempre de ideia fixa no jogo da bola. Rapagão, José Águas era a sua referência primacial. Sonhava imitá-lo e aos golos de cabeça, numa altura em que o seu porte atlético não era nada desdenhável. Pela Mocidade Portuguesa, ainda praticou, na escola, basquetebol e voleibol, mas o apetite era outro. Tão voraz que, vencendo barreiras, daquelas quase intransponíveis, acabou por se fixar no Arsenal do Bessa, derivando de avançado para defesa-central.



Exibiu Humberto credenciais e, com apenas 13 anos, já o Leixões suspirava por aquele miúdo alto, mais alto que os demais, irrepreensível no jogo aéreo. Debalde, pois a voz firme da mãe com sério olhar à mistura, puseram-no em sentido, na prossecução do campeonato dos livros.

Algum tempo depois, já com endereço numa artéria da freguesia de Ramalde, finalmente o pai deu anuência e lá entrou a ficha de inscrição como juvenil do Ramaldense. Descoberto pelo FC Porto, nas Antas treinou, deixou a melhor das impressões, mas os dirigentes portistas acharam uma exorbitância a verba pedida pela transferência.

Agradeceu o Benfica, naquele ano mágico de 1966. Por apenas 40 contos, mais 25 para Humberto, com o compromisso de honra, selado à maneira, de melhorar a oferta no caso dele se impor no grémio da Luz. Mais parecia premonição. Coube a Ângelo Martins, treinador dos juniores, durante duas temporadas, a polidura executar. Com tanto sucesso que Humberto Coelho, pupilo modelo, pegou de estaca, embrionário estava o grande jogador, para um Benfica órfão de Félix ou Germano, que o mesmo é escrever de um central fora-de-série.

Na pré-época de 68, Otto Glória não hesitou e o facto mais relevante da digressão ao Brasil foi a entrada do capitão dos juniores na convocatória. Lá chegaram mais 30 contos a Ramalde, que no Benfica as escrituras eram para cumprir, cabendo cinco notas de mil mensalmente ao assalariado e ex-sonhador de utopias. Humberto Manuel de Jesus Coelho, de seu nome completo.



No primeiro jogo em Belém de Pará não actuou, mas no segundo marcou presença. E que presença! Frente ao Santos, com Pelé e tudo. Incumbido de marcar o génio foi. Aos 18 anos, logo haveria de caber a mais invejada das empreitadas. Saiu-se a contento, ainda que a vencer por 3-1, o Benfica viesse a consentir a igualdade. O medo estava exorcizado. Irreversivelmente…

Não mais perdeu Humberto a titularidade. Na abertura da temporada 68/69, era vê-lo a ganhar no palmómetro da Luz, num triunfo incontestável, de 4-1, frente ao Belenenses. Seguiram-se mais jogos, muitos jogos, adiada estava apenas a veia goleadora do defesa mais concretizador de toda a história do futebol luso. Foi com Hagan ao leme, no começo dos anos 70, que Humberto começou a comunicar no idioma do golo. O britânico era mesmo fleumático, não desmerecia a origem, avesso se mostrava ás substituições, por mais que a exigente plateia da Luz, de quando em vez, lhe propinasse umas ruidosas assobiadelas. E quando corria para o torto, a ordem era Humberto jogar na área, pelo lado direito das coisas, pelo golo, algumas vezes decisivo.

Haverá algum benfiquista dos 40 para cima, que não recorde o dramático jogo da Luz, em Novembro, dia de Verão de São Martinho, frente ao FC Porto, corria a época de 72/73, quando para espanto geral, a 15 minutos do fim da contenda, 0-2 era o resultado? Num quarto de hora apenas, explodiu o vulcão. Primeiro Vítor Baptista. Depois, Jaime Graça. No último minuto, Humberto, em postura de ponta-de-lança, haveria de sentenciar, obtendo o 3-2, num assomo inusitado de garra. De resto, em 16 temporadas, duas das quais ao serviço do Paris S. Germain, marcou 68 golos, o que lhe confere o 25º lugar entre os defesas mais concretizadores da história do futebol mundial.



