PANCHITO II

Submitted by ednilson on
Fonte
maisfutebol.iol.pt
MF: Costuma dizer que se sente bem no Benfica. O que encontrou no Benfica que não encontrou, por exemplo, no Barcelona? P: As pessoas pensam muitas vezes que eu tenho receio do Barcelona e não é assim. Dei-me muito bem lá. Só tive problemas com um tipo que era vice-presidente da secção, era um «gajo» maluco. Fui-me embora por ele e passados dois anos mandaram-no embora porque já todo o mundo estava farto dele. Era insuportável, mas já passou e eu não sou ninguém para julgar as pessoas. MF: Mas quais são as grandes diferenças entre o Benfica e o Barcelona? P: O Barcelona é um senhor de fato e gravata, com muito dinheiro. O Benfica é um rapaz mais normal, mais trabalhador, mais gente. Quando digo que o Benfica é o melhor clube do Mundo não estou a falar economicamente porque o Barcelona tem muito mais dinheiro- eu estive lá e sei disso. Agora, jogando pelo Barcelona, nunca enchi o pavilhão de gente. Pelo Benfica, jogo na Itália, na Suíça, onde for, e estão lá sempre adeptos. É outra coisa. O Benfica é uma namorada, é daquelas boas raparigas que te deixam ir ao norte e à Itália, que sempre estão aí. São coisas lindas. Fui ver um jogo de futebol do Benfica, vínhamos de duas derrotas, estávamos em quarto ou quinto lugar na classificação- não estou a dizer mal do futebol e desejo-lhes os maiores êxitos, mas às vezes, as coisas não lhes correm bem, como também nos acontece-, olhei para o público, que é gente do povo, e vi umas caras de tristeza... E quando ganham também têm uma felicidade para a semana inteira. É lindo! O Benfica é isso, é paixão. MF: Quais são as ambições do hóquei do Benfica para esta época? P: O Benfica tem a ambição de ganhar, ganhar tudo, mas não pensando no futuro. É ganhar no sábado, na quarta-feira. O problema é que o Benfica tem poucos jogadores, não tem variantes. Se o Benfica pudesse ter feito contratações... mas foi ao contrário, foi-se embora o Luís Ferreira, que é um grande jogador e que fazia falta. A base sólida para fazer uma grande equipa existe, mas também era preciso ter mais opções. Hoje em dia para ganhar ao mais alto nível precisam-se outras coisas que o Benfica não tem. É preciso chegar bem a Abril/Maio. O Benfica chega muito cansado porque já teve de andar muito para chegar aí. MF: Diz-se que o campeonato espanhol é mais competitivo do que o português, uma opinião que não partilha. P: A prova disso é que o Barcelona, a seis jornadas, já tem quatro pontos de avanço. Eu gostava de ver o Barcelona a jogar aqui, com o F.C. Porto, o Óquei de Barcelos, o Infante. Não é fácil, o campeonato português está muito competitivo. Em Espanha, anda um pelotão atrás do ciclista da frente, aqui há muitos candidatos ao título. MF: Algumas pessoas defendem que é preciso uma mudança de mentalidade para que o hóquei em patins ganhe o peso que já teve. Concorda? P: É verdade. O que é monótono nunca foi longe. Há que mudar, há que renovar, há que inovar. O hóquei é muito monótono, é isto, isto e mais nada. Hoje em dia o público português vem ver o Benfica-Porto, mas o resto é sempre a mesma coisa. É um liga de hóquei em que os jogadores ganham pouco porque é uma modalidade onde se ganha pouco dinheiro e em que jogam mais partidas. Quem é que suporta tantos jogos? Alongar o campeonato mais um mês é uma coisa ilógica. Os dirigentes pensam que é melhor para eles, mas nos jogadores não se pensa nunca. Nós também precisamos de mudanças e no hóquei é possível fazê-las. E o público também sente isso. Há uma diferença enorme entre ver um jogo no ringue ou na televisão. Nós também podemos jogar com uma bola vermelha e jogar num piso onde a bola seja mais visível. É preciso que haja espectáculo. Agora há um senhor em Espanha com ideias novas, não sei se são boas ou más, são ideias. MF: Como se caracterizaria enquanto jogador de hóquei em patins? P: Não sei bem como definir-me. Aqui também se trata um bocadinho de marketing porque Panchito soa bem. Por exemplo, o Mariano (seu irmão), também joga muito bem. Eu, eu sou um jogador de equipa e tento fazer tudo para que o treinador me dê os parabéns. Mas, fenónemo, estrela, não sou. Só luto para ganhar e fazer as coisas bem. Toda a gente diz que, se o Benfica ganha, o público fica contente, mas o público benfiquista é complicado. Tem também de ver uma boa exibição, é exigente, mas são justos porque quando fazemos as coisas bem, também ouvimos aplausos. MF: Em termos de lesões, como está a sua situação? P: Infelizmente, o problema não está ultrapassado porque há que jogar e ganhar. Já falámos em fazer uma recuperação mais prolongada, mas por enquanto tenho de jogar assim. É o meu trabalho e estou consciente disso. Muitas vezes tenho de tirar líquido do joelho para jogar, mas é a minha vida. Uma pessoa tem de se habituar a isso. MF: Ainda tem algum objectivo profissional por cumprir no hóquei? P: Quando se deixa de sonhar acaba tudo, o meu pai sempre me disse isso. Sonho em ganhar uma Liga da Europa, gostava de ganhar um Mundial pela Argentina aqui em Portugal e oferecer a vitória aos benfiquistas- eu tive a sorte ou o azar de fazer o golo que eliminou Portugal do Mundial na Argentina, mas o benfiquistas não ficaram assim tão tristes. Estou sempre a sonhar em fazer um golo melhor, como um miúdo... MF: Qual o momento da sua carreira que vai recordar para sempre? P: Graças a Deus tenho muitos. Se der uma olhadela rápida pelo passado, lembro-me sempre do primeiro dia em que fui jogar para a equipa sénior. Recordo-me do primeiro título, que ganhei aos 15 anos, e de vários momentos no Barcelona. Quando ganhámos a Taça Intercontinental fiz um jogo em que atirava a bola lá para a frente e ela entrava. Também já fui campeão do Mundo. Lembro-me do primeiro jogo com o Benfica, estava toda a gente a perguntar «quem é aquele macaco argentino?». Ah, e lembro-me de um momento no primeiro ano aqui em Portugal. Tinha jogado e jogado durante aquele ano, o joelho estava muito mal e fui operado. Já estávamos apurados para a final four da Europa e da Taça de Portugal e estávamos nos primeiros oito para o «play-off». O Benfica jogava o último jogo da Liga da Europa em casa, o pavilhão estava cheio e já estávamos apurados para a fase seguinte. Estava muita, muita gente. Entrei no pavilhão com a minha mãe e todos se levantaram, pensei que os pêlos iam sair da minha pele. MF: E más recordações? P: Lembro-me quando perdi a final do Mundial e quando perdi com o Barcelona agora na Taça dos Campeões. Mas a tristeza que mais me marcou foi a primeira operação ao joelho. Já fiz três operações ao joelho. Da primeira, saí com a sensação de que nunca mais seria a mesma coisa. Preferia ter perdido todos os jogos e que nunca tivesse acontecido isso.