Ganhar ao F. C. Porto e ir à Liga dos Campeões

Fonte
www.abola.pt
Ninguém na Luz conhece como ele o sabor de um título com o símbolo da águia. Hélder Cristóvão esteve no último campeonato ganho pelos encarnados, enriqueceu a sua carreira com experiências na Liga espanhola e inglesa e apostou tudo no regresso à Luz. Precisou esperar 12 jornadas para vestir a pele de titular e desde então a regularidade defensiva tem sido uma das notas em destaque da equipa de Camacho. No relvado Hélder gosta de jogar à defesa, com as palavras joga em diversos sentidos. A entrevista a um dos jogadores-referência do balneário benfiquista. — Conquistou a titularidade há 900 minutos. Desde então o Benfica apenas sofreu quatro golos. Significa isto que a experiência ainda é um posto? — Há uma maior ajuda entre todo o quarteto defensivo e, talvez, maior compreensão. Entrei numa fase de transição em que todos os jogadores estavam a tentar ainda ganhar o seu espaço na equipa, face também à mudança de treinador, e isso também contribuiu para a melhoria evidenciada pelo sector defensivo. — Há maior equilíbrio? — Claramente. Há maior responsabilidade entre todos. É com algum orgulho que digo que somos a equipa menos batida do campeonato e essa é um pouco a nossa meta. Eu e o Argel temos conversado bastante sobre isso e penso que essa terá de ser a nossa prioridade enquanto defesas, tentar terminar o campeonato com esse título. — Até este momento apenas 15 golos sofridos. É a resposta aos que diziam que o sector defensivo era o ponto mais fraco da equipa? — Antes de mais é um marco importante para nós. Seguindo a filosofia de não sofrer golos e com os jogadores de qualidade que temos na frente certamente poderemos fazer, pelo menos, um golo por jogo. Se houver segurança lá atrás, os que estão mais à frente só se preocuparão em fazer o papel deles e assim vencer os jogos. O sector defensivo do Benfica sempre foi criticado, muitas vezes injustamente. — Foi à 12ª jornada que subiu a titular. Estava em condições de ter aparecido mais cedo? — Estava apto para jogar há mais tempo, tanto que entrava nas convocatórias, se não estou em erro, desde a quinta ou sexta jornada. Talvez agora possa questionar se o momento certo para regressar poderia ter sido mais cedo. O importante agora é pensar no presente e no futuro. As coisas estão a correr bem, temos de planear da melhor forma o futuro aproveitando os bons jogadores que o Benfica tem. A coragem de Chalana — Foi uma sensação estranha ter sido chamado à titularidade por um grande ex-jogador do clube, estando o novo treinador na bancada? — Já tinha jogado frente ao Gondomar e, apesar da eliminação da Taça, creio dei uma resposta bastante positiva ao que esperavam de mim. O Chalana, por aquilo que já disse publicamente e pelo que me revelou pessoalmente, tinha uma equipa pensada há muito tempo e quando teve oportunidade de o fazer, de ser ele a tomar conta da equipa, tentou colocar em prática as suas ideias e estou certo que com benefícios para todos. — Naquela fase de transição, já com novo treinador escolhido, o mais fácil seria não mexer muito... — Foi um acto de coragem, teve de mudar muita coisa. O futebol também precisa de homens assim, pessoas que consigam tomar as decisões certas nas horas certas. Estou-lhe grato por isso. Talvez ele sabendo que iria ter um ou dois jogos no máximo como treinador do Benfica tenha desejado deixar a sua marca. Ele não tinha responsabilidade nenhuma, ninguém lhe iria apontar nada caso o Benfica perdesse mas teve coragem, assumiu o protagonismo e pôs a equipa que ele pensava que naquele momento podia rendar mais. — A 13 pontos do líder, pouco mais há a discutir que não seja o segundo lugar... — Nesta altura a história do campeonato está feita em termos de campeão, apesar de matematicamente ainda ser possível uma reviravolta. Mas é muito complicado. Estamos em segundo lugar e só temos de dar continuidade às palavras de mister Camacho, agarrar esta oportunidade, cimentar o segundo lugar e regressar a uma competição europeia, o que permitirá elevar novamente o nome do clube bem alto, sabendo que na Liga dos Campeões estão presentes as melhores equipas europeias da actualidade. — Vai ser um resto de campeonato bastante competitivo entre Benfica e Sporting? — Sem dúvida. Da nossa parte temos pequenas coisas a tentar conseguir, como por exemplo ser a equipa com mais golos marcados, com menos sofridos, tentar ganhar ao F. C. Porto, coisas que nos darão