Ganhador compulsivo, Humberto foi cimentando prestigio por todo lado onde o futebol falava mais alto. Sem surpresa foi convocado para a Selecção da Europa, em 19 de Agosto de 1981, na comemoração do 80º aniversário da Federação Checoslovaca de Futebol. Orientado pelo germânico Jupp Derwall, actuou ao lado de executantes do jaez de Blokhin, Krankl, Kaltz ou Pezzey. Um ano mais tarde, a consagração foi gigantesca. No Giants Stadium de Nova Iorque, perante 120 mil espectadores, Humberto actuou no meio de uma constelação de estrelas, em gala a favor das crianças da UNICEF. Para que conste, a Europa alinhou assim: Zoff (Itália); Krol (Holanda); Humberto Coelho (Portugal), Pezzey (Áustria) e Stojkovic (Jugoslávia); Beckenbauer (Alemanha), Antognoni (Itália) e Tardelli (Itália); Boniek (Polónia), Rossi (Itália) e Blokhin (União Soviética). Estávamos nos rescaldo do Mundial de Espanha e o antagonista foi o resto do Mundo, com N’Komo, Romeno, Júnior, Zico, Sócrates e Hugo Sanchez, entre outros. À chamada não faltaram também Schumacher (Alemanha), Keegan (Inglaterra), Neeskens (Holanda) e Platini (França). A Europa venceu por 3-2. Obrigado foi Humberto, taça nas mãos, a dar uma volta de honra ao estádio, colocando em clímax largas centenas, talvez milhares, de emigrantes portugueses.

A ele faltou, todavia, um titulo europeu. Esteve perto, bem perto, naquela final da Taça UEFA, com o Anderlecht, no final do ano de 83. Com menos resignação ainda se aceita o facto de jamais ter participado na fase final de um Europeu ou Mundial. Ele que fez parte de uma geração de futebolistas, como Eusébio, Simões, Jaime Graça, Nené, Vítor Baptista, Artur Jorge, Jordão, Vítor Martins, Toni, Alves, Rui Rodrigues, Artur, Carlos Manuel, Shéu, Bento, Pietra, Veloso, Álvaro, Diamantino ou Chalana, para nos socorrermos apenas, porventura com algum sectarismo, dos arquivos benfiquistas.



A ânsia de Humberto, já trintão, selar a ouro uma carreira magnifica, talvez tenha precipitado o adeus definitivo. Havia-se lesionado num treino da Selecção, antes de uma partida com a Finlândia, em Setembro de 83. Desesperado, tentou a recuperação, sempre com o Europeu de França na linha do horizonte, forçou em demasia, porque o tempo lhe parecia fugir. E fugiu mesmo.

À ribalta regressou, anos mais tarde, como seleccionador nacional. Então sim, pisou o palco que a vida de jogador, de forma impiedosa, lhe havia negado. A melhor das compensações não se fez esperar. Porque Deus é bom, dirão os crentes. Garbosamente, comemorou o terceiro lugar no Euro 2000. Justiça se fez.


 

Épocas no Benfica: 15 (1966/1974 e 1977/1984)
Jogos: 498
Golos: 81

Títulos: 8 CN, 6 TP, 1 ST e 1 TI

 

 

Texto: Memorial Benfica, 100 Glórias
Copiado de Ednilson

 

 


