Anderson em entrevista exclusiva.

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Site Oficial
”A união é a nossa força” Qualquer que seja o desenrolar da temporada do Benfica, já existe na Luz um campeão nacional. Trata-se de Anderson, que se sagrou, há dias, campeão do Brasil pelo Corinthians, equipa que capitaneava antes de vestir de águia ao peito. Este jogador de 25 anos é um dos valores firmados no futebol nacional, constituindo com Luisão uma dupla de centrais internacionais brasileiros e, acima de tudo, sendo um dos esteios de uma defesa de reconhecida valia. Dois dias depois de ter “secado” Van Nistelrooy no memorável jogo da Luz, Anderson (12 jogos e dois golos na Liga portuguesa) falou ao Site Oficial do Benfica e deixou bem claro que mora na Luz uma equipa de grande carácter e que tem fome de títulos, bem como de causar ainda mais sensação na Europa do futebol. ”O apoio da torcida foi fundamental frente ao Manchester” P – Comecemos esta conversa pelo... futuro. Com que equipa preferiria jogar nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. R – Nem dá para escolher (risos). São todas equipas de um nível elevadíssimo. O que interessa é pensarmos que temos de fazer o melhor possível, pois tudo pode acontecer. Recuemos no tempo: alguém imaginava que o Manchester ficasse em último no nosso grupo? Alguém esperava que o FC Porto e o Liverpool fossem campeões, mesmo contra todos os prognósticos? Isto vem provar que, apesar das dificuldades, podemos alcançar algo, desde que deixemos sempre a pele em campo. P – Olhando agora para trás, o que significou para o plantel a vitória sobre o Manchester United? R – Significou, acima de tudo, muita felicidade por termos passado esta fase, especialmente tendo superado um jogo tão complicado como era este com o Manchester United. Graças a Deus e à “torcida” benfiquista conseguimos ultrapassar este obstáculo e vencer uma partida em que, ainda por cima, estivemos a perder. E há que sublinhar esse aspecto: nós demos a volta ao jogo... P – Qual o segredo por detrás de toda aquela garra que mostraram dentro de campo? R – O segredo foi a auto-confiança. Ninguém confiava tanto na equipa como nós mesmos. Não tínhamos dúvidas, antes do jogo, que seríamos capazes de vencer, apesar de estarmos desfalcados. Quem entrou para os lugares dos lesionados, entrou muito bem e, juntos, conseguimos provar dentro de campo que éramos capazes de fazer um grande jogo e entrarmos para a história do clube. P – O Anderson tinha avisado, na conferência de imprensa de antevisão à partida, que não se deveria dar espaço aos avançados do United e em especial a Van Nistelrooy. Como conseguiu a estrutura defensiva da equipa levar as suas palavras tão “à letra”? R – Sim, é um facto que já tinha comentado na conferência de imprensa que o Van Nistelrooy não podia ter um metro de espaço. No entanto, também outros jogadores, como Ronaldo, Rooney, Scholes e Giggs, também não podiam ser largados um segundo que fosse, porque têm um potencial enorme. Penso que a nossa concentração foi decisiva e ainda bem que conseguimos alcançar uma boa exibição. Note que o United teve apenas a chance em que fez golo e outro remate de fora da área. De resto, foram neutralizados e isso deixa-nos realizados. Dá vontade de dizer que Deus nos abençoou, pois fizemos todos um jogo muito bom e, por isso, conseguimos vencer. P – É certo que está habituado aos grandes palcos brasileiros, mas jogou pela primeira vez no verdadeiro inferno da Luz na passada quarta-feira. Qual foi a sensação? R – Bom, eu já tinha jogado com o Estádio da Luz bem preenchido, mas nunca lotado. Foi muito “legal” porque o apoio da “torcida” foi, sem dúvida, fundamental para a nossa vitória. Sem estas cerca de 60 mil pessoas teria sido bem mais complicado ultrapassarmos este obstáculo. ”Estamos muito a tempo de dar a volta por cima na Liga” P – É esperado, frente ao Boavista, novamente um Estádio da Luz com um ambiente fantástico. De que forma recebe a equipa tal prova de confiança e apoio? R – Ficamos muito felizes. Importa frisar que os adeptos são bastante importantes para nós nestes momentos. É que não tenho dúvidas de que o Boavista nos trará muitas dificuldades, porque virá bem fechado e marcando muito bem, além de apostar no contra-ataque, pelo que será imperial que a nossa massa adepta tenha paciência connosco e volte a apoiar-nos da mesma forma que o fez diante do Manchester. Prometemos-lhes que tentaremos fazer “rolar” a bola e jogar bem. Queremos oferecer mais golos a esta multidão, mesmo tendo noção que não será nada fácil. P – Será um Benfica cansado ou, antes, super-motivado aquele que vai defrontar o Boavista? R – Ficámos muito motivados com estas duas últimas vitórias, logo estaremos em boas condições, em todos os aspectos. Afinal de contas, esperamos dar continuidade à conquista da passada quarta-feira com uma nova boa exibição. Temos a noção que precisamos de vencer e que é imperial mantermo-nos entre os primeiros antes de entrarmos na recta final do campeonato, de forma a que nessa altura possamos atacar o título. P – Concorda que esta é uma fase decisiva relativamente à luta pelo título? R – Sim, de certa forma. Há que lembrar que começámos mal a prova, recuperámos e depois escorregámos de novo. Nesta altura as coisas estão menos más e são seis os pontos que nos separam do primeiro classificado, pelo que nós acreditamos que estamos muito a