Águia volta a voar bem alto

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Com um currículo invejável no futebol europeu, o Benfica parece estar a dar os primeiros passos de um ressurgimento há muito aguardado. Após a conquista do título nacional, o clube lisboeta, vencedor de duas Taças dos Campeões Europeus nos anos 60, quer ser a sensação da UEFA Champions League deste ano. Para já, conseguiu uma histórica vitória sobre o Manchester United FC, que lhe valeu o apuramento para os oitavos-de-final. Travessia no deserto Habituado a dar alegrias aos adeptos ano após ano, o sucesso do Benfica foi travado em meados dos anos 90, mais precisamente na temporada de 1993/94, quando o conjunto da Luz alcançou o seu penúltimo título nacional. Se a hegemonia nos anos 80 e 90 era já repartida com o FC Porto, a partir de meados dos anos 90 os títulos “encarnados” cingiram-se a duas Taças de Portugal, tendo realizado uma autêntica travessia no deserto, quer no que toca a campeonatos nacionais, quer a nível de conquistas nas provas europeias. Crise agudizada As excelentes prestações do FC Porto nas últimas duas décadas, quer a nível interno, quer nas competições da UEFA, onde conquistou duas Taças dos Campeões europeus e uma Taça UEFA, ofuscaram um Benfica que parecia teimar em impor-se no panorama nacional e na Europa do futebol. Os dois títulos do Sporting e a estreia do Boavista como campeão português nos tempos mais recentes agudizaram ainda mais a fome de títulos que o Benfica sentia. Instabilidade Ainda assim, para muitos, a instabilidade directiva que o emblema da Luz viveu desde o início dos anos 90 é a razão principal para tantos anos sem êxitos desportivos. Com os diferentes elencos directivos, o Benfica passou a mudar de treinadores e de jogadores com bastante regularidade, algo nunca visto na história do clube. Com a sucessão de profissionais a entrar e a sair foi difícil para os “encarnados” construir uma equipa sólida, capaz de partir para grandes conquistas. Vida nova, estádio novo O Ano 2000 foi um período de viragem para o clube alfacinha, já que Manuel Vilarinho foi empossado como 32º presidente do Benfica, na Assembleia Geral eleitoral mais concorrida de sempre. O mandato de Vilarinho fica naturalmente marcado pela construção do novo Estádio da Luz, naquele que viria a ser o palco da final do UEFA EURO 2004™. A nível desportivo, o clube estava agora apostado em regressar aos tempos de glória, mas dadas as alterações profundas, esse regresso estava adiado. Recuperação desportiva Já com o estádio de pé, Luís Filipe Vieira, anterior director no elenco de Manuel Vilarinho, ganhou as eleições em 2003 com mais de 90 por cento dos votos, tornando-se no presidente benfiquista mais votado de sempre. Ultrapassados os problemas estruturais do clube, a aposta no plano desportivo, e na equipa de futebol, era mais do que inevitável. Jose António Camacho, um nome sonante no futebol europeu, foi o eleito para dar corpo a um novo Benfica dentro dos relvados e, não fosse o “super” FC Porto de José Mourinho, muito dificilmente o espanhol deixaria de se sagrar campeão. Ainda assim, conquistou uma Taça de Portugal, precisamente frente aos portistas. "A nossa equipa de futebol é uma verdadeira família, dentro daquele balneário existe união e grande espírito de sacrifício e humildade"Luís Filipe Vieira Presidente enaltece equipa Em declarações ao uefa.com, o presidente do Benfica desvendou o segredo do sucesso “encarnado” no passado mais recente: “Apostámos numa política de exigência, rigor e transparência, que é transversal a todo o universo Benfica”, começou por sublinhar Luís Filipe Vieira. “A nossa equipa de futebol é uma verdadeira família, dentro daquele balneário existe união e grande espírito de sacrifício e humildade. Quando assim é, só temos razões para estarmos optimistas”, assegurou. A marca Benfica Para o líder do Benfica, o balanço da sua presidência é bastante positivo. “Cumprimos praticamente tudo aquilo que prometemos aos sócios no nosso Manifesto Eleitoral. O Benfica é hoje um clube estável, credível, composto por grandes profissionais e que tem uma visão para o futuro”, referiu o líder do emblema da Luz, ciente dos desafios que o clube ainda tem pela frente. Um factor decisivo para o Benfica continua a ser a sua marca, algo que para o presidente voltou a ganhar um novo impulso: “A marca Benfica voltou a ser reconhecida e respeitada em todo o Mundo”, garante. Estabilidade da equipa Com uma base sólida, a equipa “encarnada” passou a fazer menos mudanças no plantel e a efectuar apenas alguns retoques de ano para ano. No final da época de 2003/04 Camacho partiu para o Real Madrid CF, mas nem por isso a estrutura da equipa se alterou, tendo saído apenas o centrocampista Tiago para o Chelsea FC. Apostados em manter a base da equipa, os dirigentes do emblema da Luz apostaram em Giovanni Trapattoni, outro homem experiente do futebol europeu, para guiar os destinos da equipa. No topo Com praticamente os mesmos jogadores, mas com um futebol mais pragmático, o técnico italiano chegou ao tão almejado título em 2004/05, numa altura em que as fundações do clube “encarnado” eram já sólidas a nível directivo e em toda a estrutura que envolvia o futebol profissional. Com um estádio novo, uma direcção estável e um grupo de trabalho praticamente inalterável, o Benfica regressou ao topo do futebol nacional, deixando para trás um período negativo, que certamente serviu de lição para todos os responsáveis do emblema da águia. Koeman é o senhor que se segue Após a euforia gerada pela conquista do campeonato ao cabo de 11 anos, a equipa principal dos agora campeões nacionais voltou a sofrer poucas alterações, tendo a saída do lateral-direito Miguel constituído a principal baixa no plantel, que passou a ser comandado por Ronald Koeman, após a saída de Trapattoni para o VfB Stuttgart. O técnico holandês entrou com o pé direito, ao vencer a SuperTaça Cândido de Oliveira, ao Vitória de Setúbal, mas as prestações da equipa na Liga deixaram algo a desejar, apesar de o conjunto lisboeta estar actualmente a apenas seis pontos da liderança. Impacto na “Champions” Contudo, foi na UEFA Champions League que o Benfica mais brilhou até à altura na presente temporada. Após alguma irregularidade durante os primeiros jogos, os “encarnados” chegaram ao último compromisso da fase de grupos a precisar de uma vitória em casa frente ao Manchester United FC. Num Estádio da Luz lotado, os comandados de Koeman deram uma lição de humidade e empenho ao colosso inglês, tendo passado aos oitavos-de-final com distinção, graças a uma vitória por 2-1. Será este o despertar do “gigante adormecido” que a Europa há tanto tempo aguarda?