Equipa Principal Jogos Minutos Cartões (A./V.) Golos
  1967/1968  
Amigáveis 1 0
  1968/1969 40 3555 0 / 0 0  
Campeonato Nacional 26 2340 0 / 0 0
Taça de Portugal 9 765 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 5 450 0 / 0 0
Amigáveis 11 0
  1969/1970 37 3293 0 / 0 0  
Campeonato Nacional 25 2213 0 / 0 0
Taça de Portugal 9 810 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 3 270 0 / 0 0
Amigáveis 7 0
  1970/1971 36 3170 0 / 0 3  
Campeonato Nacional 25 2250 0 / 0 3
Taça de Portugal 7 560 0 / 0 0
Taça das Taças 4 360 0 / 0 0
Amigáveis 14 0
  1971/1972 40 3326 0 / 0 1  
Campeonato Nacional 25 2156 0 / 0 0
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 1
Taça de Portugal 5 450 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 8 720 0 / 0 0
Amigáveis 7 0
  1972/1973 33 2790 0 / 0 8  
Campeonato Nacional 27 2430 0 / 0 8
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 4 360 0 / 0 0
Amigáveis 18 5
  1973/1974 41 3497 0 / 0 8  
Campeonato Nacional 30 2700 0 / 0 5
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 1
Taça de Portugal 5 437 0 / 0 2
Taça dos Campeões Europeus 4 360 0 / 0 0
Amigáveis 7 4
  1974/1975 42 3600 0 / 0 11  
Campeonato Nacional 30 2700 0 / 0 8
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 1
Taça de Portugal 4 360 0 / 0 0
Taça das Taças 6 540 0 / 0 2
Amigáveis 13 4
  1977/1978 41 3470 0 / 0 4  
Campeonato Nacional 29 2570 0 / 0 2
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 0
Taça de Portugal 4 360 0 / 0 2
Taça dos Campeões Europeus 6 540 0 / 0 0
Amigáveis 7 2
  1978/1979 37 3138 0 / 0 8  
Campeonato Nacional 29 2598 0 / 0 7
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 0
Taça de Portugal 2 180 0 / 0 1
Taça UEFA 4 360 0 / 0 0
Amigáveis 10 3
  1979/1980 41 3501 0 / 0 12  
Campeonato Nacional 30 2691 0 / 0 7
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 1
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 4
Taça UEFA 2 180 0 / 0 0
Amigáveis 10 0
  1980/1981 36 3105 0 / 0 7  
Campeonato Nacional 22 1925 0 / 0 4
Taça de Portugal 4 360 0 / 0 1
Taça das Taças 9 730 0 / 0 2
Supertaça 1 90 0 / 0 0
Amigáveis 5 2
  1981/1982 36 3170 0 / 0 7  
Campeonato Nacional 26 2270 0 / 0 5
Taça de Portugal 6 540 0 / 0 2
Taça dos Campeões Europeus 3 270 0 / 0 0
Supertaça 1 90 0 / 0 0
Amigáveis 8 2
  1982/1983 47 4164 0 / 0 9  
Campeonato Nacional 29 2588 0 / 0 6
Taça de Portugal 6 496 0 / 0 3
Taça UEFA 12 1080 0 / 0 0
Amigáveis 10 3
  1983/1984 3 270 0 / 0 1  
Campeonato Nacional 2 180 0 / 0 1
Taça dos Campeões Europeus 1 90 0 / 0 0
Amigáveis 3 0
Total Jogos Amigáveis 131 25
Total Jogos Oficiais 510 44049 0 / 0 79
Na equipa principal

Primeiro jogo

Último jogo


Por administrador a Sexta, 5 Janeiro 2024

Manuel Costa


Nome Completo: HUMBERTO Manuel de Jesus COELHO
Posição: Defesa Central
Nacionalidade: Português (Internacional A)
Data de Nascimento: 20-04-1950
Número da Camisola: 3
Pé Preferido: Direito



Épocas ao serviço do Benfica: 14
Total de Jogos pelo Benfica: 498
Total de Golos pelo Benfica: 81
Títulos pelo Benfica:
8 Campeonatos Nacionais (1968/69, 1970/71, 1971/72, 1972/73, 1974/75, 1980/81, 1982/83, 1983/84)
6 Taças de Portugal (1968/69, 1969/70, 1971/72, 1979/80, 1980/81, 1982/83)
1 Supertaça de Portugal (1980/81)


1968/1969
Jogos: 40
Golos: 0

1969/1970
Jogos: 37
Golos: 0

1970/1971
Jogos: 36
Golos: 3 (3 na Liga)

1971/1972
Jogos: 39
Golos: 0

1972/1973
Jogos: 31
Golos: 8 (8 na Liga)

1973/1974
Jogos: 39
Golos: 7 (5 na Liga)

1974/1975
Jogos: 40
Golos: 10 (8 na Liga)

1977/1978
Jogos: 38
Golos: 10 (8 na Liga)

1978/1979
Jogos: 36
Golos: 8 (7 na Liga)

1979/1980
Jogos: 39
Golos: 11 (7 na Liga)

