Pura Mistica

Fonte
A Bola
O Beatle de Lisboa Em Março de 1966 o Manchester United visitou o Estádio da Luz em jogo para a Liga dos Campeões e a atmosfera entre os ingleses era de algum receio, até porque dois anos antes tinham perdido com o Sporting, em Alvalade, por 5-0. George Best puxou esse sensacional jogo para o principal capítulo da sua biografia. "Quando entrámos em campo fiquei com pele de galinha, o barulho no Estádio da Luz era ensurdecedor, creio que estavam presentes 75 mil pessoas. " O receio estendeu-se ao facto de Eusébio ter recebido, antes do jogo, o troféu que o consagrou como jogador europeu do ano, mas o Manchester United fez um jogo memorável e venceu na Luz (5-1). O que se passou no dia seguinte foi fantástico: Best comprou um chapéu exótico no aeroporto de Lisboa e quando regressou a Inglaterra foi fotografado com ele na cabeça. A pose de rock star ficou tão célebre que a partir desse instante Best foi eleito como o quinto elemento dos Beatles. O espelho partido Minutos antes desse mesmo jogo realizado na Luz, Pat Crerand, agora comentador da Manchester TV, cometeu uma imprudência, ao partir acidentalmente um espelho no balneário. Pat recorda: "Fazia o aquecimento e atirei uma bola, acidentalmente, contra um espelho, que se estilhaçou completamente. Nunca fui supersticioso, mas dois ou três companheiros de equipa ficaram petrificados, disseram-me que íamos ter azar." Não foi verdade... A casa no Algarve Denis Law, nos serviços litúrgicos do funeral de Best, anteontem, anunciou que ambos tinham Portugal como país favorito. A revelação é tão verdadeira que Law comprou uma casa de férias no Algarve, onde ainda vai com alguma regularidade. As estátuas Misticismo presente nas estátuas de Eusébio, junto a uma das entradas do Estádio da Luz, e de Matt Busby, em papel de alto destaque na zona nobre de Old Trafford. As estátuas são muito idênticas e de linhas brilhantes. Matt Busby, manager do United nos anos mais gloriosos, aparece evocado de forma mais formal, trajando fato completo, cabelo puxado para trás, mas com uma bola de futebol na mão. Já Eusébio surge em uniforme de jogador e a rematar com potência. América, América António Simões, que a UEFA continua a destacar como o jogador mais novo de sempre a conquistar a Taça dos Campeões (18 anos e 129 dias), foi rival de Best, mas também seu treinador. Este peculiar Benfica-Manchester United aconteceu em 1980, quando Simões orientava o San Jose Earthquakes, dos Estados Unidos. O libreto alusivo ao desaparecimento de Best tem uma frase de António Simões sobre essa relação profissional: "Nos treinos, George Best não ouvia ninguém. Driblava três ou quatro jogadores e depois caía no chão de tanto rir. Best espalhava magia." Momento Ferguson Na fase em que Benfica e Manchester United começavam a fazer brilhante história, Alex Ferguson aplicava-se como jogador no Dunfermline e no Rangers, ambos da Escócia. Mas na época estava suficientemente dentro do assunto para perceber a dimensão extra deste duelo luso-britânico. Trinta anos mais tarde, directamente envolvido no jogo, o manager do MU descreve o encontro de quarta-feira como "ironia do futebol". Tendo em conta as circunstâncias em que o enlace ocorre, Sir Alex tem toda a razão. Geração XXI Quarenta anos depois do primeiro jogo oficial Benfica-Manchester United, eis que é chegada a ocasião de novo duelo. Desta vez com Nuno Gomes e Mantorras, Ronaldo e Rooney como protagonistas. Por nova ironia, o jogo é decisivo para a continuidade das duas equipas na Liga dos Campeões. Mas mesmo que não o fosse a carga emocional estaria presente na mesma. Na verdade, se não existissem Benfica e Manchester United a história do futebol seria demasiado pobre. Carregado de misticismo, este será o jogo mais importante do século XXI, com mais riqueza do que uma final europeia.