motivação para continuar a lutar pelos nossos objectivos. Fasquia muito alta e balneário demasiado exposto — Era este o Benfica que esperava quando aceitou regressar? — Este Benfica tinha uma fasquia muito alta quando cheguei, o que terá sido também um pouco prejudicial para o próprio plantel, porque se criou uma ideia que o Benfica podia ser campeão. Fez uma boa pré-temporada, venceu os quatro primeiros jogos do campeonato, era uma equipa talhada para o sucesso e ao primeiro contratempo abanou. Abanou porque não estávamos preparados para perder e a partir daí não houve um carácter forte por parte dos jogadores, mas principalmente de quem liderava a equipa na altura para recolocar as coisas no lugar. E fomo-nos arrastando, umas vezes jogando mais com o coração, outras com o orgulho e face a isso não conseguimos dar continuidade ao bom trabalho efectuado na pré temporada e na fase inicial da época. Tirando isso, acho que este Benfica corresponde ao que esperava. A Direcção apostou muito nesta época, o valor está presente no plantel, é natural que sejam necessários alguns ajustezinhos, mentalidade mais forte e fechar ainda mais o balneário, que estava muito exposto ao exterior, o que é sempre prejudicial para uma equipa que luta pelo título. Porque sendo o Benfica uma equipa que vende muito, que é falada constantemente, houve alguma falta de cuidado no sentido de nos fecharmos mais, e não digo isto em relação aos jogadores, mas aos funcionários e a toda a gente que faz parte do clube. Era preciso um balneário mais fechado, coisa que agora conseguimos... — Se houvesse Camacho desde o início da época, por exemplo, sente que a tabela classificativa da SuperLiga poderia ser diferente? — Se olharmos para a trajectória de mister Camacho desde que chegou tenho de dizer que sim. Mas é muito complicado responder a isso, porque é impossível prever como seria se ele tivesse iniciado a época. Mas este treinador está com uma trajectória bonita dentro do clube. Se vencermos o Nacional, estaremos há três meses sem perder, é isso que queremos para continuar no bom caminho. — Que falta, então, a este Benfica para ser campeão? — Não lhe falta nada. No início faltou-lhe um balneário mais fechado, como já disse, e uma mentalização que perder um jogo não era o fim do mundo. — Houve falta de trabalho psicológico? — Acho que nos deixámos embarcar pela euforia que reinava à volta da equipa. A palavra campeão estava sempre presente e isso nem sempre é bom num grupo tão jovem, com alguns jogadores ainda à procura de identidade no futebol português, que vivem o Benfica pela primeira vez. Este é um clube especial, como já tive oportunidade de dizer várias vezes. É natural que os sócios cada vez exijam mais, porque os anos vão passando e nada de títulos. E isso sente-se um pouco quando se joga na Luz, onde cada vez a pressão é maior. — Quase todos os treinadores que têm passado pelo Benfica têm pedido tempo. É um discurso que os adeptos não entendem? — Numa equipa como o Benfica é difícil dar tempo. Mas se tantos treinadores dizem o mesmo é porque realmente é isso que falta. É preciso dar tempo aos treinadores que têm tido uma vivência muito curta na Luz; aos jogadores, pois muitas vezes somos criticados logo no primeiro desafio, e isso não consigo compreender. Falta um pouco de paciência às pessoas, mas por outro lado também compreendo porque o Benfica é um clube que sempre esteve habituado a viver de grandes momentos. Seja como for, se este ano ficarmos em segundo não é descrédito algum. — Que sentem os jogadores quando o público assobia a equipa? — É verdade que nem sempre jogamos como o público quer. As pessoas cada vez exigem mais, mas isso passa também pela maturidade dos jogadores, que não podem estar dependentes dos assobios do público. Cria alguma pressão, mas temos de saber viver com isso. Por vezes as pessoas têm tendência a dizer que isso acontece devido à juventude dos jogadores, mas acho que é uma falsa questão, porque se formos ver o Ronaldo, o Raúl, o próprio Baía e outros com 20 anos já eram o que eram. Muitas vezes a juventude é uma desculpa fácil para certas coisas. — Faltam referências ao Benfica, como diz Camacho? — Faltam. Num clube grande como o Benfica há sempre três, quatro, cinco jogadores com mais anos de casa, que conseguem transmitir rapidamente uma mensagem aos mais novos. Vivemos um pouco esse problema, porque não existem jogadores que se mantenham muitos anos, espero que as coisas mudem.