1980/1981
Jogos: 36
Golos: 7 (4 na Liga)

1981/1982
Jogos: 36
Golos: 6 (6 na Liga)

1982/1983
Jogos: 47
Golos: 10 (6 na Liga)

1983/1984
Jogos: 3
Golos: 1 (1 na Liga)

VitorPaneira7

#1
Fortuna Düsseldorf 2-2 Benfica | Taça das Taças 1980/81 - Quartos de Final (1ªMão)



Benfica 3-1 Porto | Campeonato 1981/82


Sporting 3-5 Benfica | Campeonato 1973/74


Benfica 3-2 Porto | Campeonato 1972/73


Benfica 2-0 Lokeren | Taça UEFA 1982/83 - 16avos de Final (1ªMão)


Manuel Costa

#2
Humberto M. de Jesus Coelho. Porto. 20 de Abril de 1950. Defesa.
Épocas no Benfica: 14 (68/75 e 77/84). Jogos: 496. Golos: 76. Títulos: 8 (Campeonato Nacional), 5 (Taça de Portugal) e 1 (Supertaça).
Outros Clubes: Ramaldense, Paris Saint-Germain e Las Vegas Quicksilver. Internacionalizações: 64.



Quem joga ao lado de Humberto Coelho? Esta bem poderá ter sido uma das questões mais vezes colocadas pelos adeptos do Benfica nas tertúlias da bola. Titular absoluto deste os 18 anos de idade, no eixo da defensiva, ao longo de tantas épocas, contracenou, sucessivamente, com Raul, Zeca, Humberto Fernandes, Coluna, Messias, Rui Rodrigues, Barros, António Bastos Lopes, Eurico, Laranjeira, Alhinho, Alberto Bastos Lopes e Frederico. E outros mais na Selecção Nacional. Humberto constituiu-se uma espécie de imperador. Com direitos adquiridos, pois de forma tão preexcelente cumpria os seus deveres. Humberto era a chave da fortaleza quase sempre inexpugnável. Tipo guarda-mor do templo vermelho. O chefe da tribo. O que gritava revolta ou à serenidade apelava.

Nasceu em Cedofeita, no Porto, provavelmente com genes de líder. O pai era operário metalúrgico, daquela classe que tem como divisa "nada nem ninguém nos vergará". Um lema que terá inculcado, desde a tenra idade, no filho Humberto, apesar da apetência deste por outras artes.

Só que o jovem tripeiro viveu uma infância pouco pacifica com a causa da bola. Era numa espécie de clandestinidade que exercitava o seu dom favorito. Os pais, o irmão mais velho até, amiúde o repreendiam, que futebol não era futuro, antes os livros, não fosse Humberto passar privações que a família bem conhecia. Da Escola de São João passou à Industrial, com aproveitamento satisfatório, mas sempre de ideia fixa no jogo da bola. Rapagão, José Águas era a sua referência primacial. Sonhava imitá-lo e aos golos de cabeça, numa altura em que o seu porte atlético não era nada desdenhável. Pela Mocidade Portuguesa, ainda praticou, na escola, basquetebol e voleibol, mas o apetite era outro. Tão voraz que, vencendo barreiras, daquelas quase intransponíveis, acabou por se fixar no Arsenal do Bessa, derivando de avançado para defesa-central.



Exibiu Humberto credenciais e, com apenas 13 anos, já o Leixões suspirava por aquele miúdo alto, mais alto que os demais, irrepreensível no jogo aéreo. Debalde, pois a voz firme da mãe com sério olhar à mistura, puseram-no em sentido, na prossecução do campeonato dos livros.

Algum tempo depois, já com endereço numa artéria da freguesia de Ramalde, finalmente o pai deu anuência e lá entrou a ficha de inscrição como juvenil do Ramaldense. Descoberto pelo FC Porto, nas Antas treinou, deixou a melhor das impressões, mas os dirigentes portistas acharam uma exorbitância a verba pedida pela transferência.

