Mário Gomes diz

Fonte
www.slbenfica.pt
Mário Gomes, dono de um vasto currículo de sucesso ao serviço do basquetebol do Benfica, regressou às funções de treinador principal após ter rescindido devido a um acumular de situações adversas à orientação de uma equipa profissional. Refeita a equipa técnica com André Martins, também ele forçado a sair, e confirmado igualmente o regresso do director desportivo Pedro Miguel, o basquetebol do Benfica prepara-se assim para voltar às vitórias que têm pautado este início de época. Passado um mês sobre as rescisões, Mário Gomes volta pela mão de Manuel Vilarinho e com a intenção de recuperar o tempo perdido ao longo das últimas semanas de indefinições e especulações sobre o futuro da modalidade. «Encontrei a equipa unida e uma grande coesão» Agora que regressou ao Benfica, passado sensivelmente um mês desde a sua rescisão, qual é o espírito da equipa? Encontrei-a com uma grande coesão e união, com grande desejo de trabalhar seriamente, aliás, características que têm sido o apanágio desta equipa e que continuam presentes, provavelmente até estarão reforçadas. Penso que a equipa quando voltar a jogar, seguramente apresentar-se-á com estas características e com uma extraordinária atitude competitiva. Relativamente aos aspectos técnicos, tácticos e físicos, obviamente que sofreram. Um ciclo destes provoca consequências e aquilo que a experiência nos diz é que estes atrasos normalmente pagam-se, quando e como, não sei bem, mas o mais provável é que mais tarde ou mais cedo, as dificuldades surgirão, não só pela interrupção que o processo de treino sofreu, mas também pelo grande desgaste mental provocado aos jogadores. Perante o atraso na preparação do grupo, quais são as reais capacidades da equipa em termos competitivos? A única coisa que podemos prometer nesta altura, é que vamos olhar o menos possível para o passado e concentrarmo-nos no presente e no futuro, trabalhando ainda mais e melhor do que fazíamos. Além disto, é óbvio que a Liga Profissional é uma competição forte, onde, ao contrário do que tem acontecido no Benfica, algumas equipas têm demonstrado capacidade financeira e organizativa para se reforçarem sempre que necessário. No actual enquadramento do Benfica, tal não é possível. A equipa do Benfica não só não tem tido, nem é previsível que venha a ter a curto prazo, possibilidades para rectificar lacunas. Na realidade, temos é perdido jogadores. A vaga para um norte-americano não deverá ser, portanto, ocupada... Neste momento não há essa possibilidade, havendo no entanto um compromisso por parte das pessoas envolvidas. Se se revelar necessário e com certeza que se revelará, a vaga actualmente existente será preenchida mediante a capacidade financeira para responder a essa necessidade, mas no imediato não. «Futuro do basquetebol não está dependente nem hipotecado aos resultados desportivos» Foram colocadas condicionantes ao seu regresso em termos de resultados desportivos? Os objectivos competitivos do Benfica, neste momento, resumem-se a lutar pela vitória em cada jogo. Aliás, esta é uma situação que a Direcção do clube, na pessoa do presidente Manuel Vilarinho, assim como dos membros da Comissão Instaladora da SAD, estão a par e em relação à qual me garantiram uma total solidariedade institucional, substanciada no compromisso que o futuro do basquetebol do Benfica não está de maneira nenhuma dependente nem hipotecado aos resultados desportivos que vierem a acontecer esta época. Julgo que se trata da mais elementar justiça, porque estes jogadores já demonstraram que em termos de seriedade, atitude e empenho, são insuperáveis em Portugal. «Decisão de rescindir não foi tomada de ânimo leve» Acha que a sua rescisão pecou por tardia face às inúmeras dificuldades que têm condicionado os últimos dois anos da modalidade? Como imagina, a decisão de rescindir não foi pensada de ânimo leve. Tomámos aquela atitude por nos vermos obrigados a tomá-la. Foi, na altura, a única atitude possível, mas era também a última atitude que nós (Mário Gomes e o adjunto André Martins) queríamos tomar. Foi um imperativo de consciência devido a uma determinada conjectura de condições de trabalho e não por qualquer questão pessoal. No que concerne à relação com José Santos (ex-responsável pela modalidades), nunca houve nenhum problema de ordem pessoal. O que se passou foi unicamente que, em dada altura, ficou entendido que não estavam reunidas as condições necessárias para treinar a equipa. E o tão comentado futuro da modalidade no clube? Foi-me garantido por Manuel Vilarinho que o futuro da modalidade no clube não está em causa, nem institucionalmente, nem pessoalmente da parte dele, antes pelo contrário. Existe um compromisso de não fazer depender o futuro da modalidade dos resultados desportivos desta época. A par disso, o presidente do clube assumiu compromissos e garantias relativamente aos assuntos pendentes, quer contratuais, quer salariais e alguns deles vão ser resolvidos de imediato e no que diz respeito ao restante, foi assumido um compromisso de prazo que nos parece bastante razoável. «Há muitos anos que o Benfica não tinha tantos jogadores na Selecção Nacional» Sente que o Benfica é o mais prejudicado com as sucessivas indefinições? Não fossem as dificuldades relacionadas com níveis de decisão que nos ultrapassam e neste momento já tínhamos atingido patamares competitivos bem mais elevados, não só na equipa profissional mas também na globalidade da secção. No entanto, há uma realidade indesmentível. O Benfica consegue ter uma equipa profissional competitiva, não será ainda candidata a títulos, mas poderá caminhar nesse sentido com uma base substancial de jogadores que fizeram a sua formação, total ou parcialmente no clube. O facto que o Benfica teve recentemente, quatro jogadores na Selecção Nacional e um quinto jogador pré-convocado (Hugo Ribeiro), é algo que há muitos anos não sucedia e não sei se acontece em mais alguma modalidade no clube. Como se processou o seu regresso ao Benfica? Tanto da minha parte como do André Martins, nunca houve intenção em alimentar um eventual regresso. No dia 25 de Outubro, tive uma longa conversa telefónica com o presidente do clube e desde essa data até ao dia 1 de Dezembro, altura em que tive uma reunião com o presidente e que propiciou este regresso, não tive contacto com qualquer responsável do Benfica. Na realidade, nunca me passou pela cabeça, especialmente depois de tanto tempo, estar de regresso ao Benfica. Tenho contrato até ao final da época e é só esse vínculo que eu quero que as pessoas assumam e respeitem, porque de maneira nenhuma, e mesmo que não fosse esta a minha intenção, eu poderia dar a entender a quem quer que fosse que me poderia estar a aproveitar desta situação. Simplesmente não faz parte do meu carácter.