Amante da verdade

Fonte
www.abola.pt
Hoje, poucos deixarão de concordar que o treinador espanhol representa uma mais valia, não somente para a classe de treinadores como para o próprio futebol português, sendo exemplo disso a projecção mediática que o Benfica voltou a ter em Espanha. Definir o estilo e a personalidade de Camacho conduz directamente ao seu elevado grau de profissionalismo, a vertente sobre o qual giram todas as impressões positivas ou negativas que a sua figura possa projectar junto dos interlocutores directos ou das pessoas que com ele trabalham. Dizer que José Antonio Camacho é «fixe» ou um «tipo duro» como tem sido apanágio é, seguramente, emitir opinião incompleta, pois essas são apenas duas facetas de uma personalidade que tem o epicentro na seriedade com que encara a sua profissão. Será «fixe», por ser uma figura pública incrivelmente acessível e conversador, sobretudo quando o tema é futebol, mas simultaneamente «duro» para quem tente intrometer-se na sua área de acção ou, no caso dos jogadores, não cumpra à risca as suas orientações. Esta análise decorre dos dias de convivência com o técnico espanhol, que culminaram numa conversa informal durante o voo que o transportou até Madrid, na véspera de ano novo, e sem grande margem de erro apesar do pouco tempo que o técnico espanhol leva entre nós. Parafraseando Mário Wilson, todos os treinadores são escravos dos resultados e Camacho não foge à regra. Mas José Antonio Camacho é o primeiro a admitir, com assomo, que as excelentes relações que mantém hoje com Luís Filipe Vieira podem perfeitamente deteriorar-se ao fim de alguns meses, se os resultados não corresponderem às expectativas. Se isso vier acontecer, ninguém duvide que estamos em presença de alguém com estrutura mental suficientemente forte para assumir a responsabilidade e fazer as malas para regressar ao seu país. «No pasa nada» é uma das suas frases predilectas. Os 30 dias em Lisboa já permitiram a José Antonio Camacho tomar o pulso à situação do clube e perceber os transtornos causados pelo novo estádio ou pelas limitações financeiras. Por isso, contemporiza com a vida de nómada que tem marcado o dia-a-dia da equipa de futebol, as dificuldades em conseguir reforços de vulto e até em pagar a tempo e horas os salários dos jogadores, aos quais defende «a muerte». Face a tudo isto, o técnico espanhol só pede que lhe digam a verdade, para tomar uma decisão sustentada quando estiver em cima da mesa a sua continuidade no Benfica. No entanto, recorre a um adágio popular do seu país para deixar uma mensagem clara aos altos comandos da Luz: «Quando se pede uma cerveja, tem de ser fria. Se não for fria, não pode ter a mesma qualidade.» Para bom entendedor...