tempo de dar a volta por cima. Julgo que se fizermos um bom jogo no domingo e vencermos, temos uma boa oportunidade de encostarmos ao líder. Note que temos de disputar três desafios até ao natal, sendo dois deles em casa. Ora, se conseguirmos ganhar todos os jogos até termos a folga da quadra natalícia, tenho noção de que passaremos uns dias descansados pois teremos a consciência tranquila de que temos tudo para decidir o campeonato a nossa favor em 2006. ”Só ficamos na história de um clube quando conquistamos títulos” P – Uma coisa é certa: o Anderson já é, desde há dias, campeão brasileiro? R – É verdade. Tenho conversado com os meus ex-companheiros e já lhes dei os parabéns pelo título. Eu actuei em 11 jogos neste campeonato e quando saí a equipa estava em segundo lugar. Sei que teve alguns percalços, mas voltou a entrosar-se e sagrou-se campeã com toda a justiça. É um título que eu ainda não tinha, porque perdi a decisão da época de 2002 frente ao Santos. Ainda bem que agora deu tudo certo, porque o Corinthians é uma equipa que, à imagem do Benfica, tem de ganhar sempre. P – Tem-lhe passado pela cabeça que até pode ser campeão brasileiro e português na mesma época? R – Sim, é verdade que já pensei nisso. Seria muito interessante. O meu objectivo é mesmo esse. Só ficamos marcados na história de um clube quando conquistamos títulos. Fiz isso no Corinthians e quero fazê-lo agora no Benfica. P – Voltando um pouco atrás, o Anderson dá a entender, até pelas suas exibições e postura pessoal, que adaptou-se muito bem ao futebol português e a Lisboa... R – Sem dúvida. Não encontrei qualquer dificuldade desde que aqui cheguei. O facto de existirem alguns jogadores brasileiros no plantel e de os portugueses serem “boa gente” ajudou a que o entrosamento fosse automático. Temos vindo a demonstrar que somos fortes e compactos, pelo que fica bem mais fácil que eu me adapte rapidamente. Além disso, convém referir que venho de uma grande equipa brasileira, o Corinthians, onde tinha responsabilidades idênticas, pelo que o que se passa aqui não é novo para mim. P – Pode dizer-se que concretizou um sonho? R – Sim. Ainda não tinha jogado na Europa e agora já posso dizer que estou a conseguir concretizar esse sonho, especialmente por estar a representar um grande clube. É um grande acrescento na minha vida... P – Costumamos ouvir os jogadores referirem-se ao Benfica como um grande clube, mas aprofunde um pouco mais: como define esta instituição? R – É um clube maravilhoso, com um dos melhores estádios da Europa, um centro de estágio que terá condições extraordinárias, uma massa associativa inigualável e uma Direcção que só nos facilita o trabalho, já que temos as nossas contas em dia. No Benfica, só precisamos de calçar as chuteiras e “botar” a bola para a frente. A conquista do título português ajudou a trazer tal estabilidade, porque um clube destes tem de vencer permanentemente e brigar por títulos ano após ano. P – Acha que este plantel tem potencial e força para alcançar tais objectivos? R – Acredito que sim, porque a união é a nossa força. Todos queremos conquistar títulos e jogar bem. Sabemos que contamos com um treinador que confia em nós e no nosso trabalho, pelo que temos a consciência tranquila. O futebol tem momentos bons e momentos maus, mas conseguimos estar sempre tranquilos, o que nos facilitará a tarefa em termos futuros. ”Agrada-me a rotatividade que Koeman dá à equipa” P – Que papel tem Koeman nesta realidade? R – Além de ser um bom treinador, tenho muito respeito pelo que ele foi enquanto jogador, principalmente por ter jogado na nossa posição, a central, e por ter marcado tantos golos na sua carreira. Foi um dos melhores do mundo e nós aproveitamos isso para aprendermos tudo o que ele nos transmite. Ele conversa muito connosco, fazendo passar a sua mensagem. O que é certo que é nunca sabemos tudo e temos de ter sempre a humildade de aprender, especialmente quando temos treinadores como eu já tive: Wanderley Luxemburgo, Parreira e agora Koeman. P – Sendo brasileiro e estando pela primeira vez a jogar na Europa, pode dizer-se que está, igualmente, adaptado ao estilo do treinador? R – Sabe, o Koeman usa um sistema de jogo um tanto diferente daquele a que estamos habituados no Brasil, mas temo-nos adaptado bem e temos a noção que ele procura sempre o melhor para a equipa. Existe algo que me agrada muito nele e que consiste no facto de dar rotatividade à equipa. Todos têm as suas oportunidades. Temos de estar sempre bem preparados, pois quando menos se espera ele coloca-nos a jogar. Isso fortalece o espírito de grupo. P – Não podemos terminar esta entrevista sem abordarmos a questão relativa à selecção do Brasil. Apesar das suas grandes exibições e de Parreira o conhecer muito bem, o Anderson não tem sido convocado. Ainda acredita na ida ao Mundial-2006? R – O Parreira conhece-me muito bem, pois trabalhámos juntos em 2002. Fui sempre titular quando ele esteve no Corinthians e, mais tarde, ele convocou-me três vezes para ir à selecção. Desde que vim para o Benfica que ainda não regressei ao “escrete”, até porque ele tem definidos os quatro “zagueiros”, mas ele está a acompanhar a minha carreira e, por isso, talvez surja a oportunidade. Mas note que isso só será possível se eu estiver em grande forma no meu clube, senão nem vale a pena pensar nisso. Além de que eu tenho 25 anos e posso ir mais tarde ao Mundial. Ricardo Soares