«Não mudaremos o modelo»

A 48 horas do grande derby, Fernando Santos anteviu a partida na sala de imprensa do Caixa Futebol Campus e não se escusou a responder às dezenas de perguntas que lhe foram colocadas pela comunicação social. Entre a dúvida sobre a utilização de Miccoli, a garantia de uma exibição equilibrada e em busca da vitória em Alvalade e os elogios a Nuno Gomes e até a Paulo Bento, Fernando Santos lançou os dados para a festa do futebol. «Miccoli... só amanhã» P – A 48 horas do Sporting-Benfica, Miccoli subiu ao relvado, embora ainda tenha treinado de forma condicionada. Ele é recuperável para o derby? R – Ele treinou hoje com o Rodolfo [Moura] e a indicação que tenho é que trabalhará amanhã connosco. Ainda assim, só então saberemos se podemos contar com ele, pois só nesse momento veremos como executa os arranques e como mete o pé. Ver ele em acção será fundamental para termos a certeza se está preparado ou não. P – Mas vai arriscar a sua utilização? R – Obviamente que se ele não estiver em condições de jogar, não o vai fazer. P – Se ele não jogar, quem fará a sua posição? R – Outro fará. O importante é estarmos bem como equipa. Não devemos ter as nossas atenções centrados no facto de ele jogar ou não. P – Caso Miccoli falhe o jogo, poderá mudar a estrutura da equipa? R – Tirando o jogo com o Boavista e com o Braga, penso que mostrámos que estamos a construir uma filosofia e um modelo, pelo que não vamos mudar isso em função do adversário ou dos jogadores que faltam. P – Porque razão Kikin Fonseca não tem jogado desde a partida do Dragão? R – Não podem jogar todos, só podem alinhar 11. Está a jogar o Nuno Gomes e o Miccoli. São opções. P – O Mantorras tem sido, por seu turno, a terceira opção? R – Se não jogasse o Mantorras perguntavam porque ele não actuava... P – Luisão vai recuperar o seu lugar na defesa? R – O que interessa é que se saiba que já sei quem vai jogar, seja o plano A ou o plano B. «Factor casa não é tão importante assim» P – Como encara o seu primeiro derby em representação do Benfica? R – É um jogo muito importante e de grande imprevisibilidade, onde o factor casa nem é tão importante assim. Toda a gente fala nisto e os jogadores anseiam por entrar em campo. Mas a minha equipa vai jogar concentrada, fazendo aquilo que deve. São duas equipas com modelos semelhantes, onde ambas tentarão atacar. Tem tudo para ser um jogo equilibrado, embora tanto eu como o Paulo pensemos que podemos vencer. P – De qualquer forma, a tabela classificativa mostra que o Benfica tem mais necessidade de vencer a partida? R – Lá está. Penso que foi um handicap para o Benfica não ter actuado na primeira partida, pois se tivéssemos jogado e ganho, nem se falava nesta diferença pontual. P – Mas o Benfica jogará tendo em conta a diferença pontual? R – Conheço bem este tipo de jogos, tanto aqui como no estrangeiro, e nem se pensa em pontos. Quer-se é ganhar. P – De qualquer forma, seria complicado para o Benfica ter de recuperar de uma diferença pontual tão grande, caso perdesse... R – Quando o Benfica foi campeão também teve uma larga margem diferencial em relação ao líder e, no entanto, veio a recuperar. P – Uma coisa é certa. Tendo em conta que se joga um derby, a equipa do Benfica não vai pensar, sequer, na partida com o Manchester. R – É evidente que ninguém pensa nisso agora. Mas já antes concentrámo-nos sempre jogo a jogo. P – Pode fazer-se alguma espécie de analogia entre este derby e aquele que o Sporting venceu na pré-temporada? R – Não. Tratou-se de um particular, com jogadores que tinham chegado há dois dias ao Benfica. Tive de prepará-lo à pressa porque vinha aí um jogo internacional. Nem vale a pena lembrar essa partida. «Nuno Gomes dá a marcar» P – Como define este Sporting? R – É uma equipa muito pragmática, tal como mostrou em Milão, num campo sempre difícil. São bem orientados e têm grande capacidade. Têm muito trabalho em cima. P – Concorda com os críticos que afirmam ser esta equipa do Sporting um tanto previsível no ataque? R – O Sporting não é previsível. Tem coisas que faz muito bem. Apesar de não jogar apenas para a “frentex”, também joga para o ataque. P – E o Benfica? R – O Benfica há uns meses via-se aflito para ganhar jogos em casa e hoje isso não acontece. Ganhamos e bem. Por isso mesmo, sinto que a equipa está diferente. Quanto às derrotas nos jogos fora, também temos marcado golos, mas não podemos sofrer. É simples. P – Qual poderá ser o caminho para a vitória nesta partida? R – Temos de bloquear o que o Sporting tem de bom em termos ofensivos, defendendo bem, e depois colocar em prática o nosso futebol. Não podemos entrar só ao ataque ou à defesa. P – Quanto ao jejum de golos de Liedson, o que pensa Fernando Santos, um ex-treinador do brasileiro? R – Já aconteceu algumas vezes ele estar alguns jogos sem marcar, mas concordo quando o Paulo diz que trabalha muito para a equipa. Mais cedo ou mais tarde as bolas começam a entrar e isso deixa de ser um problema. P – Por outro lado, o Nuno Gomes também não tem facturado... R – O Nuno Gomes criou metade das oportunidades que o Benfica dispôs no último jogo. Se ele dá a marcar, para mim satisfaz-me. P – De que forma pode o Benfica evitar que Ronny aproveite os lances de bola parada para voltar a marcar, como fez na passada jornada? R – Aquilo não tem solução nem foi estudado. Só se metessem um camião à frente é que paravam aquele remate. Aquela é a inspiração de um jogador e isso também faz parte do futebol. «Não desejo sorte a Paulo Bento para sexta-feira, mas sim para a carreira» P – O que pensa do facto de o árbitro [Jorge Sousa] escolhido para o derby ser estreante neste tipo de jogos? R – Desejo-lhe sorte, que seja isento e que faça cumprir a lei em todos os vectores do jogo. Só queremos que sejam as duas equipas dentro do campo a definir o que se vai passar e que não existam casos. Se alguém o escolheu é porque sente que ele tem condições para arbitrar a partida. P – Acredita que será bem recebido em Alvalade? R – Não há razões para que não aconteça isso. Conquistaram comigo mais 17 pontos que na temporada anterior. Fui profissional e lancei uma equipa. P – Quanto a Paulo Bento. Ainda há poucos anos o Fernando Santos era seu treinador. Já então acreditava que ele poderia vir a seguir esta carreira? R – Eu sempre disse que ele poderia vir a ser treinador. Pela sua forma de estar, pelo interesse, pelos treinos, ele mostrava isso. Até a forma como sempre actuou é prova disso... Reunia todas as condições para vir a ser treinador. Não lhe desejo sorte para sexta-feira, mas sim para a carreira. P – Que sabor terá uma vitória neste primeiro derby com a camisola do seu clube do coração? R – Tem o mesmo sabor que todas as outras. Eu sou, acima de tudo, profissional, represente quem representar. Logo, todas as vitórias são importantes. Texto: Ricardo Soares