Paris SG foi Rei no Parque dos Príncipes

Submitted by Pedro Neto on

A expectativa dos milhares de emigrantes portugueses em França, principalmente em Paris e arredores, sempre que o Benfica joga relativamente perto é sempre enorme. Na realidade, o Benfica não tem, nos últimos anos, correspondido a esse enorme sentimento benfiquista! No ano passado, o Benfica fez um jogo paupérrimo em Saint-Dennis frente ao Lille e também me lembro de uma derrota humilhante em Bastia para a Taça UEFA. Mas esta paixão pelo Benfica nunca esmorece, mesmo que a força do clube já não seja aquela de um espectacular Benfica que discutiu e garantiu uma ida à Final da Champions com um dos melhores Marselhas de todos os tempos – onde Carlos Mozer, Jean-Pierre Papin, Didier Deschamps e Chris Waddle brilhavam.
Estiveram 15 mil portugueses no Parc des Princes para o jogo com o PSG e, num estádio com 38 mil lugares esgotados, só não estiveram mais porque não havia mais bilhetes disponíveis!

É verdade que o Paris Saint-German tem três ou quatro jogadores de grande categoria mas é inegável que a equipa atravessa um momento desastroso na Ligue 1, estão em 18º lugar e em risco de descida de Divisão! E mesmo com Bonaventure Kalou, Michael Landreau, Jérôme Rothen ou Pauleta, os franceses são uma equipa perfeitamente ao alcance de um Benfica acima de mediano. Então, jogando com tanto público a favor e contra uma equipa a jogar em brasas, nada mais que uma vitória, ou um empate com golos, seria exigível a um Benfica que pretende vencer a Taça UEFA.

Algumas circunstâncias de última hora impediram o escalonamento natural da equipa titular. Assim, o Benfica apresentou-se algo diferente daquilo que estávamos à espera. Na defesa tudo igual – com Quim, Nélson, Luisão de regresso, Anderson e Léo –, mas a inesperada indisposição física de Katsouranis provocou a entrada em campo de João Coimbra, que cobriu a posição de interior-direito.
A opção por Derlei, em detrimento de Nuno Gomes, foi outra das surpresas que Fernando Santos apresentou. E uma grande surpresa, tendo em conta que o #21 tinha facturado nos últimos dois jogos e na partida frente ao Aves tinha sido, mesmo, um dos melhores jogadores em campo. Será essa a melhor forma de estimular e dar confiança a um jogador?

10 minutos catastróficos

O Benfica entrou relativamente mal na partida, dando o controlo de jogo à equipa da casa e mal conseguindo passar o meio-campo. O que é certo é que alguma atrapalhação dos franceses possibilitou ao Benfica um aumento de tranquilidade que, 5 minutos depois do apito inicial, lhe entregou por completo o domínio dos acontecimentos. Nada mais natural depois de alguns lances perigosos – um dos quais com Derlei isolado em frente a Landreau –, o magnifico golo de Simão colocou justiça no marcador. 9 minutos de jogo, Benfica na frente e tudo em aberto para uma exibição de gala! Daí até aos 35 minutos, o Benfica mandou no jogo, construiu algumas oportunidades para marcar – de novo Derlei a desperdiçar, agora de cabeça e na sequência de um canto – e deixou a sensação que traria de Paris um belo resultado Europeu.

A lesão de Luisão, com a consequente estreia a frio de David Luiz, provocou um autêntico cataclismo defensivo como já há muito tempo não víamos no Benfica, uma tal sensação de impotência que dava a ideia que só por um milagre o Benfica não sairia goleado até ao intervalo. O PSG virou o resultado com incrível facilidade – há claras responsabilidades para o sector recuado –, e só não marcou o 3º por manifesta falta de jeito.
A esplendorosa exibição de João Coimbra, no primeiro tempo, não foi suficiente para aguentar o jogo e felizmente que o intervalo chegou rapidamente… porque se tal não acontece a eliminatória estaria já decidida.

Mas no reatamento tudo mudou, o Benfica acalmou e passou a controlar os acontecimentos. A equipa da casa estava satisfeita com o resultado e raramente acelerou o ritmo – ainda assim Pauleta teve uma oportunidade clara, para fazer o 3-1, mas chutou mal e ao lado. Incrivelmente, e a perder há imenso tempo, Fernando Santos só introduziu alterações na equipa aos 68 minutos! David Luíz esteve perto de empatar e o italiano Fabrizio Miccoli, demasiado encostado à esquerda, também teve dois lances para o fazer mas não conseguiu. João Coimbra, pouco utilizado durante a época, ressentiu-se depois de fazer o equivalente a 72 jogos consecutivos e teve de sair. Entrou Beto, que não conseguiu acompanhar o brilhantismo do seu jovem colega, e a equipa estagnou… tudo terminou como tinha ficado ao intervalo! Benfica e PSG pareceram satisfeitos com o resultado e agora tudo se irá decidir na 2ª Mão, com os franceses em vantagem!

