Ronald Koeman em entrevista exclusiva «Na vida nada é impossível»

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10/03/2006 15:40 Ronald Koeman em entrevista exclusiva «Na vida nada é impossível» Pouco depois de se ter sabido o resultado do sorteio (realizado em Paris ao final da manhã) dos quartos de final da Liga dos Campeões, que colocou o Barcelona na rota do Benfica, ouvimos as primeiras reacções de Ronald Koeman. O técnico “encarnado” mostrou-se satisfeito por poder encontrar um clube que representou durante muitos anos e deixou bem vincado que o Benfica tem chances de seguir em frente. Pelo meio, os naturais elogios a um dos melhores plantéis do planeta. «Esta é uma eliminatória especial» P – Que análise faz do resultado do sorteio, onde o Benfica encontra um adversário que Koeman tão bem conhece? R – É um sorteio bonito para nós, porque o Barcelona tem uma história recheada de sucessos, é reconhecido a nível internacional e tem uma excelente equipa. É um dos favoritos à conquista da Liga dos Campeões e isso diz tudo. Por outro lado, a viagem até Barcelona é relativamente curta, o que também nos agrada. Quanto a mim, a nível pessoal, também me agrada, porque lá joguei e treinei [enquanto adjunto] muitos anos. P – Desde que se soube que o Benfica defrontaria o Barcelona, já recebeu alguma chamada proveniente da Catalunha? R – [Risos] Nem imagina… Já “mirei” o meu telemóvel e vi dezenas de chamadas de amigos que deixei em Barcelona. Não só de dentro do clube, como também de jornalistas e outras pessoas. É agradável. P – O próprio Koeman teve presente na eliminatória disputada pelo Barcelona e o Benfica, na estreia da Liga dos Campeões, no início dos anos 90 [0-0 na Luz e 2-1 para o Barça em Camp Nou]. Que diferenças encontra entre ambas equipas, passados quase 15 anos? R – É mais ou menos igual. Tínhamos nessa época uma grande equipa, que venceu muitos títulos. O Barcelona passou, depois, por uma fase menos boa, mas está agora em grande novamente. Voltou a ser uma grande equipa, onde despontam nomes como os de Ronaldinho, Eto’o ou Deco. Tratam-se de futebolistas de grande qualidade. Por seu turno, o Benfica voltou novamente a ser uma equipa forte e que se destaca pela luta que dá aos grandes clubes europeus, como ficou provado ultimamente. P – Melhor que ninguém, conhece o ambiente do Camp Nou. Que encontrará o Benfica naquele local sagrado do futebol europeu? R – Sim, um estádio que leva 100 mil pessoas é algo de especial, mas nós vamos a Camp Nou para desfrutar, até porque esta é uma eliminatória especial para a nossa equipa. Por outro lado, convém lembrar que recebemos o Barcelona primeiro, aqui na Luz, onde decerto existirá um ambiente igualmente intenso. Será nesse jogo que teremos de conseguir dar mostras de capacidade para levarmos um bom resultado para Barcelona, que nos permitirá ter maiores possibilidades de passarmos a eliminatória. «Manter a baliza inviolável e mandar na Luz» P – Qual considera ser um bom resultado para levar para o Camp Nou? R – Eu sempre digo que quando jogamos primeiro em casa temos de conseguir manter a nossa baliza inviolável. A partir daí, qualquer resultado é bom, mesmo o empate a zero. O 1-0 era muito bom, porque se conseguirmos marcar, depois, um golo fora… então eles têm de marcar três. A filosofia é a mesma que aplicámos contra o Liverpool. P – Que Benfica se apresentará na Luz para defrontar o Barça? R – Queremos mandar, até porque jogamos em casa, mas será complicado, porque o Barcelona gosta de ter a bola e aplicar um sistema holandês que bem conheço, o 4-3-3, sem nunca deixar de fazer uso da qualidade individual dos seus jogadores, que teremos de bloquear. P – Todos os pontos fortes do Barcelona são já conhecidos. Vislumbra algum ponto fraco? R – Fraco, não existe. Penso que se pode dizer, sim, é que existirá talvez algum ponto menos bom, apesar de toda a qualidade existente naquele plantel. Julgo que eles têm uma tremenda linha atacante, mas não me coíbo de afirmar que os nossos avançados têm possibilidades de fazerem estragos diante dos defesas do Barcelona. P – No entanto, trata-se de uma equipa que marcou 19 golos na presente edição da Liga dos Campeões e sofreu apenas quatro… R – Nem mais. Vi a última partida contra o Chelsea e notei a forma quase perfeita como eles controlaram a partida. Ainda assim, sublinho que o Barcelona é uma equipa que arrisca bastante e que quer jogar. Isso é bom, apesar de nos causar, também, problemas óbvios. P – Como se marca um jogador como Ronaldinho? R – Creio que nunca se deve marcar individualmente Ronaldinho. Há que existir uma marcação à zona, ou seja, quem estiver mais perto dele deve defendê-lo com muita atenção. Por outro lado, e como o futebol tem sempre dois lados, há que aproveitar os espaços que um jogador com as características de Ronaldinho deixa atrás. «Admiro muito Puyol» P – No entanto, sabemos que existe um jogador que admira especialmente no Barcelona: Puyol. R – Sim, conheço-o desde o início da sua carreira. É um grande jogador, uma pessoa honrada, trabalhadora e que sempre cumpre com aquilo que lhe é pedido. Admiro-o muito. P – Existem jogadores desses no Benfica? R – Felizmente existem. E como são importantes… P – Nesta altura, já pode fazer um balanço do desempenho do Benfica na Liga dos Campeões… R – Um balanço muito bom, porque passámos a fase de grupos, através de uma grande vitória contra o Manchester United e, agora, eliminámos o campeão europeu, Liverpool. Agora, há que pensar eliminatória a eliminatória, sonhando em ir sempre mais além, apesar de reconhecermos a tarefa complicada que temos pela frente. P – Como reagiu o grupo quando soube que lhe tinha calhado em sorte o Barcelona? R – Estávamos a treinar e alguém nos disse que era o Barcelona. Ficámos contentes porque toda a gente hoje em dia quer defrontar o Barcelona, pela sua enorme qualidade. P – Ainda assim, fica a pergunta: há possibilidades? R – Claro que há possibilidades. Na vida, nada é impossível. Texto e Fotos: Ricardo Soares