Agradeceu o Benfica, naquele ano mágico de 1966. Por apenas 40 contos, mais 25 para Humberto, com o compromisso de honra, selado à maneira, de melhorar a oferta no caso dele se impor no grémio da Luz. Mais parecia premonição. Coube a Ângelo Martins, treinador dos juniores, durante duas temporadas, a polidura executar. Com tanto sucesso que Humberto Coelho, pupilo modelo, pegou de estaca, embrionário estava o grande jogador, para um Benfica órfão de Félix ou Germano, que o mesmo é escrever de um central fora-de-série.

Na pré-época de 68, Otto Glória não hesitou e o facto mais relevante da digressão ao Brasil foi a entrada do capitão dos juniores na convocatória. Lá chegaram mais 30 contos a Ramalde, que no Benfica as escrituras eram para cumprir, cabendo cinco notas de mil mensalmente ao assalariado e ex-sonhador de utopias. Humberto Manuel de Jesus Coelho, de seu nome completo.



No primeiro jogo em Belém de Pará não actuou, mas no segundo marcou presença. E que presença! Frente ao Santos, com Pelé e tudo. Incumbido de marcar o génio foi. Aos 18 anos, logo haveria de caber a mais invejada das empreitadas. Saiu-se a contento, ainda que a vencer por 3-1, o Benfica viesse a consentir a igualdade. O medo estava exorcizado. Irreversivelmente...

Não mais perdeu Humberto a titularidade. Na abertura da temporada 68/69, era vê-lo a ganhar no palmómetro da Luz, num triunfo incontestável, de 4-1, frente ao Belenenses. Seguiram-se mais jogos, muitos jogos, adiada estava apenas a veia goleadora do defesa mais concretizador de toda a história do futebol luso. Foi com Hagan ao leme, no começo dos anos 70, que Humberto começou a comunicar no idioma do golo. O britânico era mesmo fleumático, não desmerecia a origem, avesso se mostrava ás substituições, por mais que a exigente plateia da Luz, de quando em vez, lhe propinasse umas ruidosas assobiadelas. E quando corria para o torto, a ordem era Humberto jogar na área, pelo lado direito das coisas, pelo golo, algumas vezes decisivo.

Haverá algum benfiquista dos 40 para cima, que não recorde o dramático jogo da Luz, em Novembro, dia de Verão de São Martinho, frente ao FC Porto, corria a época de 72/73, quando para espanto geral, a 15 minutos do fim da contenda, 0-2 era o resultado? Num quarto de hora apenas, explodiu o vulcão. Primeiro Vítor Baptista. Depois, Jaime Graça. o último minuto, Humberto, em postura de ponta-de-lança, haveria de sentenciar, obtendo o 3-2, num assomo inusitado de garra. De resto, em 16 temporadas, duas das quais ao serviço do Paris S. Germain, marcou 68 golos, o que lhe confere o 25º lugar entre os defesas mais concretizadores da história do futebol mundial.



Ganhador compulsivo, Humberto foi cimentando prestigio por todo lado onde o futebol falava mais alto. Sem surpresa foi convocado para a Selecção da Europa, em 19 de Agosto de 1981, na comemoração do 80º aniversário da Federação Checoslovaca de Futebol. Orientado pelo germânico Jupp Derwall, actuou ao lado de executantes do jaez de Blokhin, Krankl, Kaltz ou Pezzey. Um ano mais tarde, a consagração foi gigantesca. No Giants Stadium de Nova Iorque, perante 120 mil espectadores, Humberto actuou no meio de uma constelação de estrelas, em gala a favor das crianças da UNICEF. Para que conste, a Europa alinhou assim: Zoff (Itália); Krol (Holanda); Humberto Coelho (Portugal), Pezzey (Áustria) e Stojkovic (Jugoslávia); Beckenbauer (Alemanha), Antognoni (Itália) e Tardelli (Itália); Boniek (Polónia), Rossi (Itália) e Blokhin (União Soviética). Estávamos nos rescaldo do Mundial de Espanha e o antagonista foi o resto do Mundo, com N'Komo, Romeno, Júnior, Zico, Sócrates e Hugo Sanchez, entre outros. À chamada não faltaram também Schumacher (Alemanha), Keegan (Inglaterra), Neeskens (Holanda) e Platini (França). A Europa venceu por 3-2. Obrigado foi Humberto, taça nas mãos, a dar uma volta de honra ao estádio, colocando em clímax largas centenas, talvez milhares, de emigrantes portugueses.

