O que roubou o sorriso à águia?

Fonte
www.abola.pt
José Antonio Camacho pegou na equipa e o primeiro grande teste foi logo com o Sporting, depois da vitória (3-1) sobre o Gil Vicente. Passaram com nota máxima o treinador e os jogadores, que ganharam por 2-0 e jogaram com alegria, com o entusiasmo de quem quer impressionar uma nova equipa técnica. O Benfica ganhou, depois, ao Belenenses (1-0), empatou com o Boavista (0-0), empatou com o Vitória de Guimarães (1-1), venceu o Marítimo (2-1) e o Beira-Mar (1-0). Veio o Moreirense e um empate de que os benfiquistas não gostaram. Camacho também não, embora tenha enaltecido a atitude dos jogadores na procura da igualdade. Camacho falou de falta de alegria, uma alegria que, em situações anteriores, terá sido essencial para ultrapassar as dificuldades, muitas delas escancaradas em praça pública. Médicos e lesões O primeiro problema e o mais mediático, até pelo alerta que o próprio José Antonio Camacho lançou, relaciona-se com a polémica e indefinição instalada no departamento médico. Como se não bastassem as muitas lesões (são sete os que actualmente estão indisponíveis), ligeiras e graves, a situação chegou a um ponto em que Roger, avançado brasileiro que tem uma pubalgia, tem de esperar para saber se pode ser operado por Bernardo Vasconcelos, o chefe clínico que está de saída do clube. O fisioterapeuta António Gaspar apresentou demissão, o médico António Martins também e é natural, como frisou o treinador, que os jogadores se envolvam e distraiam com estas questões, eles que apenas se deveriam concentrar em jogar futebol. O caso de Mantorras, por exemplo, acabou por ser mais falado no contexto do comportamento médico do que propriamente pela gravidade da lesão, dolorosa recuperação e demorada ausência que significará na carreira do jogador. Mantorras, recorde-se, foi operado duas vezes ao joelho direito, a última causada por uma lesão na cartilagem que envolve o menisco. Esforço em vez de naturalidade A maior força desta equipa benfiquista está no meio-campo, onde Petit e Tiago formam uma dupla que alia a lucidez táctica a um pulmão que parecia inesgotável. Parecia mas não é. Tiago e Petit têm revelado algum desgaste físico nos dois últimos jogos. Frente ao Beira-Mar Tiago não foi a referência do costume e anteontem, frente ao Moreirense, Tiago e Petit voltaram a não apresentar o nível a que habituaram os benfiquistas (ver pag.15). Poderemos ainda encontrar, como justificativo para um ligeiro cansaço, os dois jogos particulares realizados em duas semanas, o primeiro com o Ajax e o segundo com o Barcelona, além de uma série de encontros difíceis (Boavista, Vitória de Guimarães e Marítimo) em que o Benfica conseguiu pontuar nos limites, fruto de uma entrega total e que naturalmente se exige. Os jogos e resultados não têm aparecido com naturalidade, têm aparecido com esforço. Distanciamento dos adeptos O entusiasmo dos adeptos também tem arrefecido e basta olhar para o público que esteve anteontem na Luz, para assistir ao jogo com o Moreirense: apenas 9500 pessoas! Os apetecidos espectáculos com o Ajax e com o Barcelona também ficaram aquém das expectativas. De uma forma geral, não é um ambiente de entusiasmo que envolve a equipa benfiquista, talvez seja, também neste domínio, de consciência das limitações e problemas que afectam os vários departamentos do clube. Que motivação É o segundo lugar que a equipa persegue e todos percebem isso, mas certamente que custará aos atletas perceber a enorme distância, cada vez maior, que os separa do líder, F. C. Porto. São 13 pontos, 13 razões para um jogador do Benfica sentir tristeza e desalento, falta de motivação. Diz o povo que dinheiro puxa dinheiro, neste caso o sucesso competitivo puxa mais sucesso e alegria a jogar futebol. Num clube com a dimensão do Benfica, em que as exigências, as pressões pesam como não pesam em nenhum outro clube em Portugal, os jogadores precisam encontrar nos treinadores, dirigentes, médicos e em todos os departamentos, a rede necessária para entrarem em campo com total disponibilidade mental. A meta da Liga dos Campeões poderá, ainda assim, funcionar como único factor motivante da época. Desequilíbrios no plantel José Antonio Camacho chegou e disse que o plantel estava descompensado, que havia muitos jogadores para algumas posições e poucos para outras. Continuou, reabriu o mercado de transferências, voltou a fechar e o treinador continua a entender que os desequilíbrios se mantêm. O Barcelona emprestou o brasileiro Geovanni – que ainda não mostrou o seu valor – e os problemas no flanco direito foram atenuados; Sokota recuperou de lesão e procura a forma para voltar em grande, mas... falta mais um lateral-esquerdo; uma alternativa para a direita que permita a Miguel deixar de ser uma adaptação; a definição quanto ao lugar de Ricardo Rocha (já foi defesa-central, direito e esquerdo). Como também disse Camacho, ainda não existe um grupo de três, quatro jogadores que estejam habituados a ganhar e a perder com a camisola do Benfica e tudo o que ela representa. Quando falta alegria são os jogadores identificados com o clube que sabem recuperá-la. Treinar de casa às costas Onde se treina o Benfica? A pergunta é válida diariamente para quem quer ver os jogadores trabalharem. No Estádio da Luz, no Estádio Nacional, no Estádio Universitário, no campo do Real Sport Clube, na Amora e até no Sintrense, por todos estes locais já passou a equipa. O treinador espanhol já disse que não é bom, que não é aconselhável do ponto de vista físico e técnico, mas com o estádio em obras pouco há a fazer nesta altura. Em Abril o plantel fica a treinar-se, definitivamente, em Massamá. Talvez então haja equilíbrio neste princípio básico para um jogador de futebol que é... treinar-se. Em busca da alegria!