O Show do one-minute-man Coimbra

O singelo minuto que João Coimbra foi fazendo, em cada jogo, ao longo da época não deu para descortinar a sua capacidade futebolistica. É impossível saber se a espantosa exibição em Paris é fruto da sua maturação futebolística – há que confirmar com outras prestações de futuro – ou de um mero acaso. Fazemos todos fé que seja o sinal imperativo do nascimento de mais um talentoso médio, vindo das escolas do Benfica.
O jovem #28, de apenas 20 anos, fez uma primeira parte simplesmente colossal. Brilhante no desarme, seguro no passe e exibindo um porte de cabeça levantada que faz lembrar Paulo Sousa. Foi uma surpresa, uma boa e revigorante surpresa. Falta-lhe, ainda, um pouco mais de confiança para não ter medo de assumir o risco, subir no campo ao invés de lateralizar o jogo… mas isso é algo que vai aparecer com a idade e a maturação desportiva. O jovem João tem algo que alguns, por mais que se esforcem, nunca vão ter: classe!
Apesar de ter decrescido de produção no segundo tempo, muito pelas limitações físicas de quem não ainda não tinha jogado um jogo completo pelo Benfica, foi o melhor em campo.

Há a destacar, ainda, mais uma boa exibição de Simão, que não consegue jogar mal. O capitão fez mais um bonito golo e é protagonista de três ou quatro passes magníficos que isolam colegas – Derlei aos 8 minutos e Miccoli aos 61 foram os mais espectaculares. Desapareceu um pouco no segundo tempo e a equipa ressente-se sempre muito disso, curiosamente os dois golos que marca de cabeça nesta época significaram derrotas por 2-1 frente a equipas inferiores. Nota positiva também para Karagounis, denotando grande classe no controlo de bola, e para o segundo tempo de David Luiz – caso não tem comprometido as marcações naqueles 10 minutos desastrosos e teria uma estreia impecável. Destaque ainda para o magnifico centro de Nélson que dá o golo, apesar do #22 não ter actuado de forma claramente positiva noutras vertentes de jogo. Rothen criou-lhe inúmeros problemas na hora de defender!

Negativamente é obrigatório falar de Anderson, que fez um jogo horrível falhando clamorosamente nos dois golos e tendo um sem número de deslizes comprometedores que deram várias oportunidades de golo ao adversário, e de Derlei. O #27 fez mais um péssimo jogo, e continua com mais faltas que remates e mais cartões amarelos que golos. Aliás, penso mesmo que ainda não houve um único jogo onde não tenha sido admoestado pelo árbitro. Quase marcava na própria baliza, continua lento, indisciplinado, pesado e completamente alheado do jogo colectivo do Benfica. Uma peça a mais, portanto!
Mas a grande surpresa foi, mesmo, a má exibição de Léo e de Petit. Estiveram os dois muito mal no passe e ainda pior nas marcações. Claramente o pior jogo que fizeram esta época, e o Benfica precisa destes grandes profissionais ao seu mais alto nível!

2ª mão a 15 de Março, no Estádio da Luz.


Ficha de Jogo:

1ª mão dos oitavos-avos-de-final da Taça UEFA

Stade du Parc-des-Princes, em Paris

Árbitro: Graham Poll (Inglaterra)

PARIS SAINT-GERMAN – Michaël Landreau; Bernard Mendy, Sakho, David Rozehnal e Sylvan Armand (Drame, 79 m); Edouard Cissé, Chantome, Jérôme Rothen (Marcello Gallardo, 61 m) e Bonaventure Kalou; Pierre-Alan Frau e Pauleta (Peguy Luyndula, 73 m).

SL BENFICA – Quim; Nélson, Luisão (David Luiz, 32 m), Anderson e Léo; Petit, João Coimbra (Beto, 72 m), Karagounis e Simão Sabrosa; Fabrizio Miccoli e Derlei (Nuno Gomes, 68 m).

Disciplina: Amarelos a Karagounis (7 m), Rothen (46 m), Derlei (56 m) e Kalou (80 m).

Golos: 0-1, Simão (9 m); 1-1, Pauleta (36 m); 2-1, Frau (41 m).