A ele faltou, todavia, um titulo europeu. Esteve perto, bem perto, naquela final da Taça UEFA, com o Anderlecht, no final do ano de 83. Com menos resignação ainda se aceita o facto de jamais ter participado na fase final de um Europeu ou Mundial. Ele que fez parte de uma geração de futebolistas, como Eusébio, Simões, Jaime Graça, Nené, Vítor Baptista, Artur Jorge, Jordão, Vítor Martins, Toni, Alves, Rui Rodrigues, Artur, Carlos Manuel, Shéu, Bento, Pietra, Veloso, Álvaro, Diamantino ou Chalana, para nos socorrermos apenas, porventura com algum sectarismo, dos arquivos benfiquistas.



A ânsia de Humberto, já trintão, selar a ouro uma carreira magnifica, talvez tenha precipitado o adeus definitivo. Havia-se lesionado num treino da Selecção, antes de uma partida com a Finlândia, em Setembro de 83. Desesperado, tentou a recuperação, sempre com o Europeu de França na linha do horizonte, forçou em demasia, porque o tempo lhe parecia fugir. E fugiu mesmo.

À ribalta regressou, anos mais tarde, como seleccionador nacional. Então sim, pisou o palco que a vida de jogador, de forma impiedosa, lhe havia negado. A melhor das compensações não se fez esperar. Porque Deus é bom, dirão os crentes. Garbosamente, comemorou o terceiro lugar no Euro 2000. Justiça se fez.


Tópico: Memorial Benfica, Glórias
Autor: Ednilson
Link: http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=22362.90

Corrosivo

Grande Humberto.

E foi um excelente seleccionador, vergonhosamente afastado para abrir alas para o representante do sistema

Brave Heart

ele ainda jogou o ano passado? :o

EDIT: LOOOOOL
Mas como treinador...

slbenfica_croft

Olha o "nosso" Humberto.

Um senhor cheio de classe.

Redady

Aqueles golos de cabeça ao primeiro poste não me saem da memória ... era cada golo!

Elvis the Pelvis

Está no top 5 dos melhores centrais de sempre do Benfica. :bow2:

Shoky

Citação de: Manuel Costa em 30 de Janeiro de 2007, 21:58
Nome Completo: Humberto Manuel de Jesus Coelho
Alcunha: O Beckenbauer Português
Nacionalidade: Portuguesa
Local de Nascimento: Cedofeita / Porto
Data de Nascimento: 20 de Abril de 1950
Posição: Defesa-Central / Libero
Altura: 1,85m
Peso: 83Kg








Clubes:

2006/07 - Al-Shabab (Abandonou em 26/12/2006)
2005/06 - ?
2004/05 - ?
2002/03 -> 2003/04 - Seleccionador Nacional - Coreia do Sul
2001/02 - Seleccionador Nacional - Marrocos
2000/01 - ?
1997/98 ->1999/00 - Seleccionador Nacional Português
1987/88 -> 1996/97 - Federação Portuguesa de Futebol
1986/87 - Sporting Braga - Treinador
1985/86 - Salgueiros - Treinador

1984/85 - S.L.Benfica / Las Vegas Quicksilver
1977/78 ->1983/84 - S.L.Benfica
1975/76 -> 1976/77 - P.S.G. - 48 Jogos / 8 Golos
1968/69 ->1974/75 - S.L.Benfica
1966/67 ->1967/68 - S.L.Benfica (Júniores)
1964/65 -> 1965/66 - Ramaldense (Juvenis)

Palmarés:

8 Campeonatos Nacionais - 1968/69, 1970/71, 1971/72, 1972/73, 1974/75, 1980/81, 1982/83 e 1983/84 (S.L.Benfica)
6 Taças de Portugal - 1968/69, 1969/70, 1971/72, 1979/80, 1980/81 e 1982/83 (S.L.Benfica)
1 Supertaça Cândido de Oliveira - 1979/80 (S.L.Benfica)
1 Taça Ibérica - 1983/84 (S.L.Benfica)
1 Torneio Ramon Carranza (Cádiz) - 1971/72 (S.L.Benfica)
2 Torneios de Badajoz - 1968/69 e 1972/73 (S.L.Benfica)
1 Torneio de Salamanca - 1972/73 (S.L.Benfica)
1 Torneio de Lisboa - 1983/84 (S.L.Benfica)
3 Torneios de Toronto - 1980/81, 1981/82 e 1982/83 (S.L.Benfica)
1 Torneio FK Schalke 04 (Gelsenkirchen) - 1979/80 (S.L.Benfica)
1 Torneio Vinho do Porto - 1972/73 (S.L.Benfica)
1 Torneio Los Angeles - 1974/75 (S.L.Benfica)
1 Torneio de Belo Horizonte - 1974/75 (S.L.Benfica)
1 Torneio de Paris - 1978/79 (S.L.Benfica)
Vice-Campeão da Taça UEFA - 1982/83 (S.L.Benfica)

Curiosidades:

- Aos 18 anos apareceu pela 1ª vez no "1º Team" encarnado, em Belém de Pará, pela mão de Otto Glória. Ficou encarregue de marcar "apenas" o Rei Pelé. O S.L.Benfica esteve a ganhar 3-1 mas o resultado final foi de 3-3.
- A 12 de Agosto de 1981 foi "convocado" por Jupp Derwall para, no 80º aniversário da Federação Checoslovaca de Futebol, alinhar ao lado de Blokhin, Krankl, Kaltz, Pezzey, entre outros.
- A 7 de Agosto de 1982, o capitão benfiquista teve a "consagração" ao lado de Beckenbauer, Platini, Zico, Keegan, Zoff, Rossi, Antognoni, Tardeli, Neeskens, Krol, Boniek, Blokhin, Falcão, Sócrates, Hugo Sanchez, Schumacher, entre outros. Numa gala a favor das crianças, organizada pela UNICEF, alinhou pela Selecção da Europa (Zoff; Krol, Humberto Coelho, Pezzey e Stojkovic; Beckenbauer, Antognoni e Tardelli; Boniek, Rossi e Blokhin) e venceu por 3-2 uma Selecção do Resto do Mundo onde alinharam por exemplo N'Kono, Romeno, Júnior, Zico, Sócrates e Hugo Sanchez. O Giants Stadium de Nova Iorque, com alguns milhares de portugueses entre os 120 mil espectadores, entrou em delírio e Humberto Coelho foi "obrigado", de taça na mão, a dar uma "volta de honra" ao estádio.
- Em Setembro de 1983 lesionou-se com gravidade em vésperas de defrontar a Finlândia e "perdeu" o EURO 1984.
- Em 2000 levou, como Seleccionador Nacional Português, a nossa selecção a um brilhante 3º Lugar no EURO 2000.
- Foi (e ainda é) o 26º jogador defensivo com mais golos marcados de sempre.



Shoky

Estatisticas impressionantes...dignas de um qualquer extremo ou avançado! :)

Bola7

Citação de: Manuel Costa em 30 de Janeiro de 2007, 22:13
o Humberto Coelho era um grande defesa mas que saía com a bola controlada para o ataque, não era de atirar pontapés para a frente e assim entregar a bola aos adversários, sabia integrar-se no ataque, aparecendo livre de marcação para finalizar jogadas, também era um exímio cabeceador


em mais de 50 anos de vida, ele foi o melhor central que eu vi de águia ao peito
nada mais a acrescentar...

Luxemburguês

É por causa de HOMENS  como este que o meu pai já não vê o Benfica!!!
DIz que agora são meia duzia de badamecos que só querem dinheiro.
Até lhe corta o coração ver os tristes de hoje em dia.

Bola7

Citação de: Luxemburguês em 11 de Setembro de 2008, 20:45
É por causa de HOMENS  como este que o meu pai já não vê o Benfica!!!
DIz que agora são meia duzia de badamecos que só querem dinheiro.
Até lhe corta o coração ver os tristes de hoje em dia.
é ele e eu...

Freire

Do melhor que vi com a nossa camisola.

Andrew86

20-4-1950, precisamente a mesma data de nascimento do meu pai,lol